Salvar a economia e preservar vidas

Lucas Perrone

Lucas Perrone

Salvar a economia e preservar vidas

As previsões mais pessimistas sobre a Covid-19 estão se confirmando também em Mato Grosso e em Rondonópolis. Errou quem imaginava que a Pandemia não teria aqui a mesma intensidade vista em outros estados e cidades. Os números de contaminados e de mortes crescem de forma vertiginosa e, com eles, a percepção de que precisamos adotar medidas mais rigorosas para conter o avanço da doença. O problema é que estas medidas enfrentam dois adversários poderosos: a desorientação do Poder Público e a resistência dos empresários.

No caso do Poder Público a origem do problema está claramente no negacionismo adotado pelo Governo Federal – que ainda hoje duvida da gravidade da Pandemia e adia ações visando amparar pessoas e empresas (ou, na linguagem de alguns, CPFs e CNPJs). Além de não investir na rede de Saúde (ampliar e treinar equipes, adquirir equipamentos e materiais, prover testagem em massa etc.), o Governo Bolsonaro dificulta o acesso aos auxílios destinados aos cidadãos (milhões não receberam ainda nem uma parcela do benefício emergencial). Na mesma toada vão as linhas de financiamento criadas para empresas, que até agora não atingiram sequer 10% das metas anunciadas. A exceção são os bancos, que receberam em prazo recorde mais de R$ 1,2 trilhões (um trilhão e duzentos e dezesseis bilhões de reais, para ser mais exato).

Já a resistência dos empresários tem origem nas perdas óbvias decorrentes das restrições ao funcionamento das empresas e à circulação de pessoas. Como pagar funcionários e fornecedores, quitar impostos, saldar financiamentos e manter o negócio sem abrir as portas? Como lidar com o sumiço dos clientes e a queda abrupta nas vendas? Diante do risco quase certo de falir, muitos preferem se submeter à ‘roleta russa’ da Covid – torcendo para não estar entre os cerca de 3 % de brasileiros que acabam morrendo após contraírem a doença. O problema é que, além de macabro, este raciocínio tem premissas falsas e descarta alternativas.

De início é preciso lembrar que os problemas econômicos que enfrentamos não são decorrentes do isolamento/distanciamento social. Estas são medidas visando conter a causa real, que é a Covid-19. Sem vacinas ou remédios eficazes, as autoridades da saúde fazem estas recomendações como forma de desacelerar as contaminações. Objetivam evitar sobrecargas nas unidades de saúde e dar tempo para que os cientistas formulem alguma solução.

Com ou sem isolamento, com ou sem lockdown, a crise econômica é inevitável. E quanto pior forem as ações para controlar a doença, maior será a crise e também a dificuldade para recuperar os prejuízos materiais decorrentes da pandemia. Ou seja, ao invés de ignorar as orientações da Saúde deveríamos é discutir como cumpri-las, reduzindo ao máximo os efeitos negativos na economia. E aí o papel dos empresários e suas entidades representativas é fundamental.

Oferecer máscaras e álcool gel nas empresas é bom, mas insuficiente. Precisamos de testagem em massa (e frequente) dos trabalhadores, melhorar as condições do transporte público, ampliar quando possível o ‘home-office’ e principalmente investir no comércio online.  Esta última medida tem sido ignorada, apesar de ser fundamental para a manutenção das empresas no ‘novo normal’ que se anuncia no pós-pandemia.

Em Rondonópolis, por exemplo, menos de 10% das empresas têm plataformas para vendas na internet. Um número ainda menor dispõe de serviços de entrega e pouquíssimas promovem ações visando orientar o consumidor sobre as vantagens das compras online – modalidade de negócio que mais cresce no mundo.

Também seria interessante franquear o acesso à internet nas imediações das lojas e supermercados, permitindo que o cidadão possa fazer suas compras sem sair do carro. Estaciona, acessa o site da empresa, escolhe o que quer, paga e aguarda a entrega dos produtos no próprio carro ou em casa. Simples, rápido e seguro.

É claro que estas medidas exigirão mudanças de comportamento e terão custos financeiros. Afinal, ninguém sairá de uma crise como esta incólume. Mas o preço pode ser relativamente pequeno se houver uma ação conjunta. E, repito, além dos efeitos positivos no combate à Covid-19 estes investimentos também vão melhorar o desempenho presente e futuro das empresas.

Nesse sentido é preciso reconhecer que, ao invés de fazer coro com os negacionistas da ciência, as entidades que representam os setores produtivos (comércio, indústria, agricultura, serviços etc.) deveriam auxiliar seus filiados nesse projeto de modernização e buscar o aporte econômico e logístico para implementar as mudanças.

Espera-se, então, que estas entidades cobrem com vigor do Poder Público e das instituições de crédito o apoio (financeiro, sanitário e tributário) para trabalhadores/consumidores e empresários/vendedores. Vale dizer que se o governo tratar quem trabalha e produz com a mesma generosidade vista no socorro aos bancos já teremos solucionado o problema dos custos econômicos.

Enfim, não há como evitar as perdas causadas pela Covid-19. Mas juntos, agindo com transparência e tendo a preservação das vidas como prioridade, podemos amenizar os efeitos negativos e preparar as bases para reanimar a Economia quando a pandemia passar. E ela vai passar.

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