A amamentação e o desenvolvimento da criança

Vanessa Moraes

Vanessa Moraes

A amamentação e o desenvolvimento da criança

Um dos aspectos pouco divulgados em relação ao aleitamento materno é sobre a sua importância para a dentição e para o desenvolvimento dos ossos e músculos da face que serão fundamentais para a fala, a mastigação e a respiração da criança.

A amamentação não só influencia, como promove o desenvolvimento do sistema sensório-motor oral (língua, lábios, bochechas), e prepara a criança para a futura alimentação.

O ato de sugar é o primeiro passo para a deglutição. A criança já nasce preparada para mamar, pois a sua língua ocupa toda a cavidade oral, justamente para promover a sucção. À medida que a criança vai se desenvolvendo, a língua diminui e os órgãos fonoarticulatórios vão se desenvolvendo e amadurecendo.

Existem dois tipos de sucção: a nutritiva (aleitamento natural e artificial) e a não-nutritiva (sucção do dedo, chupetas). Algumas pesquisas relatam que o maior índice de prevalência de sucção não-nutritiva (hábitos viciosos, como chupar o dedo) prolongada ocorra em crianças que não obtiveram o aleitamento materno natural. Esses hábitos prolongados causam problemas ortodônticos e, possivelmente, distúrbios articulatórios na fala.

Infecções nos ouvidos também podem estar correlacionadas com a postura inadequada na hora da amamentação. Em qualquer tipo de amamentação, a postura inadequada pode promover esse tipo de problema, porque o corpo humano possui uma comunicação entre o ouvido e o nariz – a chamada tuba auditiva – e, quando a criança regurgita, o leite pode atingir a tuba e gerar inflamações no ouvido médio. Para evitar isso, seja na amamentação natural ou na amamentação artificial, a cabeça do bebê deverá sempre estar mais elevada do que o corpo.

A estimulação precoce da fonoaudióloga nos recém-nascidos pré-termos (ou seja, as crianças nascidas antes dos nove meses) é fundamental para uma alimentação no seio materno eficaz, prazerosa e funcional.  Além de proporcionar maior vínculo entre mãe e bebê, ainda no ambiente hospitalar, a atuação da fonoaudióloga pode favorecer a diminuição do tempo de internação.

A fonoaudióloga atua também com bebês de alto risco em UTIs neonatais, promovendo a amamentação, avaliando as condições do recém-nascido e da mãe para isso, orientando o aleitamento quanto à pega, estimulando os reflexos de sucção/deglutição para que os bebês se tornem aptos a mamar, aplicando técnicas para facilitar e desenvolver a sucção, e promovendo o contato materno.

Quando o uso da mamadeira for inevitável, o ideal é sempre procurar o bico ortodôntico ou aquele bico que seu filho mais se adaptar.

Por volta dos cinco ou seis meses, os pais de todos os bebês devem iniciar a oferta diversificada de alimentos, com consistências cremosas, como sopas e purês. Essa transição da consistência alimentar é fundamental para o desenvolvimento, assim como a conversa com o bebê. Isso promove não só a interação mãe/filho, como também estimula a fala e a linguagem.

Já as chupetas são vistas como um “calmante” para as crianças, bastante utilizado pelos pais. Mas é importante saber que esse uso não deve ser por um período prolongado e que isso pode vir a atrapalhar o desenvolvimento orofacial.

A criança que não é amamentada no peito não necessariamente terá problemas fonoaudiológicos, mas observando alguma dificuldade na sucção/deglutição, mastigação, respiração ou fala, os pais devem procurar um fonoaudiólogo para avaliar e, se necessário, traçar a melhor orientação ou definir o plano terapêutico.

Vanessa Moraes é fonoaudióloga e audiologista na Sonicon

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