Mãe que perdeu a filha gêmea na enchente no RS diz que ainda não conseguiu viver o luto

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As gêmeas Agatha e Agnes, vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul - Arquivo Pessoal

Mãe que perdeu a filha gêmea na enchente no RS diz que ainda não conseguiu viver o luto

Gabrielli, que perdeu filha Agnes em resgate da cheia do Guaíba, fala pela primeira vez

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Símbolo da tragédia no Rio Grande do Sul, Gabrielli viu do segundo andar da casa onde mora, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, a água subindo. Não acreditava que chegaria até o nível onde ela se encontrava com os quatro filhos, o marido, a mãe, a irmã e os sogros.

Gabrielli Silva tem 24 anos. Ela é casada e mãe Alice (7 anos), Gabriel (1 ano e 11 meses) e as gêmeas Agatha e Agnes (7 meses). Ela viveu dias intermináveis e passou por uma das histórias de maior repercussão durante a enchente que assolou o Rio Grande do Sul.

Mas o que os olhos viram, fizeram com que todos começassem a pedir ajuda. Foram horas gritando para que barcos que passavam por ali parassem para levá-los para um lugar seguro. Gabriel, o filho dela, de quase dois anos, aprendeu a primeira palavra neste dia. Ele clamou por socorro. “Ele não fala ‘mamãe’, não fala ‘papai’. Ele imitou todos que estavam dentro de casa vendo a água subir”.

Até que, por volta de sete da noite, amigos da família conseguiram um barco para tirar as mulheres e as crianças, que eram prioridade naquele momento. Ao todo, 14 pessoas embarcaram. O destino: qualquer ponto em terra firme, já que a água passava os 2 metros de altura.

Porém, a viagem contou com um incidente. O barco virou. Todos caíram na água contaminada. Alguns se afogaram. Com os dois filhos mais velhos nos braços, Gabrielli só conseguia gritar “são duas meninas! São duas meninas!”.

Gabrielli Silva, mãe das gêmeas Agatha e Agnes – Arquivo Pessoal

Ela conseguiu ver uma das bebês sendo resgatada e alguém informou que a outra também tinha sido salva. No escuro, com gritos e pouca visibilidade, ela ficou aliviada. Os outros dois filhos estavam com ela, um de cada lado. Esses, ela conseguiu ter certeza que estavam ali. Ao chegar em terra firme, avisaram que as bebês precisaram ser reanimadas e foram levadas para o hospital.

Chegando na instituição de saúde, ela descobriu que só uma das gêmeas estava lá, a Agatha. E foi então que começou a saga para encontrar Agnes. Com uma das gêmeas na UTI, ela se deu conta de que a outra filha estava desaparecida.

Gabrielli diz que nunca perdeu a esperança, mas o desfecho desta história só acabou oito dias depois. E não foi como ela imaginava. No Dia das Mães, Gabrieli descobriu que Agnes estava morta. Em entrevista ao blog, Gabrielli diz que não existe um culpado.

“A saudade, a lembrança, vai fazer morada. Como vou viver faltando uma peça no meu quebra-cabeça?”

Gabrielli está em um abrigo junto com toda a família. Ela diz que ainda não conseguiu assimilar tudo o que aconteceu. “Reconheci minha filha, velei e enterrei, mas morando com mais 15 pessoas em uma sala de aula de uma universidade, não consigo viver o meu luto”.

O RECOMEÇO

Com ajuda de amigos e uma vaquinha solidária, ela agora procura um local para alugar para recomeçar com o marido e os três filhos. Só assim, ela acredita que vai poder continuar vivendo após tudo o que aconteceu.

Além disso, Gabrielli diz que quer montar uma ONG em homenagem a Agnes, para que a filha nunca seja esquecida e para que ela consiga ajudar outras famílias.

Incerta sobre o futuro, ela tem esperança, assim como outras famílias que perderam tudo na enchente. Com um colar que mandou fazer em homenagem a Agnes promete: “eu nunca vou deixar ela ser esquecida. Por onde eu for vou levar o nome dela”.

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