Sete em cada dez jovens tendem a aceitar suborno em forma de presente

Redação PH

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Sete em cada dez jovens tendem a aceitar suborno em forma de presente

Corrupção, fraudes, desvios e má conduta são problemas graves que cada vez mais fazem parte da realidade empresarial brasileira.

Em meio ao maior escândalo da Petrobras, com denúncias de corrupção e propinas identificadas pela Operação Lava Jato, uma pesquisa mostra um cenário preocupante em relação ao perfil ético dos profissionais das corporações brasileiras: o jovem tem maior predisposição para aceitar subornos, propinas e presentes de terceiros.

Sete em cada dez jovens profissionais, de até 24 anos, tendem mais a aceitar presentes no trabalho (suborno em forma de presentes), de acordo com a pesquisa da ICTS Protiviti, empresa de consultoria e serviços especializada em Gestão de Riscos, Auditoria Interna, Ética, Compliance e Segurança.

Além disso, o levantamento revela que os profissionais mais jovens encabeçam, como maioria, o grupo de alto risco em grande parte dos dilemas éticos. Eles tendem mais a aceitar atos antiéticos (82%), a hesitar em denunciar (68%) e a decidir sobre furto e suborno a partir das circunstâncias (59% para furto e 56% para suborno).

O sócio-diretor da ICTS, Mauricio Reggio, afirma que os dados mostram “claramente que esse grupo é mais flexível e mais predisposto a aceitar desvios éticos”. Uma análise para esses resultados é a de que jovens tomam decisões rápidas — e às vezes precipitadas —, apresentam baixa tolerância à frustração e não lidam bem com autoridades.

— Os jovens têm menos vivência no mundo corporativo e menos oportunidades de conhecer as regras e a disciplina das organizações. Isso aliado à ambição, ao imediatismo de crescer na carreira e ao espírito empreendedor que gera menor vínculo com o empregador faz com que os jovens não percebam o limite ético ou mesmo ignorem esse limite.

Para Reggio, houve um despertar das empresas para a cultura da ética e da transparência devido também à recente regulamentação da Lei Anticorrupção (12.846/2013) e à exposição pública da operação Lava Jato, em especial nas empresas que atuam comercialmente com os entes públicos.

— As pessoas estão acostumadas a pensar a corrupção como alto de fora, dos políticos, das autoridades. Não percebem as próprias atitudes. Com isso, têm um padrão para fora e não para si próprio.

Em relação às empresas e às frequentes denúncias de corrupção, Reggio afirma que alguns setores vêm o suborno e a propina como algo do processo de trabalho, como a forma de fazer negócio.

— A Lava Jato mudou as regras do jogo. Antes, quem não praticava corrupção estava fora do jogo. Agora, estamos vendo mudanças. Inclusive por parte da sociedade que está menos propensa a aceitar casos de corrupção.

Mulheres

Outro aspecto observado na pesquisa foi que o das mulheres em relação à corrupção. De acordo com o levantamento, três em cada cinco mulheres hesitam em denunciar. Alguns motivos disso, segundo Reggio, seriam o nível hierárquico e a tendência a ser mais agregadora, além do medo de represálias.

No caso da Petrobras, isso aconteceu de forma diferente, já que a ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa da Fonseca foi uma das principais denunciantes do esquema de propina na empresa. Mas ela afirma ter sofrido represália e ter sido afastada da chefia do escritório da Petrobras em Cingapura por causa das denúncias.

Ética se aprende

Segundo Reggio, o desafio para as organizações é o de formar esses jovens, para que eles construam conceitos éticos sólidos que os guiarão durante toda a sua carreira.

— Nossa experiência junto às empresas-cliente reforça cada vez mais o entendimento de que Ética se aprende, principalmente em se tratando da característica sociocultural do Brasil — nação jovem, ainda em formação de padrões éticos mais rígidos.

Cabe às empresas o papel de colaborar de forma mais ativa para a formação dos profissionais brasileiros nos temas comportamentais relacionados à ética e valores organizacionais, e não apenas com a capacitação técnica.

— Os profissionais são contratados por suas competências técnicas, entretanto, boa parte das vezes, demitidos por seu comportamento.

A partir do momento em que a Cultura Ética Empresarial passa a ser pauta de discussão dos executivos, cabe aos Recursos Humanos assumir o papel estratégico, com a missão de alinhar, reforçar e direcionar esse tema no ambiente corporativo.

Para a gerente de compliance individual da ICTS Protiviti, Monica Gonçalves, entender e influenciar o posicionamento ético dos profissionais é fundamental para viabilizar a implementação de ações, objetivando o desenvolvimento do ambiente e da cultura ética na organização.

— É preciso compreender o comportamento ético, possibilitando a sua gestão por meio de políticas, desenvolvimento de líderes, reforço à cultura e valores éticos, medidas disciplinares, processo seletivo, comunicação interna, entre outros.

No entanto, Reggio afirma que as ações promovidas pelas empresas, a exemplo da crescente adoção de códigos de ética e conduta, não têm sido suficientes para garantir atitudes éticas.

— É necessário ampliar os mecanismos utilizados, buscando maior eficácia.

A 2ª edição da pesquisa Perfil Ético dos Profissionais das Corporações Brasileiras contou com a participação de 8.712 profissionais de 121 empresas privadas com operações em território nacional, no período de junho de 2012 a junho de 2014.

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