ENTREVISTA: Candidato ao Senado, Euclides Ribeiro mira discurso contra os “barões” do agro e da política

Redação PH

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Foto: Assessoria

ENTREVISTA: Candidato ao Senado, Euclides Ribeiro mira discurso contra os “barões” do agro e da política

Euclides Ribeiro é o candidato do Avante ao Senado na eleição suplementar marcada para novembro deste ano em Mato Grosso. Em entrevista ao site Primeira Hora -uma conversa longa e ampla- o advogado criticou de forma dura o que chamou de “agiotagem legalizada” praticada no Estado pelos “barões do agronegócio, em conluio com os perversos sistemas financeiro e político”. Falou também, é claro, da campanha eleitoral.

Predominante na entrevista, o alvo do discurso está, certamente, bem definido. Ribeiro aposta na estratégia de “nova política”. “Nem de direita e nem de esquerda, nós somos pra frente”, diz o sobre o arco de alianças em torno de sua candidatura formado pelo Avante, PDT, PSB, Pros e Rede.

Confira a entrevista:

Primeira Hora (PH): Olá, candidato. Nos conte um pouco da sua história e como surgiu seu interesse pela política.

Euclides Ribeiro (ER): Tenho 46 anos, sou nascido no Rio de Janeiro e criado desde muito pequeno pela minha irmã mais velha em Cuiabá. Na capital estudei, cresci, me formei advogado e atuo desde muito cedo.

Na advocacia, percebi que temos um problema grave em Mato Grosso e no Brasil. Criamos um sistema onde quem quer produzir, empreender, crescer e viver com dignidade tem que entregar tudo a um sistema financeiro, que está em conluio com o sistema político, para que todo trabalhador entregue tudo o que tem. Isso não tem nada a ver com ser de direita ou de esquerda, a realidade é que existe uma crise grave na forma como o sistema é feito para quem quer produzir.

Direita e esquerda são rótulos criados para diminuir o discurso. A verdade é que estas ideias são baseadas na realidade. Somos explorados todos os dias por este sistema perverso.

PH: Sua atuação na esfera privada sempre foi junto às pequenas empresas?

ER: Atuei junto às pequenas, depois médias, grandes e mega empresas. Foi assim que percebi que a culpa pela crise não é de quem empreende, mas, sim, de quem financia este empreendedorismo, quem empresta a taxas de juros absurdas de 25% ao ano enquanto a Selic está próxima de 2%. É grave achar isso normal.

Também é grave termos em Mato Grosso três barões que pegam dinheiro do BNDES e outros bancos a 3% e emprestam aos pequenos a 60% ou 70%. Isso é agiotagem. Isso precisa acabar. Temos 30% do PIB concentrados nas mãos destas três pessoas. Por aqui, a agiotagem corre solta.

Somos o Estado do agronegócio, com poucas empresas comprando a produção -seis grandes, incluindo participação das chinesas- , temos um verdadeiro cartel na compra dos grãos, cartel na venda de insumos e agora cartel também de quem financia os produtores e quem não pagar as contas tem que entregar suas terras . Este modelo foi vendido como o agronegócio de sucesso, mas, na verdade, é o agronegócio do sofrimento para a grande maioria que produz.

PH: O senhor fez ha pouco uma relação deste sistema com a questão política. Historicamente, Mato Grosso sempre manteve, de certa forma, esta relação, dada a influência dos grandes empresários do agro nas tomadas de decisões em Brasília. Poderia nos explicar melhor?

ER: Isso é um erro histórico. O poder do político emana do povo e não dos coronéis. Estes tem que cuidar do próprio bolso e não da política. Aqui mesmo em Rondonópolis, por exemplo, um deles prometeu a industrialização deste município e depois foi embora, se mudou para Sapezal. Agora, em 2020, sabemos bem o porquê.

E mais: deixou um legado de políticos desonestos, que roubaram o trem, os trilhos e tudo o que mais se podia roubar. Juntos, já roubaram bilhões para devolver milhões. Agora lançam candidatos que são, na verdade, farinha do mesmo saco.

