O aposentado Francisco Silva de Oliveira, de 75 anos, foi pego de surpresa ao ficar cinco meses sem pegar a aposentadoria. Isso aconteceu por causa de uma dívida de R$ 720 que foi cobrada judicialmente em abril deste ano e, por isso, o dinheiro havia sido bloqueado. Ele vive em uma vila Operária em Dom Aquino, a 172 km de Cuiabá.
Essa dívida era de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que Francisco pediu para uma irmã comprar pela internet há dois anos. Atualmente, a santa nem está mais com ele, porque deu de presente a um amigo.
Francisco tem baixa visão, deficiência nas mãos, diversas limitações físicas, sequelas de acidentes de trabalho e desgastes das muitas funções que já teve na vida.
Por isso, ao acionar a Defensoria Pública, a equipe resolveu gravar um vídeo do momento em que ele assina o processo. Ao ver as imagens, o credor se comoveu da situação de vulnerabilidade e desistiu de cobrar a dívida.
Mas durante o tempo em que ficou sem dinheiro, Francisco contou com ajuda da vizinha e irmã Francisca Chagas de Oliveira.
“A gente entregava alimento para ele e também levava algo para ele cozinhar a própria comida”, disse.
Casa onde vive Francisco Silva de Oliveira em Dom Aquino — Foto: Wellington Nascimento/TV Centro América
Além disso, a irmã também ajudou a descobrir a origem dessa dívida que estava bloqueando a conta bancária dele.
“Era uma santa elétrica, com pilhas e que rezava sozinha. Daí, o primeiro boleto eu dei o dinheiro para essa minha irmã pagar, mas o banco não quis receber”, disse.
De acordo com defensor Valdenir Luiz Pereira, a decisão que bloqueou os recursos dele veio de Minas Gerais. Ele tinha consciência de que adquiriu aquele produto, mas não entendeu que deveria ter pagado as prestações.
“Sensível à situação de vulnerabilidade dele, o credor entendeu por bem que aquele valor era mais útil para ele do que para si, e abriu mão daquela cobrança”, explicou.
A Justiça de Minas Gerais reconheceu o acordo, extinguiu o processo e determinou o desbloqueio do valor da conta de Francisco. Na decisão, o juiz destacou a atitude solidária do credor, que reconheceu as limitações do idoso. O que eles não sabiam, porém, era de que Francisco também já fez muito pelos outros na vida.
Francisco Silva de Oliveira teve a dívida perdoada — Foto: Wellington Nascimento/TV Centro América
Ele fabricou tijolos, trabalhou na roça, foi padeiro, confeiteiro e, junto com o pai dele, construiu a antiga escola da vila onde mora e, inclusive, foi até professor na unidade.
“Eu dei aulas de português, matemática, de tudo mesmo”, disse.
Com a dívida perdoada e a conta desbloqueada, Francisco quer, agora, continuar vivendo com fé e dignidade. “É fé em Deus e em Nossa Senhora, de todos santos. Eu vou dormir sossegado”, contou.