Com base na confiança, um restaurante no Distrito de Bom Jardim, em Nobres, a 151 km de Cuiabá, deixa o caixa do estabelecimento aberto para os clientes fazerem o pagamento e pegarem o próprio troco. E não é só isso que chama a atenção no estabelecimento. O dono que se identifica como Chapolin Pedroso recebe a clientela fantasiado de ‘Chapolin Colorado’.
O estabelecimento tem apenas dois funcionários para a limpeza do local e é ele quem faz a comida em um fogão à lenha. Depois de preparar a comida, ele veste a fantasia de Chapolin para animar o público.
O empresário contou ao G1 que o restaurante foi aberto há quatro anos com o intuito de atender os turistas que chegavam tarde dos passeios e não tinham onde comer.
Segundo ele, no dia da abertura, um casal de turistas disse a ele que visitaria o local. No entanto, Chapolin não contava com a presença de outras pessoas que o casal convidou para almoçar no restaurante.
“Minhas panelas eram pequenas, havia poucos pratos e apenas uma mesa de madeira. Quando todas aquelas pessoas chegaram, precisei emprestar as panelas e os pratos da minha mãe. No final, tudo deu certo e, a partir daquele dia, comecei a receber pessoas de vários lugares”, contou.
Dono é quem prepara a comida — Foto: Arquivo pessoal
O método de pagamento à base da confiança surgiu quando alguns turistas almoçaram no local e estavam com pressa para ir embora, segundo Chapolin. Como ele estava cozinhando, pediu que fizessem o pagamento e pegassem o troco no caixa.
“Eu trabalhava sozinho e estava cozinhando, não podia parar para receber (o pagamento). Então eles deixaram o dinheiro na caixinha de sapato e pegaram o próprio troco. Gostei da ideia e agora só trabalho assim”, contou.
Peixe assado é um dos pratos que constam no cardápio — Foto: Arquivo pessoal
O empresário disse que os clientes nunca deixaram de pagar pelo que consumiram no restaurante.
“Atendo bem, com carinho, confio e deixo a responsabilidade do pagamento a eles, então não terão coragem de sair sem pagar. A pessoa pode ser ruim, mas todas têm coração”, pontuou.
O restaurante recebe o pagamento apenas em dinheiro. Os clientes que só têm cartão anotam a conta em um papel e deixam no caixa. Segundo Chapolin, eles pagam outro dia ou transferem o dinheiro para a conta dele, assim que puderem.
“Não fico cobrando e nem pego número de telefone. Também não fico cuidando se eles vão sair sem pagar ou não. O meu papel é cozinhar e atendê-los bem. Às vezes faço a comida e saio para dançar, quando volto, está tudo certo, o caixa está cheio”, ressaltou.
Dinheiro queimado
Uma caixa de sapato era onde os clientes deixavam o pagamento. No entanto, como o espaço do restaurante é aberto e a comida é feita em um fogão a lenha, um dia uma cliente foi pagar a conta e o vento acabou levando todo o dinheiro para o fogo.
“Tinha notas de vários valores. Ela tentou recuperar algumas, mas acabou queimando as mãos”, relembrou.
Depois disso, um cliente presenteou Chapolin com uma caixa de madeira para evitar que o dinheiro voasse novamente.
Comida é preparada no fogão à lenha — Foto: Arquivo pessoal
‘Não contavam com a minha astúcia’
A fantasia que o empresário usa para alegrar os clientes durante as refeições faz referência ao apelido que ele recebeu dos amigos e da própria mulher há mais de 30 anos, após ele fazer imitações do personagem da TV.
“Poucas pessoas tinham acesso à televisão, e aquele programa era muito importante naquela época. Uma vez convidei alguns amigos para assistir e ficava me jogando no chão tentando fazer o que o personagem fazia e meu amigo colocou esse apelido”, relembrou.
Chapolin disse que o apelido se espalhou e, atualmente, o empresário se apresenta apenas com o nome batizado pelos amigos.
“No início fiquei muito bravo e até briguei com meu amigo, mas ele não parava e minha mulher começou a me chamar assim também, então tive que aceitar, não poderia perder a mulher”, brincou.