Todo mundo conhece alguém que tem ou já teve uma hérnia! No entanto, poucas pessoas entendem o que é a doença, quando é necessário cirurgia ou quão perigosa ela é. Explicando de uma forma bem simples, nossos órgãos, principalmente os do abdômen, são protegidos por uma camada que funciona como uma bolsa, para que nada “saia do lugar”. A hérnia é quando surge algum “furo” nessa bolsa, fazendo com que parte dos órgãos saiam dessa proteção.
Pois então, essa explicação simplifica o que acontece no corpo. A hérnia surge devido a um escape parcial ou total de um ou mais órgãos por um orifício que se abriu nas camadas de tecido protetoras dos órgãos internos. Essa “fraqueza” na camada pode acontecer em qualquer parte do corpo, como umbigo, coxa, virilha, coluna, abdômen, gerando uma protuberância.
Diversas causas podem gerar uma má formação na camada. Segundo a Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal (SBH) as principais são: fatores hereditários, pontos de fraqueza na musculatura, alterações do tipo de colágeno (proteína que confere resistência aos tecidos) produzido pelo organismo da pessoa, cirurgias prévias no local, situações que aumentem a pressão intra-abdominal – como obesidade, gestação, tosse excessiva e constipação. Alguns estudos apontam que o esforço físico em excesso também pode ser uma causa, mas não são todos que concordam com a afirmação.
E quanto às dores? Nem sempre elas existem! O principal sintoma da hérnia é a presença de um inchaço ou protuberância na região afetada. No entanto, o que pode acontecer é aumentar a abertura no tecido muscular, e aí a chance de sentir dor e desconforto é maior, principalmente com atividades que pressionem a região, como esforço para evacuar, tossir, ficar muito tempo em pé e levantar peso, por exemplo.
A hérnia pode surgir, “sumir” e reaparecer novamente. O Ministério da Saúde alerta que o problema se agrava quando os órgãos não retornam à posição normal (encarcerando ou estrangulando), podendo levar a um bloqueio da circulação sanguínea na parte do tecido em que ocorreu a protusão. Aqui, além de muita dor, a pessoa pode desenvolver náuseas e vômitos. É preciso que a pessoa procure assistência médica para realizar uma cirurgia o mais breve possível, para cuidar dos órgãos lesionados e evitar complicações sérias que podem chegar até a morte.
Mas no geral, apesar de não ser uma doença grave, as hérnias não somem sozinhas. Não adianta usar cintas ou faixas para prensar a região. Também não existem medicamentos ou exercícios específicos que façam a correção dela. O tratamento definitivo é alcançado com o procedimento cirúrgico, então toda hérnia deve ser avaliada por um cirurgião geral. Há exceções a essa regra de cirurgia, que são pacientes que possuem contraindicações para o procedimento.
Mas fique tranquilo, não são todos os pacientes que precisam ser submetidos à cirurgia de modo emergencial. De todo modo, as cirurgias para tratar a doença avançaram muito nos últimos anos. Além dos procedimentos cirúrgicos abertos, hoje temos as correções de hérnia por videolaparoscopia, que são pequenos cortes minimamente invasivos, que diminuem consideravelmente o tempo de recuperação.
Lucas Bertolin é Cirurgião Geral e Oncológico no Hospital de Câncer de Mato Grosso e Hospital Santa Luzia de Matupá.