Wilson destaca em tribuna a trajetória de Dante de Oliveira

Redação PH

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Wilson destaca em tribuna a trajetória de Dante de Oliveira

O deputado Wilson Santos (PSDB) lembrou a trajetória do ex-governador Dante de Oliveira, autor da emenda que marcou a luta democrática no País, a Diretas-já, com um saudoso discurso na tribuna da Assembleia Legislativa. Há nove anos, em 6 de julho de 2006, morria em Cuiabá o relator da emenda que propunha eleição direta para a Presidência da República.

“Subo à tribuna para falar de um amigo, um estadista. Do mais importante governador de toda a República mato-grossense. E olha que tivemos grandes governadores neste Estado. Governadores que ajudaram a mudar os rumos de Mato Grosso para sermos hoje, nos últimos 30 anos, o Estado que mais cresce no Brasil”.

“Não poderia deixar de prestar essa homenagem ao jovem que teve a sua vida ceifada precocemente aos 54 anos. Foi pouco tempo cronológico, mas o suficiente para que este cuiabano escrevesse o seu nome na história de Mato Grosso e do Brasil”, disse Santos.

A trajetória política de Dante, conforme Wilson Santos, começou no Movimento Revolucionário Oito de Outubro, o MR-8. “Dante foi cursar faculdade no Rio de Janeiro, engenharia civil, onde conhece o movimento estudantil. Participou dos movimentos clandestinos e se filiou no MR-8. De volta para Mato Grosso, em 1975, engenheiro formado, montou uma sociedade com seu primo Aluísio Arruda, conhecido como Macaco, e Geraldo Prado. Constrói uma empresa chamada Gemada: Geraldo, Macaco e Dante”.

“Mas o sangue político estava nas veias de Dante e ele filia-se ao Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, pelo qual, em 1976, disputa as eleições à Câmara Municipal de Cuiabá. E veja como a política não é uma ciência exata, Dante é derrotado, fica como segundo suplente do MDB. Uma Câmara que tinha Roberto França, Gilson de Barros, Benedito Alves Ferraz, Benedito Márcio Pinheiro, e o Dante de Oliveira não consegue entrar. Mas ao invés de lamentar, Dante mergulha na estrutura partidária, torna-se secretário-geral do MDB e é levado por Bezerra para a região do Baixo Araguaia onde Dante conhece um grande líder religioso e político, Dom Pedro Casaldáliga, por quem se apaixona, por quem se identifica. Casaldáliga talvez não soubesse a pedra preciosa que estava burilando, que estava trabalhando. Ali estava sendo construído um dos maiores líderes deste Estado de todos os tempos”.

“Era um conflito agrário atrás do outro, porque com o advento da Sudam em 76, por ser da Amazônia Legal, Mato Grosso tinha benefícios e os grandes latifúndios do Sul Maravilha começam a adquirir latifúndios do Baixo Araguaia, assim foi a Volkswagem, Silvio Santos. Investiam no Estado para serem contemplados com os incentivos da Sudam. Dante e D. Pedro, dois homens com convicções determinantes, sabiam de que lado estavam. E quando as urnas se abrem, em 1978, para surpresa de muitos, não para os atentos, Dante de elegia deputado estadual. Ali estava sendo construído e nascia o fenômeno eleitoral, o fenômeno político de Mato Grosso, um gigante que está terra cada dia mais observará como unanimidade na ética, na visão de estadista, não só como grande legislador e executivo que foi”, disse.

“Foi na luta de Dante pela reforma agrária que Mato Grosso ganhou uma legislação específica para elucidar os conflitos, que se consiste na permuta da área conflitada com áreas do Estado. Existe essa legislação que nasceu na luta de Dante, de Márcio Lacerda, de Paulo Nogueira e outros gigantes que merecem sim, serem reconhecidos. O nome de Dante neste edifício, por exemplo, é uma justa homenagem que esta Casa de Leis fez a este gigante”, afirmou.

Depois de um mandato extraordinário na Assembleia, Dante se candidata, em 1982, para a Câmara Federal. “Todos riem, e argumentavam que ele não tinha chances. Quando abrem as urnas, lá estava o Dante eleito deputado federal. Era o mosquito elétrico, como o chamava, carinhosamente, seu padrinho Ulisses Guimarães. E mesmo antes da posse, Dante já recolhia assinaturas para a emenda das Diretas à Constituição de 1967”.

“Batalhou, conseguiu, virou figura nacional. Dante ajuda Ulysses, Tancredo Neves, Brizola, Lula, FHC, Mário Covas, José Serra, Fernando Gabeira, Fafá de Belém, Maitê Proença, Milton Nascimento. Uma leva de políticos sérios, a classe artística vem junto, empresários sérios e o Brasil conhece o maior movimento de massa de sua história. Maior que o movimento para a Independência em 1822. Maior que o movimento para a proclamação da República. Numa caminhada só, o Brasil grita: queremos eleger presidente”.

Depois dessa luta, recorda Santos, Dante volta para Cuiabá para disputar as eleições. “Dante disputa a prefeitura e Carlos Bezerra o governo. Dante enfrenta um dos maiores cuiabanos de todos os tempos, Gabriel Novis Neves, filho de um carioca que se apaixonou por uma cuiabana, veio morar em Cuiabá e montou o famoso Bar do Bugre. Médico, ginecologista, ninguém queria enfrentar Gabriel que tinha apoio do governador da época, Júlio Campos. Antes da disputa eleitoral, Dante enfrentou uma disputa interna com Rodrigues Palma. Dante venceu a convenção. É aí que eu chego, com o grupo do Osvaldo Sobrinho, meu primo.

