Dia do Médico: celebração e reflexão

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Natasha Slhessarenko

Pediatra e patologista Natasha Slhessarenko

Dia do Médico: celebração e reflexão

O Dia do Médico é comemorado anualmente em 18 de outubro. Essa data foi escolhida em referência ao Dia de São Lucas, o santo padroeiro da Medicina. O momento é de celebração, mas também de reflexão sobre o papel do médico na sociedade e os grandes desafios da Medicina no Brasil.

Um desses desafios é a busca pela qualidade das escolas médicas. De acordo com último levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), a quantidade de faculdades de Medicina dobrou no Brasil a partir de 2010, passando de 181 para 376, o que significa dizer que foram criadas mais escolas médicas em 12 anos (191 escolas) do que em todo o século passado. Ainda segundo o CFM, cerca de 80% das novas vagas abertas nos últimos 10 anos foram em instituições privadas.

A grande preocupação é que muitos cursos de Medicina não possuem corpo docente qualificado além de não oferecerem estrutura adequada aos alunos e de não cumprirem com os requisitos para abertura de novas escolas do MEC. Importante ressaltar também que essa quantidade de novas escolas não garante a permanência de médicos em municípios pequenos, onde a população tem dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Grande parte dos médicos concentram-se nos grandes centros.

Outra questão que é extremamente importante, é a obrigatoriedade de aprovação de médicos formados no exterior no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), para que possam atuar de forma plena no Brasil. Entende-se que a superação dessa etapa reduz o risco de exposição de pacientes a profissionais sem a devida qualificação. Existe movimentos para que não se revalide diplomas ou que se façam “revalida light”. Atualmente 1/3 dos estudantes de medicina brasileiros cursam medicina em países como Bolívia, Argentina e Paraguai.

A revalidação é um processo onde se realizam provas práticas e teóricas que procuram medir conhecimentos, habilidades e atitudes de maneira idônea e transparente. Esse é o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM), que é contrário a qualquer iniciativa que venha a flexibilizar os parâmetros de avaliação do Revalida.

Assim, projetos de lei em tramitação no Congresso ou discussões no âmbito do Poder Executivo que pretendam imprimir menos rigor não são aceitáveis.

A legitimação do Revalida nivelará o Brasil com países desenvolvidos, onde o acesso de médicos estrangeiros ao exercício da profissão acontece após um processo criterioso. No contexto atual, o exame brasileiro tem qualidade e caráter técnico nos moldes do que já existe e é utilizado em nações como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França e Itália.

Além de toda responsabilidade em torno dessa profissão, os médicos enfrentam grandes dificuldades cotidianamente, como a falta de estrutura na rede SUS, também a falta de recursos para a saúde, a falta de plano de cargos e carreira e o estabelecimento de piso salarial. Infelizmente, sem condições de trabalho, muitos profissionais não conseguem desempenhar de maneira adequada o seu papel, o que gera insatisfação por parte dos pacientes e frustração dos colegas.

Importante rendermos homenagens a todos os médicos que trabalharam incansavelmente na linha de frente de combate à Covid-19 e reverenciarmos os que morreram na pandemia.

A pandemia acelerou a aprovação da telemedicina, que representou um grande avanço no acesso e agilidade no atendimento aos pacientes. A possibilidade de consultas com especialistas e avaliações por médicos experientes também contribui sobremaneira com a melhora na prestação de serviços de saúde.

Enfim, hoje é dia de lembrarmos de São Lucas, o médico dos médicos. Ao acordarmos todos os dias, nossa mola impulsionadora deve ser nosso propósito de ajudar, de cuidar de gente, de fazer a diferença na vida das pessoas, de fazer mais pela vida, de fortalecer a discussão pela qualidade dos cursos de Medicina, do Revalida para os profissionais formados em países estrangeiros e também da incansável luta em defesa do SUS.

Enfim, hoje é dia de lembrarmos de São Lucas, o médico dos médicos. Ao acordarmos todos os dias, nossa mola impulsionadora deve ser nosso propósito de ajudar, de cuidar de gente, de fazer a diferença na vida das pessoas, de fazer mais pela vida, de fortalecer a discussão pela qualidade dos cursos de Medicina, do Revalida para os profissionais formados em países estrangeiros e também da incansável luta em defesa do SUS.Sejamos defensores do SUS, considerado um dos melhores planos de saúde do mundo, com seus programas de imunização (PNI), de transplante, tratamento de hepatites, HIV, tuberculose… E como o SUS foi importante para salvar vidas na pandemia da Covid-19! Viva o SUS!

Enfim, tudo o que queremos é que todos os brasileiros e brasileiras tenham acesso fácil e ágil aos serviços de saúde e que sejam serviços de qualidade, além disto, que os médicos trabalhem em condições dignas e motivados.

Dra. Natasha Slhessarenko é médica pediatra e patologista, professora da UFMT, representa MT no CFM e é diretora da Clínica Vida Diagnóstico e Saúde

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