A primeira seleção brasileira feminina a vencer uma copa do mundo

Harold Cunningham/Fifa

A primeira seleção brasileira feminina a vencer uma copa do mundo

Não é possível dizer que o esporte feminino no Brasil seja desde sempre incentivado. Na verdade, a depender da modalidade, é ainda hoje desconsiderado e até mesmo discriminado. Não obstante a falta de apoio, o esporte feminino já nos rendeu muitas glórias, entre elas o primeiro mundial de uma modalidade coletiva, o título de basquetebol de 1994, torneio realizado em junho daquele ano, na Austrália.

Não foi só o primeiro mundial de uma equipe feminina brasileira, foi a primeira vez que outro país, senão Estados Unidos e a antiga União Soviética, conquistou o torneio, uma verdadeira epopéia digna de um bônus Sportium.

Tradicionalmente, o basquete brasileiro sempre foi respeitado mundo afora e sempre obteve bons resultados. O basquete masculino já conquistou duas vezes o mundial, em 1959 e 1963, e outras duas vezes terminou a competição como vice-campeão, em 1954 e 1970, além de um Pan-americano histórico em 1987. O título mundial feminino de 1994 consagrou toda uma geração de craques, entre elas Janeth, Helen, Paula e a rainha Hortência.

Antes desta conquista monumental, o Pan-americano de Cuba, 1991, já havia elevado a geração de Hortênsia e companhia a um outro nível. Quem não se lembra da cena na qual Fidel Castro ameaça, em tom jocoso, não entregar as medalhas para Paula e Hortência, responsáveis diretas pela derrota de Cuba na partida final?

Pois bem, três anos mais tarde, praticamente as mesmas jogadoras se tornaram campeãs mundiais. Sob o comando de Miguel Ângelo da Luz, a equipe convocada foi a seguinte: Hortência, Helen, Adriana, Leila, Paula, Janeth, Roseli, Simone, Ruth, Alessandra, Cíntia e Dalila. Em 2 de junho, a estreia e a primeira vitória sobre o frágil time de Taipei, 112 a 83.

O grupo do Brasil tinha ainda mais duas equipes europeias e relativamente fortes, a Eslováquia e a Polônia. Todos sabiam que as meninas teriam dificuldades, e logo na segunda partida, a primeira derrota, 99 a 88 para a Eslováquia. Assim, em 4 de junho, a única opção para a seleção brasileira era vencer a Polônia, ou voltaria mais cedo para casa.

O jogo decisivo no grupo C foi tenso, mas o Brasil tinha Paula, a magic Paula, Janeth, que vivia a melhor fase de sua carreira e a rainha Hortência. Foram elas que levaram o Brasil à vitória por 87 a 77. As meninas conseguiram e agora seguem para a segunda fase do torneio. O próximo grupo, como não seria de outro modo, muito difícil: China, Cuba e Espanha seriam nossas próximas oponentes.

No dia 7 de junho de 1994, a seleção brasileira entrou em quadra para enfrentar a seleção cubana. Altas, talentosas, velozes e aguerridas, as cubanas chegaram à partida com status de favoritas e empenhadas na desforra, afinal, três anos antes haviam sido derrotadas no Pan-americano; ledo engano. A equipe do Brasil venceu com relativa facilidade, 111 a 91. No dia seguinte e pela frente as gigantes chinesas, especialmente, Zheng Haixia. Jogo parelho, lá e cá, com Zheng e Hortência jogando um basquete de altíssimo nível. No final, as chinesas conseguiram abrir 7 pontos e venceram por 97 a 90.

A terceira partida desta fase foi contra a Espanha. O grupo estava embolado, todas as seleções, até então, tinham uma vitória e uma derrota e, claro, vencer seria fundamental e, de preferência, por uma margem considerável. As meninas do Brasil venceram, mas não por muitos pontos, 92 a 87. O Brasil terminou com score melhor, mas como no confronto direto as chinesas tinham levado a melhor, encontramos as americanas na semifinal.

Em termos de campanha, a seleção americana estava melhor, seis jogos, seis vitórias, mas tínhamos a cestinha do torneio, até então, Hortência e mais duas jogadoras que vinham desequilibrando, Janeth e Paula. O negócio era ir para o jogo de igual para igual e despachar os Estados Unidos. E assim aconteceu. Em uma partida emocionante e de altíssimo nível técnico, o Brasil saiu vitorioso, 110 a 107, e estávamos na grande final.

Em 12 de junho de 1994, a seleção brasileira tinha mais uma vez pela frente a equipe chinesa. O trabalho psicológico foi fundamental, afinal, quatro dias antes as meninas brasileiras haviam sido derrotadas. Mais uma vez, não havia outra coisa a se fazer, era entrar na quadra e deixar o coração. Hortência e Zheng travaram um verdadeiro duelo em quadra, terminaram a partida com a mesma pontuação, 27 pontos. Na armação, Helen fez sua melhor partida no mundial, além de Janeth, Paula e Roseli revezando-se nas cestas. A vitória brasileira veio, 96 a 87, e o nosso primeiro título mundial de uma modalidade coletiva no feminino.

A rainha Hortência foi eleita a melhor jogadora do campeonato, além de cestinha com 221 pontos. Na seleção daquele torneio, duas brasileiras, Hortência e Janeth, duas norte-americanas e a chinesa Zheng. Mais um capítulo da história do desporto brasileiro era então escrita com lágrimas, suor e muita alegria.

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