Sim. Ouvir é diferente de escutar. Ouvir é um mecanismo passivo e escutar é um mecanismo ativo e para que aconteça uma compreensão de fala satisfatória é importante que a “engrenagem” da compreensão de fala esteja em perfeito funcionamento.
Essa “engrenagem” é dividida em três partes. O primeiro é o sistema periférico, que é a parte da entrada do som, onde acontece a audibilidade, não podendo ter nada que atrapalhe o caminho do som, não pode haver nenhum tipo de lesão auditiva. A segunda parte da engrenagem é a do sistema central, no qual acontece o processamento do som, é o que o cérebro faz com o som que as orelhas estão enviando para cima. É ali que vai acontecer uma integração do som, uma separação do som, diferenciação do som, ou seja, é o processamento auditivo acontecendo. A terceira parte são as funções superiores que são a atenção, memória e linguagem. Essa engrenagem tem que estar em perfeita harmonia para que exista uma perfeita compreensão de fala.
E se essa engrenagem estiver em desarmonia se inicia comportamentos muito desagradáveis que são os aspectos psicossociais, ou seja, a pessoa começa a se isolar, evita situações de fala, finge que entendeu, acha que é sempre o outro quem está falando baixo dificultando seu entendimento, ou fala rápido demais, ou seja, a culpa sempre é do outro.
Imaginemos uma situação: em um açougue de esquina (muito barulho externo dos carros na avenida), um atendente de 60 anos usando máscara (provavelmente pela idade já tenha algum grau de alteração auditiva) e um cliente também de máscara de 70 anos, com muita dificuldade de compreensão, solicitando seu pedido… Muito provavelmente esta “engrenagem” estará alterada em todas as partes, pois dificilmente a comunicação acontecerá de forma eficiente neste ambiente ruidoso, com habilidades auditivas alteradas, com o uso de máscara dificultando uma necessária leitura labial para indivíduos com perda auditiva.
O fato é que não podemos deixar de usar máscaras. Mas há como minimizarmos os efeitos do uso dela:
– Use gestos ao se comunicar;
– Fale pausadamente;
– Preferencialmente fale em ambiente silencioso e usando entonação na voz;
– Articule bem as palavras, a máscara não impede a abertura da boca para se comunicar;
– Chame a atenção do ouvinte antes de iniciar uma conversa.
E quando esta “engrenagem” estiver desarticulada, saiba que tudo isso tem solução e o nome disso é reabilitação auditiva. Procure seu médico otorrinolaringologista e uma fonoaudióloga e se informe sobre isso.
E lembre-se: quanto mais cedo o diagnóstico e a reabilitação forem realizados, maiores serão as chances de sucesso no tratamento.
Vanessa Moraes é audiologista- @fonovanessamoraes