REPORTAGEM ESPECIAL: Pujante e estratégica, Rondonópolis encara desafios na retomada econômica pós-pandemia, avaliam especialistas

Redação PH

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Rondonópolis -MT. Foto: Arquivo

REPORTAGEM ESPECIAL: Pujante e estratégica, Rondonópolis encara desafios na retomada econômica pós-pandemia, avaliam especialistas

Cenário distante a muitos municípios do Brasil, a recuperação econômica em curto e médio prazos pode se antecipar às vistas no horizonte de Rondonópolis, é o que avaliam especialistas convidados pela reportagem do site Primeira Hora. Dos diversos setores da economia local, eles produziram, ao longo da última semana, leituras sobre o potencial e os desafios deste município na chamada pós-pandemia. Do agronegócio ao comércio de rua, geração de emprego e renda, o termômetro já foi acionado para a reta final de 2020.

Para iniciar a leitura da economia e as projeções para o futuro, importante situar Rondonópolis como cidade-polo do Estado de Mato Grosso, destaque entre os quatro maiores PIB do Estado, eixo fundamental para o escoamento da produção agrícola brasileira e diversificada também nos segmentos industriais. O município atrai investimentos. Tem potencial para atrair ainda mais.

O economista da Solução Estratégica, professor universitário e consultor do Sebrae-MT, Alysson Ribas reforça lista outros fatores importantes nesta análise. Frisa Rondonópolis como maior polo de esmagamento, refino e envase de óleo de soja do Brasil, maior polo misturador de fertilizante do interior brasileiro, maior produção estadual de ração e suplementos animais, frigoríficos com padrões internacionais, dentre outros. “Em uma realidade muito distante dos demais, como que em uma “bolha”, o estado do Mato Grosso e a cidade de Rondonópolis sempre estiveram longe das crises enfrentadas pelos demais e mais uma vez caberá a nós e ao agronegócio sermos a locomotiva que puxa a economia desse país”, projeta.

“Estando ainda localizada na região do Brasil que menos sentiu e sentirá a crise, [Rondonópolis] deverá ser favorecida pela expectativa de ampliação da exportação principalmente para o mercado asiático e a desvalorização da moeda brasileira, uma vez que é a líder do ranking de exportações do MT sendo ainda a capital do agronegócio e do bitrem, continua mantendo o segundo maior do PIB em Mato Grosso, ficando apenas atrás de Cuiabá”, completa Ribas.

O Agro

“Do ponto de vista econômico, de um modo geral os impactos da pandemia foram muito menores em boa parte dos municípios em que o agronegócio era forte. Adicionalmente, a recuperação também tende a ser mais rápida nesses que sofreram menos”, analisa Eleri Hamer, professor universitário, mestre em Agronegócio e diretor da empresa NextBusiness. Como consultor e analista deste mercado, tem reunido alguns dos maiores nomes do ramo e produzido conteúdo específico disponível na internet.

Para Hamer, a cultura produtiva apoiada em soja, milho e pecuária “nos oferece esse sentimento de confiança maior”, destaca. Com a queda nos números referentes ao algodão (volume de vendas e recuo nos preços), a diversificação será o ponto positivo.  Aliada a capacidade produtiva, o salto tecnológico implementado ao campo nas últimas décadas elevou o setor à representação de 22% do PIB nacional neste 2020. “Essa produtividade por área vem dando saltos extraordinários há pelos menos 30 anos, chegando a patamares de 200, 300 e 400%, motivado principalmente em função do agronegócio conviver historicamente com a competição do mercado internacional e investir em tecnologia. Essa resposta, foi o setor como um todo, composto pelas diversas cadeias de produção, cujos elos foram capazes de trabalharem integrados, harmoniosos e ininterruptamente, mesmo na pandemia”, diz. “Faz alguns anos que o agronegócio tem sustentado a balança comercial. Por isso sempre digo que o agronegócio já não é mais um setor que deve ser analisado por ele mesmo ou por quem se interessa por ele. O agronegócio deve ser um setor de interesse nacional”, completa.

Foto por: Christiano Antonucci/Secom-MT

Setor Imobiliário

Saindo do campo, dentro da cidade também se vislumbra o potencial rondonopolitano. O setor imobiliário quase não freou os negócios nos tempos de pandemia e manteve o embalo dos últimos anos. Otimismo dos empresários do ramo.