PH: Esse “baronato” mato-grossense comanda politicamente o Estado, como o senhor afirma. De que forma quebrar isso?

ER: Para mim, o primeiro passo foi sair do escritório me lançar na política, como candidato ao Senado. Somos cinco partidos na coligação e nenhum de nós quer o rótulo de direita ou esquerda, mas, sim, ideias novas. O sistema não escolhe lado para roubar, toma de quem está tanto na direita quanto na esquerda. Rouba do pai de família, do profissional liberal, da dona de casa… É preciso combatermos juntos e ultrapassar também esta classe politica.

Sem isso, nós estamos concentrando toda a renda na mãos de uma mafia legalizada.

PH: Com esse discurso, sua candidatura atraiu partidos. Como foi este processo?

ER: Eu ficava em casa e não tinha conforto mental quando me deparava com esta decadência moral, esta distorção coletiva. No início não tinha legenda e protocolei um pedido de candidatura independente. Mais tarde, após a parada da pandemia, fui procurado pelo Avante e depois pelos demais partidos. Hoje sou presidente do Avante em Mato Grosso, temos representação forte em Brasilia, estamos com (Jair) Bolsonaro em alguns momentos e em debates em outros, atuando no chamado centro.

PH: E em Mato Grosso ?

ER: [O partido] estava parado, estamos passando por este momento também como um resgate da nossa legenda no Estado.

PH: Como tem sido esta caminhada, levar este discurso aos municípios nesta curta campanha eleitoral?

ER: Minha primeira alegria foi poder falar e conversar com as pessoas. Minha segunda alegria é ver os partidos e seus dirigentes mobilizadores de ideias repetindo com propriedade e acrescentando a este meu discurso, pois isso mostra que estamos certos,
Este sistema que incentiva a explorar, roubar e extorquir tem que acabar. Estamos crescendo e vamos mostrar para a velha politica que é possível.

PH: Este arco se formou relativamente rápido…

ER: Foi rápido e harmonioso porque os ideais são os mesmos.

PH: Aproveitando sua visita à nossa redação, mais cedo outro candidato ao senado disse à imprensa local que o Senado não era lugar para novatos, gente sem experiencia. Como responde a isso?

ER: Concordo que [o Senado] não é lugar para aventureiro, mas é lugar para quem ja viu de perto a podridão deste sistema. Por que esta minha experiência não vale ? Que tipo de experiencia ele quer? A de ter passado por escândalos, por acusações? É esta a experiência que a sociedade quer.

Não tenho e não quero ter esta experiencia.

PH: Vamos falar desta campanha, candidato. Prazo curto, redes sociais, tempo de TV…

ER: Tenho falado e sido ouvido. Comecei sem partido, sem coligação e sem tempo de TV. Hoje temos a maior coligação do Estado, mas de três mil vereadores, mais de 320 mil votos na legenda na última eleição. Tenho possibilidade de falar com estas pessoas e quero levar para o 1,4 milhão de eleitores de Mato Grosso minhas ideias.

Hoje temos estrutura, temos 1′ e 35” de TV, é um bom tempo por dia, mais nossas redes e as inserções. É isso, estamos prontos.

PH: Imaginemos um cenário com o senhor eleito. De que forma colocar em prática todo este discurso contra os poderosos que viemos tratando até aqui ?

ER: O relacionamento será republicano, mas voltado a atender o Estado, as pessoas. Se houver concessão, não será feita em prol de compromisso politico. O compromisso é com quem vota. Não vou pedir apoio político para depois ficar amarrado. Vim por conta própria e vou continuar por conta própria. Só assim é possível fazer as mudanças voltadas para o povo. Se entregar aos grupos políticos e econômicos é dar continuidade a este sistema. Hoje os que lá [no Senado] estão são financiados por grupos grandes e querem defender seus interesses, defender os bancos… Este não é o meu caso.

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