Apoiamos Palma, mas fomos com Dante para a campanha. Assim começou uma relação de 21 anos. A minha formação devo muito a dois políticos de Mato Grosso. Primeiro, a Osvaldo Sobrinho, com quem aprendi ser incansável, ser interminável, não esmorecer jamais, manter a moral sempre elevada. E depois uma formação mais politizada, de ideias, pensamentos, estrutura, estratégia, ação, eu devo isso a Dante Martins de Oliveira”.

“Ganhamos a eleição em Cuiabá do Gabriel Novis, 61 a 39% dos votos. O Dante vem e dá a Secretaria de Serviços Públicos ao grupo político do Osvaldo Sobrinho, que houve também uma disputa interna e o professor Carlos Carlão foi o escolhido do grupo e me leva para assessorá-lo. Eu fui assessor financeiro, depois fui diretor de serviços urbanos, fui subsecretário e saio candidato a vereador em 88, pelo PMDB, e começo a minha carreira parlamentar”.

“Dante fez o primeiro e único Hospital Municipal de Cuiabá até hoje, constrói três policlínicas, uma no Verdão, uma no Coxipó e uma no Planalto. Universaliza o acesso das crianças à educação com a secretária Serys Slhessarenko. Torquato era o seu vice. Deixa a Prefeitura para ser ministro de Sarney. Fica um ano na reforma agrária, é quando ele desapropria a Coqueiral-Quebó, que pertenceu ao grupo Ipiranga, 49 mil hectares, até então o ministro que mais havia desapropriado no Brasil”.

“Fica um ano, volta, termina o mandato, fica dois anos sem mandato. Em 90, disputa para deputado federal. Com mais de 50 mil votos, foi o mais votado, porém, o PDT não consegue coeficiente eleitoral. Dante fica no ostracismo por mais dois anos, com dois que já estava sem mandato, quatro anos, e volta à prefeitura em 92 com o coronel José Meirelles de vice. No seu segundo mandato ele fica apenas quinze meses, deixa a prefeitura em março de 94, disputa o governo do Estado e vence as eleições concorrendo com meu primo Osvaldo Sobrinho”.

Dante chegou ao governo com três meses de salários em atraso. “A folha salarial representava 112% da arrecadação do Estado em janeiro de 95, como governar? Como transformar as promessas em realidade? O Estado devia mais de R$ 4 bilhões à União. 85% da energia consumida aqui era de fora, cachoeira dourada, nós não conseguíamos nem gerar energia. Bemat falido, Cemat aos pedaços, Sanemat sucateada”.

“Dante deixa de lado muitas ideologias, muitas filosofias e decide por em prática o que era possível. Decide por um grande programa de privatização e faz a concessão das Centrais Elétricas de Mato Grosso. Liquida o Banco do Estado e sob a liderança do secretário da Fazenda, um dos seus principais conselheiros, Valter Albano, Dante foi o primeiro governador a renegociar as dívidas de um estado com a União. Saneia Mato Grosso, demite, enxuga, terceiriza, busca parceiros e adoece. Dante pede licença por 30 dias para cuidar da saúde ainda no primeiro semestre de mandato”.

Ao final do mandato, conforme Wilson Santos, Dante entrega um governo ao seu sucessor com as seguintes características: “salários rigorosamente em dia, e a mudança de salário para subsídio, faz o mais sério e técnico plano de cargos e carreiras da história do serviço público mato-grossense. Onde importava 85% da energia deste Estado, Dante deixa Mato Grosso para Rogério Salles, depois para Blairo Maggi, exportando energia. Mato Grosso torna-se exportador de energia e o Magrão põe a mala nas costas e vai vender Mato Grosso ao mundo”.

“Traz americanos que construíram a Usina Enron, com mais 480 megawatts movidos a óleo diesel, vai buscar Fernando Henrique e novos americanos para trazer o gasoduto de 700 quilômetros, lá de Santa Cruz até Cuiabá, e que os seus sucessores, por incompetência, irresponsabilidade até hoje não conseguiram distribuir o gás que vem da Bolívia. As indústrias do distrito industrial de Cuiabá não tem acesso a essa nova matriz energética que é o gás boliviano. Eles não sabem o quanto custou isso, eles não sabem, não querem saber, não tem sensibilidade, não conhecem este Estado”.

“E na área do transporte, Dante com FHC trazem a ferrovia a Mato Grosso, um sonho de Vicente Vuolo. Na saúde, Dante completou o Hospital Regional de Rondonópolis, concluiu e fez funcionar o Hospital de Cáceres. Construiu o Hospital Regional de Sorriso, de Barra do Garças, de Colíder, e depois de Dante quem é que fez mais um hospital? Treze anos se passaram e os que passaram pelo governo saíram mais ricos do que entraram, mais não fizeram nenhum hospital”.

Finalizando, o deputado disse que Dante tem de ter seu nome cravado com letras de ouro. “O Dante é um daqueles que nascem a cada cem anos. Esta data não poderia passar em branco nesta Casa de Leis que leva o seu nome. Que Deus possa tê-lo Magrão. Onde você estiver, muito obrigado por ter existido Dante. Obrigado por ter sido, para todos nós, um exemplo”.

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