“Obviamente, Rondonópolis não deixou de sentir os efeitos negativos da pandemia, principalmente pela insegurança de investidores ante o cenário econômico nacional. Em nenhum momento, porém, deixaram de apostar neste município como oportunidade para seus investimentos”, argumenta Marco Munchen, consultor imobiliário e empresário. “Hoje há certa positividade como consenso junto aos profissionais do setor, tento em vista a reação da nossa economia. Para os grandes investidores, este período também foi o de boas oportunidades”, analisa.

Recentemente, a Caixa Econômica Federal anunciou uma série de medidas para o mercado imobiliário nacional, visando principalmente enfrentar as consequências da crise causada pela pandemia da Covid 19. Os efeitos positivos respingaram no mercado local.

Entre as medidas do pacote estão inclusas a implementação do registro eletrônico de escrituras para contratos vinculados a empreendimentos financiados na instituição, financiamento de Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e custas cartorárias para pessoas físicas, e ampliação do acesso ao financiamento para produção de empreendimentos, com redução da quantidade mínima de vendas e da execução prévia de obras para contratação.

Para o empresário filiado ao Sindicato das Indústrias da Construção da Região Sul de Mato Grosso (Sinduscon Sul MT), Marcelo Lima, em reportagem do jornal A Tribuna publicada em julho de 2020, as medidas que foram anunciadas são muito boas para o setor da construção como um todo. Ele destaca que a inserção despesas de transferência e de cartório no financiamento ajudará na hora do cliente fechar a compra. “Este é um dos principais dos pontos que atrapalham a aquisição da casa própria, principalmente pela população de baixa renda, depois que a Caixa mudou de 90% para 80% o percentual financiado, o custo do registro da transferência aumentou mais pelo aumento da entrada de 10% para 20%”, comentou.

Outra área do setor beneficiada com as novas medidas são as grandes construtoras. Desta forma, segundo Lima, toda a cadeia da construção civil se valoriza. “Com a redução do percentual mínimo de vendas para grandes empreendimentos, o setor todo vai ser beneficiado e é muito bom para o crescimento do país e geração de empregos e melhora da renda da população em geral, já que a construção civil é um dos grandes geradores de empregos”, avaliou.

Sobre Rondonópolis, Munchen completa: “Vivemos em uma cidade diferenciada. Atrelado ao agro, nosso crescimento tende a ser muito grande, com crescimento nos números do setor imobiliário já no final deste ano. Vejo Rondonópolis à frente de outras cidades do Brasil nesta pós-pandemia. Vejo o setor aquecido, baixa nas taxas de juros e melhores condições para as pessoas que buscam sua casa própria ou fazer investimento”.

Setor Imobiliário. Foto: Arquivo

Comércio

Setor dos mais afetados pela pandemia da Covid-19, o comércio ainda busca alento rumo a sua recuperação. Setor que mais demitiu do que contratou desde março de 2020 em Rondonópolis, aposta na melhora da confiança de empresários e consumidores para melhorar os índices ainda neste ano.

Para Thiago Sperança, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Rondonópolis (CDL), o município sentiu os efeitos do chamado lockdown no setor, mas pôde se reinventar e ensaiar sua retomada econômica precoce. “Acredito que as ações do Governo Federal, os auxílios aos cidadãos e os recursos disponibilizados para socorrer os municípios ajudaram em muito nossa economia, pois fizeram dinheiro circular. Isso contribuiu para que o estrago econômico, aqui, não fosse tão grande quanto em outras cidades do Brasil. Tivemos nosso lockdown, que paralisou nosso setor e travou nossa atividade, mas que, por outro lado, não durou muito. Isso nos ajudou”, diz. “Outro ponto positivo foram as iniciativas criadas pelos empresários do comércio de produtos e serviços durante a pandemia. O aumento nos serviços de entrega (delivery), atendimentos à distância e otimização dos custos mostraram novas formas de trabalhar e fazer negócios”, completa.

Ainda para 2020, apostando no ritmo ascendente, o comércio de Rondonópolis tem pela frente datas importantes em termos de vendas. Na próxima semana, a CDL inicia a 16ª edição da campanha Liquidaqui, bom termômetro para os meses de novembro, data da chamada Black Friday, e para o Natal.

