O técnico brasileiro de futebol com mais troféus na história

Mauro Horita/CBF

O técnico brasileiro de futebol com mais troféus na história

Algumas histórias são, de fato, muito especiais. Imaginem um dia no calendário, imaginem que neste dia, em uma determinada cidade, nasceria um bebê que treinaria o clube de futebol local, e que, junto com esse clube conquistaram todos os títulos possíveis. Imaginou? Não acreditou? Pois é, trata-se da mais genuína verdade.

No dia 22 de fevereiro de 1922, ano da excepcional Semana de Arte Moderna, nasce em Santos, litoral paulista, Luís Alonso Pérez, que décadas mais tarde entraria para a história como Lula, o treinador do mais incrível esquadrão de futebol já formado, Santos Futebol Clube.

Curiosamente, Lula não começou no Santos, deu início à sua carreira como futebolista no Departamento Amador da Portuguesa Santista, e como jogador sempre foi um atleta mediano, embora disciplinado e muito observador. Aliás, tais características foram fundamentais na sua formação e na execução do seu trabalho como treinador.

Não se sabe muito bem como se deu a conversa, mas ocorre que, em 1954, ano do quarto centenário da capital paulista e do célebre título do Corinthians, o então vice-presidente do Santos, Aristóteles Ferreira, fez o convite inusitado para Lula tornar-se treinador do clube. Digamos que Lula sequer pestanejou e, de pronto, aceitou. Contrato assinado, elenco devidamente apresentado, um ou dois treinos e a estreia oficial contra o Botafogo do Rio de Janeiro em pleno Maracanã; vitória santista por 3 a 2, e acreditem, a primeira vitória do clube praiano no estádio carioca. Lendas nascem assim, como se um caliente MX surgisse do nada. 

Quando falamos de treinador de futebol, falamos daquele indivíduo que identifica quem, como e quando ocupar um espaço, nos referimos àquela pessoa capaz de observar caraterísticas que nem mesmo o atleta sabia possuir, aquele sujeito que sabe reunir individualidades e transformá-las em um coletivo. Há de se ter conhecimento técnico, humano e muito, mas muito talento mesmo. A história de que Lula jogava as camisas para alto e pronto, o time estava escalado é, além de fantasiosa, uma grande injustiça.

No Brasil temos inúmeros treinadores que se destacaram e continuam se destacando, seja treinando clubes, seja à frente de seleções ao longo de suas carreiras, e se há algo em comum entre os treinadores de destaque, é justamente a capacidade de identificar os verdadeiros talentos em um jogador. Lula foi o responsável pelo lançamento de vários craques, tais como os ídolos santistas  Pagão, Pepe, Coutinho, Del Vecchio, Clodoaldo e um tal Edson, mais conhecido como Pelé, entre outros. Aí alguém pode dizer, fácil lançar craques assim, mas identificá-los e trabalhar suas principais características, isso é para poucos.

São muitas as vezes em que um treinador não consegue fazer das estrelas de seu time um coletivo que, de fato, pratique um bom jogo. O treinador deve estar muito atento às características de seus jogadores para deles extrair todo o potencial; Lula, foi um mestre nisso, tinha um olho clínico para formar seu time. Lula foi treinador do Santos Futebol Clube de 5 de junho de 1954 a 19 de dezembro de 1966, há mais de doze anos. 

E não pensem que Lula não olhava para os seus comandados buscando neles algo a mais, como no caso de José Ely de Miranda, o Zito, Zito jogou no Santos de 1952 a 1967, era o gerente de Lula em campo, tanto que tinha do treinador o aval para mudar o modo de jogo sempre que assim se exigisse. 

Pois bem, à frente do Santos foram 949 jogos com impressionantes 771 vitórias, um aproveitamento superior a 80%. Lula é recordista brasileiro em títulos, 38, por extenso, para ficar bem claro, trinta e oito canecos pelo Santos, destacando-se cinco campeonatos brasileiros consecutivos, 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965, um recorde, oito conquistas no campeonato paulista, quatro Torneios Rio-São Paulo, duas Libertadores da América, em 1962 e 1963, e dois títulos mundiais interclubes. Inúmeras excursões e torneios internacionais, fizeram de Lula um profissional muito respeitado que se relacionou com autoridades e celebridades. Numa dessas excursões, conheceu Pablo Picasso, o grande pintor espanhol, estabelecendo-se entre os dois uma grande amizade. Não era raro Lula ser presenteado por Picasso. A mútua admiração estabeleceu entre eles um vínculo muito forte. 

Após deixar o Santos por razões nunca reveladas – muitos afirmam ter sido em função de um desentendimento com Pelé, contudo, tal versão nunca foi confirmada nem por um, nem por outro – Lula treinou o Corinthians, Portuguesa de Desportos e Santo André. 

Lula morreu muito precocemente, em 15 de junho de 1972, aos cinquenta anos de idade, em decorrência de complicações depois de um transplante de rins. Deixou viúva a Sra. Yvete Simões Alonso e três filhos, Luís Alonso, Marcos Tadeu Alonso e Leonor Maria Alonso.

+ Acessados

Veja Também