Uma estudante de 20 anos foi aprovada na primeira colocação do vestibular do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), considerado um dos mais concorridos de todo o país. O resultado foi divulgado na última quarta-feira (14).

Ao todo, 9.364 estudantes participaram do vestibular concorrendo a 150 vagas nos seis cursos de engenharia oferecidos pelo instituto. Entre os inscritos, 2.218 são mulheres, o que corresponde a 23% do total de participantes. Dos aprovados, apenas nove são mulheres, o que representa 6%.

Luciana de Oliveira Santos conquistou o primeiro lugar entre os candidatos que optaram pela carreira militar. Para ela, a conquista é mais do que uma realização pessoal.

“Eu espero que isso incentive cada vez mais mulheres a ingressarem no ITA. Já vi mulheres nesse meio e me ajudou a entender que era possível. Isso é muito importante para o futuro”, disse Luciana.

Como é tradição da universidade, a notícia da conquista chegou por meio de uma ligação no início da manhã, feita por alunos que já estão na instituição e que parabenizaram a jovem pela conquista.

“Me ligaram para informar que eu tinha sido aprovada e foi incrível. Um momento de muita emoção. Eu sempre sonhei com essa ligação. Nos momentos mais difíceis, de pouca confiança, eu pensava em receber essa ligação e me motivava muito. Feliz demais desse momento ter chegado”, narrou.

A jovem conta que não segurou a emoção ao descobrir que havia sido aprovada. Ela diz que sempre sonhou em receber a ligação, mas que passar em 1º lugar superou todas as expectativas e que nunca imaginou que estaria no topo do ranking de aprovados.

“Na hora eu não fiquei sabendo que tinha ficado em primeiro. Estava muito feliz com a aprovação e aí um amigo me mandou mensagem parabenizando e me chamou de 01. Não entendi e ele me explicou que a lista já tinha saído. Quando vi meu nome em primeiro não acreditei. Fiquei muito surpresa e emocionada”, disse.

Estudante de 20 anos é aprovada em 1º lugar no ITA. — Foto: Arquivo pessoal

Dedicação

Natural do Recife (PE), Luciana se mudou para São José dos Campos (SP) neste ano justamente para ficar mais perto da faculdade dos sonhos e se matricular em um cursinho. Os estudos, no entanto, começaram muito antes. De acordo com ela, o caminho rumo à engenharia começou a ser traçado no ensino médio.

“Eu gostava de exatas e muitos dos alunos dessa área iam para uma turma que preparava para o ITA. Eu acabei indo também, mas mais pelo desafio, já que ainda não tinha certeza do que queria, e acabei pegando gosto. Desde então fiz sempre os vestibulares e dessa vez deu certo”, conta.

Agora, Luciana terá até janeiro para comemorar a conquista. No começo de 2023 ela se apresentará à instituição e terá que escolher qual engenharia irá cursar: computação ou elétrica.

“Essa é a minha dúvida agora. Vou pensar bastante nisso”, afirma a estudante, que diz que já começará a se preparar para o início das aulas, marcadas para o mês de março.

Além de ser um grande marco na vida de Luciana, a jovem espera que a aprovação em primeiro lugar seja também um incentivo para outras mulheres que desejam cursar engenharia e seguir carreira militar, um meio majoritariamente masculino.

“Sei que tem outras mulheres lá e sei que vou poder contar com elas, assim como outras mulheres que ingressarem no futuro também poderão contar comigo”, disse.

Representatividade

Uma mulher em 1º lugar na lista de aprovados do ITA é motivo de orgulho para profissionais da instituição. Para a Sônia Guimarães, doutora em física e primeira professora negra do ITA, a aprovação da jovem pode causar impacto coletivo.

“Me deixou emocionada, uma conquista fantástica, eu nem ousava sonhar. Antes não podia mulheres no ITA e quando passaram a aceitar eu já fiquei feliz, mas eram poucas mulheres. Ao longo dos anos isso foi aumentando e hoje ver uma mulher em primeiro lugar é fantástico! É representatividade! As mulheres podem, elas são capazes, estão conquistando seu espaço”, contou empolgada.

Para a doutora, o universo da engenharia ainda é muito masculino e ter cada vez mais mulheres ingressando e se formando no ITA, é uma forma de deixar o mercado mais inclusivo e plural.

“Elas ficam ouvindo que isso é coisa de meninos e acabam desistindo, mas olha lá a Luciana no primeiro lugar do ITA! As mulheres conseguem sim e precisam estar lá! Com mais mulheres teremos melhores ideias, tecnologias inclusivas, mais amor, menos tecnicidade e sem pensar só em dinheiro, mas sim em futuro muito melhor. O ITA forma lideres, pessoas para brilhar e para ter um futuro maravilhoso!”, completou Sônia.