Justiça argentina investigará morte de García Lorca após 80 anos

Redação PH

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Justiça argentina investigará morte de García Lorca após 80 anos

A juíza argentina encarregada dos crimes cometidos durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939) investigará o assassinato do escritor Federico García Lorca, ocorrido há 80 anos, informou nesta quinta-feira (18) a associação de vítimas do franquismo.

"A juíza María Servini já aceitou a denúncia e se pôs a trabalhar sobre o tema", disse Emilio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH).

A magistrada de Buenos Aires incluiu o caso do poeta e dramaturgo dentro da causa que, valendo-se do princípio de justiça universal, foi aberta em 2010 para investigar violações dos direitos humanos durante a Guerra Civil e a ditadura de Francisco Franco (1939-1975), segundo Silva.

"Servini solicitará ao governo espanhol qualquer informação relacionada com o caso que possa existir em qualquer arquivo", acrescentou. Ainda segundo ele, a juíza poderá viajar em breve à Espanha para recolher mais informações.

80 anos depois

A investigação é anunciada na semana em que são completados 80 anos da morte do escritor, fuzilado em agosto de 1936 durante os primeiros dias da guerra perto de Granada, no sul da Espanha.

Seus restos, jogados em uma vala comum, nunca foram achados. Em setembro, começará a terceira operação de busca, anunciou recentemente o arqueólogo que dirige os trabalhos.

A ARMH é a responsável pelo pedido de investigação, com base em um documento de 1965 que permaneceu "oculto" por décadas no arquivo do Ministério do Interior. "No texto, pela primeira vez, o Estado franquista reconhece o assassinato de Lorca", diz Silva.

O documento, um relatório da polícia de Granada, indica que o poeta "passou pelas armas e foi enterrado muito à flor da terra".

Lei de anistia

"A impunidade que há em relação ao tema do franquismo se converteu em toda uma cultura política e este caso é muito evidente", lamentou o presidente da associação, que recorreu à Argentina ante os obstáculos para julgar os crimes na Espanha por causa de uma lei de anistia aprovada em 1977.

Dentro da investigação, Servini solicitou em março o depoimento de cerca de vinte envolvidos que ainda estão vivos, que devem ocorrer durante a visita da juíza à Espanha. Um pedido para deter e extraditar esses suspeitos para a Argentina foi rejeitado pela Justiça da Espanha.

Em maio de 2014, a juíza visitou a Espanha para ouvir o depoimento de algumas vítimas que, por sua idade avançada, ou estado de saúde, não podiam viajar à Argentina.

Restos mortais

O local onde estão os restos mortais de García Lorca continua sendo um mistério. O relatório dos arqueólogos que abriram várias valas na região de Granada, onde supostamente o poeta estava enterrado, concluiu que o lugar não possui capacidade mínima para conter corpos.

Os trabalhos de escavação basearam-se nos testemunhos de pessoas que afirmavam que o lugar situado a 9 km de Granada era onde teriam sido fuzilados e enterrados García Lorca com dois anarquistas e um professor em agosto de 1936, um mês depois do início da Guerra Civil.

A família Lorca sempre se opôs à abertura da vala da localidade de Alfacar, mas, após a decisão judicial, anunciou que forneceria seu DNA para identificar os restos do escritor e facilitar os trabalhos.

Garcia Lorca foi considerado o mais notável de uma constelação de poetas surgidos durante a guerra, conhecida como "geração de 27", alinhando-se entre os maiores poetas do século XX. Foi ainda um excelente pintor, compositor precoce e pianista.

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