Turbulência política deixa cenário da pecuária nebuloso, diz professora da FGV

Redação PH

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Turbulência política deixa cenário da pecuária nebuloso, diz professora da FGV

A missão de descrever as intempéries políticas e econômicas que o Brasil atravessa para tentar traçar uma previsão de mercado da pecuária no país e em Mato Grosso ficou a cargo do professor doutor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Alexandre Mendonça de Barros, durante o dia de palestras do 8º Simpósio Nutripura, realizado nesta sexta-feira (02.06), em Rondonópolis. A delação premiada dos proprietários da maior empresa frigorífica em operação no país, a JBS, transtornou o mercado, na opinião do especialista, o que desenha uma perspectiva nebulosa para o setor pecuário.

“A gente não conhece a dimensão da redução dos abates. Isso impede que façamos qualquer previsão. Estamos vivendo um total desequilíbrio. Vai haver um afunilamento da oferta, que é maior, e uma redução do abate. Mato Grosso terá o cenário mais desafiador, porque tem a maior oferta. Não consigo ver um cenário de recuperação. Esperamos que o clima permita pastos satisfatórios para manter os estoques e que haja um reposicionamento”, avaliou Barros. O tema de sua palestra foi “Cenário de preço da carne e insumos para a próxima safra, oportunidades para garantir a rentabilidade do seu negócio”.

Contextualizando o início da atual crise econômica brasileira, cujos primeiros sinais foram evidenciados em 2015, antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o professor da FGV fez um panorama dividindo as hipóteses futuras entre antes e depois do acontecimento de três semanas atrás – os desdobramentos da delação dos donos da JBS. Conforme ele, neste ano, o país havia iniciado um processo de recuperação do crescimento e queda de juros, o que favoreceria o mercado pecuário. Para ele, as medidas para proceder as reformas previdenciária e trabalhista já estavam novamente atraindo investidores e recolocando a posição brasileira no mercado internacional.

“Seria o desenho de uma economia que ia começar a se recuperar mais fortemente, que este ano deveria crescer 1%, que provavelmente cresceria, no próximo ano, na casa de 2,5% a 3%; uma inflação despencando, perto de 4%, e na medida que fosse retraindo, a taxa de juro também cairia. Nós achávamos que íamos acabar o ano em torno de 8,25% de juros. Para a pecuária, ganha-se força no consumo mais barato, porque a demanda puxa o consumo com um câmbio mais baixo”, descreveu, apostando que a agenda reformista pudesse continuar.

O ambiente de insegurança começou a partir de março, quando deflagrada a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investigou um esquema de pagamento de propina por frigoríficos a fiscais do Ministério da Agricultura e Pecuária para o afrouxamento na fiscalização da qualidade dos produtos. “Em abril, tivemos uma redução de 18% no abate no Brasil em relação ao mesmo mês do ano passado. Isso representou quase um milhão de cabeças a menos. Desde então, o volume de animais abatidos está caindo e a oferta de gado, aumentando”, acrescentou Barros.

A incerteza com relação às reformas que o país precisa o deixa vulnerável, “sem rumo”, segundo o palestrante, mantendo o nível de desemprego na iminência de um ano eleitoral. “Esse desenho vai reduzindo a possibilidade de crescimento, o juro vai cair mais devagar e o real fica mais fraco. A soja sobe de preço, o milho sobe de preço e isso é ruim para pecuária. Quanto mais o quadro político for se delongando, vai diminuindo uma probabilidade reformista e vai aumentando a probabilidade de um ambiente mais nervoso”.

O cenário desfavorável foi um dos pontos que mais chamou atenção do pecuarista Emerson Gláucio Berro, proprietário de uma fazenda em Pontes e Lacerda. “Um evento desses ajuda a atualizar. Essa questão sobre mercado você tem uma noção do que pode acontecer no futuro. A gente já tinha uma noção de que o mercado ia ficar de estabilizado pra baixo e, na perspectiva do analista, só confirmou o que estávamos esperando. O cenário político é o que está sendo determinante para nossa atividade, para todo o Brasil”.

O criador José Eduardo Bobroff, de Chapada dos Guimarães, destacou também a importância do ambiente de discussão e aprendizado para saber os passos certos para se manter no mercado. Ele realiza a atividade há 50 anos. “Este ano já foi. Temos que pensar o ano que vem e esses encontros propiciam o fortalecimento das informações para definir como agir em momento em que a arrouba do boi está baixa”, ponderou.

REALIZAÇÃO -O 8º Simpósio é uma realização da empresa Nutripura e conta com o apoio do Sistema FAMATO/SENAR/IMEA, da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), além de diversos patrocinadores.

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