Dois anos após perder o pai, único brasileiro na NFL consolida sua carreira

Redação PH

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Dois anos após perder o pai, único brasileiro na NFL consolida sua carreira

As barreiras existentes no aprendizado de uma novidade são muitas. Nem sempre se está familiarizado com o que se tem pela frente, principalmente em outro país, com um esporte com o qual sequer se tem conhecimento das regras. Para vencer no futebol americano, jogando nos Estados Unidos, Cairo Santos precisou se desdobrar e contou com o apoio de sua família, principalmente do pai, para entrar em um mundo novo, tornando-se o primeiro e único jogador nascido no Brasil a atuar na NFL.

No último domingo, estreou bem e com vitória sobre o Houston Texans (27 a 20) em sua segunda temporada pelo Kansas City Chiefs. Nesta quinta, volta à campo contra o forte Denver Broncos de Peyton Manning, às 21h30 (horário de Brasília), na abertura da Semana 2.

Cairo conseguiu aprender as regras jogando videogame. No começo, para ele, a preocupação era apenas entrar e chutar a bola oval para marcar os pontos. Seu pai, que também se chamava Cairo, acompanhou de todas as formas o filho até morrer em um acidente de avião. Ele era piloto de acrobacias e morreu em Cuiabá sem ter a chance de ver seu herdeiro se profissionalizar. Na época, o jovem Cairo cursava a faculdade de Tulane.

Hoje, Cairo conquistou respeito na NFL, a principal liga de futebol americano do mundo. Em 2014, contratado pelo Kansas City Chiefs, fez uma boa temporada, acertando 25 de 30 chutes (field goals), além de ser perfeito nos 38 pontos extras depois dos touchdowns. Para 2015, seu time sequer contratou outro jogador para a sua posição durante a pré-temporada, algo comum nesta fase, em uma demonstração de respeito ao brasileiro.

E os Chiefs começaram a temporada com o pé direito – assim como Cairo. O brasileiro acertou dois dos três field goals que tentou (48 e 27 jardas; perdeu um de 51 jardas). Ainda anotou três extra points para terminar o jogo com nove pontos. O Kansas bateu o Houston Texas por 27 a 20. Apesar da mistura de medo, incentivo e superação da família, Cairo busca a consolidação de sua carreira como kicker na NFL.

– Meu pai morreu dois anos atrás, no meu último ano da faculdade. Ele sempre gostou muito de futebol, me levava para assistir aos jogos quando morávamos em Brasília. Por isso, virei Flamengo. Quando fui para o futebol americano, ele me apoiou muito, mesmo quando minha mãe teve medo por causa do tamanho dos outros jogadores. Eu sou pequeno e ela temia que eu me machucasse – contou Cairo.

Sua mãe, Magali, passou a entender a nova vida do filho, que sonhava ser jogador de futebol. Ele chegou a jogar em times do ensino médio nos Estados Unidos e, dessa maneira, despertou a atenção do técnico de futebol americano onde estudava. Fez testes e recebeu convites de algumas faculdades para os dois esportes.

– O futebol na época era o plano A, mas quando eles me explicaram o que fazia o kicker eu topei. Tinha medo antes de entrar, me machucar e não poder jogar futebol. Meu pai também viu um futuro para mim no futebol americano. Chutava bola desde antes de andar e ele achava que eu tinha potencial, que poderia ser um investimento. Recebi duas ofertas para jogar futebol na faculdade, mas recebi mais para jogar futebol americano da primeira divisão e decidi deixar o futebol para trás – comentou Cairo, que participou de um evento promocional da liga em Londres este ano.

No futebol, o brasileiro da NFL é torcedor do Flamengo e tinha como espelho em campo o inglês Lampard, que hoje joga no New York City, da Major League Soccer (MLS). Com as linhas tortas de sua história alinhadas, Cairo vem subindo de produção. Nesta pré-temporada da NFL, foi perfeito em dois field goals e seis chutes de ponto extra nas vitórias sobre Arizona Cardinals e Seattle Seahawks. O sonho é chegar ao Super Bowl. Na temporada passada, o time sequer avançou aos playoffs.

Cairo Santos convoca a torcida dos Chiefs para os jogos desta temporada (Foto: Reprodução/Twitter)

– O time está muito mais desenvolvido do que no ano passado. Nossa força está na defesa. A meta vai ser vencer mais de 10 jogos para chegar aos playoffs e depois tentar ir ao Super Bowl – afirmou o jogador, de 23 anos.

Com contrato até o fim da próxima temporada, Cairo desperta a curiosidade de todos no grupo e na cidade. Reconhecido pelo nome quando vai em alguns lugares, o brasileiro é tratado com brincadeiras dos companheiros, principalmente em relação ao fato de ter apenas 1,73m de altura – estatura considerada baixa para o padrão americano.

Cairo em evento da NFL em Londres (Foto: Dan Mullan/Getty Images)

– Eles perguntam muito sobre a minha experiência, como aprendi a regra. Acham legal a história de eu ter aprendido no videogame. Um esporte novo que se tornou uma paixão. Meu melhor amigo tem sido o Dustin Colquitt (punter), que já está em sua 11ª temporada. Treinamos juntos, e ele me ajuda para que eu saiba o que esperar dos jogos de maior pressão – disse.

O futebol americano cresce cada vez mais no Brasil. Este ano, a seleção brasileira participou da Copa do Mundo. As ligas no país conquistam novos adeptos. Cairo acompanha à distância, recebe informações e sonha com um futuro ainda mais forte da modalidade.

– Desde a faculdade, comecei a acompanhar pelas redes sociais que atualizam os campeonatos do Brasil. Cresceu bastante. É muita alegria ver o esporte assim e poder influenciar de alguma forma. Pretendo ser o embaixador do esporte no país. Como torcedor do Flamengo, acompanho o time e sei que são bons. Já conversei com alguns jogadores de lá – comentou.

No outro campo, Cairo também acompanha como pode. Na infância, assistiu aos jogos de seu time de coração em Brasília, mas nunca teve a chance de ir ao Maracanã. O compromisso já está agendado para a próxima viagem ao Brasil.

– Espero ficar mais tempo da próxima vez. Nunca fui ao Maracanã e não é fácil acompanhar aqui pela televisão. Sei que está complicado, mas vai melhorar – afirmou Cairo.

Cairo Santos, com a camisa 5, em meio aos gigantes do Kansas City Chiefs (Foto: KC Chiefs / Divulgação)

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