Foto: CDL

Gestão Pública

Ponto comum nas entrevistas coletadas para esta reportagem é a preocupação com a condução das políticas públicas na chamada pós-pandemia. O desencontro dos Decretos Municipais publicados, por exemplo, prejudicou ainda mais setores como o já mencionado comércio, além dos demais. Impacto direto na manutenção de empregadores e empregados no mercado de trabalho.

“A recuperação não vai acontecer por sí só. Precisa de um conjunto de agentes a se envolverem com isso para fortalecer a estrutura e canalizar investimentos. É nesse sentido que entra a figura do principal agente público que é o Governo Municipal, que precisa tornar o município amigo do investidor e do empreendedor.  E nesse particular, infelizmente, existe um desinteresse e uma miopia evidente, que não é de agora (não julgo se é apenas incompetência ou se é intencional)”, pontua Eleri Hamer. Sobre os reflexos positivos do agro nos demais setores, o especialista completa: “A possibilidade existe, mas para isso a gestão pública precisa estar preparada e interessada em promover isso. Parece um contrassenso, mas há evidências da gestão municipal que vão na contramão do que seria necessário priorizar. Poderíamos fazer muito mais”.

Nada acabou

Hamer segue: “Pelos dados microeconômicos que dispomos, além de um número significativo de empresas que fecharam, muitas pequenas e micro empresas estarão em sérias dificuldades nesse momento de retomada e ainda não perceberam a realidade do momento e o futuro que se avizinha. Nesse sentido, várias empresas, conseguiram passar pela fase pior da pandemia, mas se a recuperação do mercado não for rápida, não aguentarão por muito tempo. Precisarão de ajuda. Sabemos que muitas empresas estão em sérias dificuldades e ainda não perceberam”.

CAGED de julho

“Os dados do Caged de julho mostraram um saldo positivo de contratações, com destaque para o setor de prestação de serviços, indústria e construção civil, mas negativo para setores como varejo e agropecuária demonstrando que o sol não brilha para todos e que alguns setores terão dificuldades, sim, em se recuperar e ainda necessitarão de linhas de crédito para sanar dívidas e fazer investimentos”, complementa Alysson Ribas.

Apesar do período conturbado da pandemia, a geração de empregos em Rondonópolis voltou a fechar no azul em julho deste ano. Segundo dados do Ministério da Economia, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo de empregos no 7º mês do ano foi de 286 novas vagas.

Em âmbito de Estado, Rondonópolis, está entre os melhores desempenhos de geração de empregos ao longo dos sete meses do ano. Considerando apenas o mês de julho deste ano, o último pesquisado, o saldo de 286 vagas em Rondonópolis é resultado de 2.355 contratações e 2.069 demissões.

O setor que mais contribuiu nos números de julho foi o de prestação de serviços, com saldo de 190 empregos, a partir de 1.030 admissões e 840 demissões. A indústria contabilizou saldo de 109 vagas (358 contratações e 249 desligamentos). A agropecuária teve o pior saldo em julho, com 35 admissões e 57 demissões, tendo um saldo de -22 vagas.

Entre janeiro e julho, o município teve um saldo positivo de 569 vagas de empregos, diante de 17.610 admissões e 17.041 demissões. Nesse período, o melhor desempenho em Rondonópolis vem do setor de serviços, com saldo de 886 vagas, com 7.588 contratações e 6.702 desligamentos.

A construção civil aparece com o segundo melhor resultado nesse período, com um saldo de 284 vagas, a partir de 2.599 contratações e 2.315 desligamentos.

Entre janeiro e julho, a agropecuária e a indústria de transformação aparecem com saldos negativos de emprego na cidade, ainda que na faixa entre -8 e -20 vagas.

O comércio teve o pior desempenho na geração de empregos neste período de sete meses em Rondonópolis, com um saldo de -573 vagas (4.658 entradas e 5.231 saídas).

“Essa retomada não é homogênea, sendo muito frágil em diversos setores mais impactados pelas políticas de isolamento e que tiveram grandes quedas da receita, para esses setores o ano de 2021 tem significado de retomada, não sentido no curto prazo as benesses da “mola propulsora” do agronegócio”, finaliza Ribas.

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