Senadores criticam recuo do governo na compra de vacina contra coronavírus Fonte: Agência Senado

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) fala sobre a Coronavac em entrevista coletiva no Senado, ao lado do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e do governador de São Paulo, João Dória Edilson Rodrigues/Agência Senado

Senadores criticam recuo do governo na compra de vacina contra coronavírus Fonte: Agência Senado

O recuo do governo na compra da vacina Coronavac foi motivo de críticas de vários senadores. O presidente da República, Jair Bolsonaro, desautorizou o Ministério da Saúde, que havia anunciado nessa terça-feira (20) a compra de 46 milhões de doses da vacina contra o coronavírus produzida pelo Instituto Butantan em parceria com um laboratório chinês. Os senadores classificaram o recuo como “estupidez”, “falta de conhecimento” e até “atentado contra a saúde pública”.

Na visão da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), a decisão de desautorizar o Ministério da Saúde a comprar a vacina chinesa “beira a estupidez”. Ela disse que desprezar uma vacina eficaz apenas em razão do país que a produz é menosprezar a vida. Para a senadora, politizar a saúde pública é irresponsabilidade. “Queremos a cura da doença”, concluiu Eliziane, em sua conta no Twitter.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também foi ao Twitter para afirmar que “é atentado à saúde pública o descaso do presidente [Bolsonaro] com a vida dos brasileiros”. Segundo o senador, a vacina contra o coronavírus é medida obrigatória, “não importa de que país venha”. Ele ainda disse que “vidas humanas não são números nem podem ser ameaçadas pela irresponsabilidade de governantes”.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apontou que “além de demonstrar a falta de conhecimento e de empatia com a vida das pessoas, chamar a vacina de ‘vacina da China’ é xenofobia”. Ele lembrou que vacina Coronavac está sendo produzida em parceria com o Instituto Butantan, respeitando testes criteriosos. Para o senador, a atitude do governo, “mais do que ignorância, é desonestidade”.

— A vacina, além da vida, é a libertação. É nos livrar da máscara, é podermos nos encontrar novamente. Não pode haver controvérsia sobre essa vacina. Não pode haver controvérsia sobre a vida — afirmou o senador.

Pelo Twitter, Randolfe fez um apelo direto a Jair Bolsonaro: “Presidente, deixe as diferenças para depois. Já perdemos muito e vamos perder mais, caso não assumas teu posto de liderança. Além da pandemia, já estamos em uma crise econômica grave. Supere as questões pessoais, vamos lutar pela vida! Libere a vacina ao povo do país!”

Ideologia

Na opinião do senador Humberto Costa (PT-SE), que é médico, Bolsonaro coloca os interesses pessoais e ideológicos acima da vida dos brasileiros. Em sua conta no Twitter, Humberto disse que “o cenário que ele quer é de um país onde o povo passe fome e continue sendo fortemente atingido pela covid-19”. Segundo o senador, “seguimos sem ministro, sem vacina, sem um plano para sair da crise”.

Humberto Costa destacou que “Bolsonaro brigou para dar cloroquina ao povo e agora vai interromper a compra da vacina. Enquanto isso, a covid-19 continua matando milhares de pessoas”. Para o senador, Bolsonaro nunca ligou para as vidas perdidas. Ele classificou o recuo do governo como “mais uma atitude criminosa do presidente que coloca a política acima da vida” e pediu “Fora Bolsonaro”.

Também pelo Twitter, o senador Weverton (PDT-MA) registrou que “todos temos muita expectativa para a chegada da vacina do coronavírus, para que tudo volte ao normal e tenhamos tranquilidade. Não importa se venha da China ou onde for”. Ele disse que “ideologia, teorias da conspiração e disputa política não podem ficar acima disso”, pois “precisamos defender vidas!”.

Na mesma linha, o senador Jean Paulo Prates (PT-RN) lamentou o “egocentrismo” de Bolsonaro. Pelo Twitter, ele disse querer “lembrar ao presidente que a população brasileira está acima de qualquer questão, principalmente política e ideológica”. O senador afirmou que “Bolsonaro deveria pensar mais na população e não enterrar as esperanças do povo brasileiro de um capítulo final para essa pandemia”.

Recuo

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, havia anunciado nessa terça-feira (20) a intenção de comprar 46 milhões de doses da vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. O Butantan tem sede na capital paulista e larga experiência na produção de vacinas. Durante uma reunião com representantes de vários estados, o ministro chegou a falar que a vacinação iria começar em janeiro. Vários governadores comemoraram a decisão do governo. Senadores como Humberto Costa e Randolfe Rodrigues também celebraram a possível compra da vacina.

Nesta quarta-feira (21), porém, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, ao negar a compra do que chamou de “vacina chinesa de João Dória”. Ele disse não abrir mão de sua autoridade. Ao responder seus apoiadores no Twitter, Bolsonaro disse que “para o meu governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa”. Ele ainda registrou que o “povo brasileiro não será cobaia de ninguém” e afirmou que sua decisão “é a de não adquirir a referida vacina”.

Coletiva

Em entrevista coletiva em Brasília na manhã desta quarta-feira (21), o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), disse que a Coronavac é a vacina mais avançada no país e lembrou que o Instituto Butantan tem 120 anos de existência, é o maior produtor de vacinas do Brasil e conta com grande prestígio internacional. De acordo com o governador, a volta ao normal ocorrerá com a vacina, e se possível com “as vacinas”.

— A vacina do Butantan é a vacina do Brasil, é a vacina de todos os brasileiros. Não classificamos vacina por razões políticas, ideológicas ou eleitorais. Não é a ideologia que vai nos salvar, é a vacina — declarou Dória, lembrando que cerca de 700 cidadãos estão morrendo diariamente em razão da covid-19.

Na mesma entrevista coletiva, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) disse que é preciso investir mais na ciência. Ele destacou que a vacina não é um “milagre”, mas resultado de investimento em pesquisa e inovação. O senador ainda defendeu o acordo para a compra da vacina Coronavac por parte do Ministério da Saúde, como forma de beneficiar todos os brasileiros.

— Não podemos tomar posição política e ideológica em relação à vacina. Defendemos todas as vacinas, mas a do Butantan deve ser a primeira [a ficar pronta] — afirmou o senador.

Vacina

O secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, declarou que o Brasil tem o melhor e maior programa de vacinação gratuita do mundo. Ter um programa rico de vacinação, destacou, é um indicativo de desenvolvimento. Segundo informou o secretário, o Butantan é responsável por 75% dos programas de imunização no país. No caso da vacina contra a gripe, esse número é de 100%. O secretário disse que esse caráter nacional não haverá de ser diferente no caso da vacina contra o coronavírus. Ele admitiu que o coronavírus “veio para ficar” e que será necessário vacinar a população anualmente.

— O Butantan não é de São Paulo, é de todos os brasileiros. Essa vacina vai permitir que as pessoas parem de morrer — afirmou.

O diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, disse que a vacina está sendo produzida há quatro meses. Segundo Covas, há 2,5 mil pessoas trabalhando intensamente no instituto para que a vacina contra o coronavírus chegue logo até a população. Ele destacou ainda que a discussão neste momento é sobre o financiamento para a produção da Coronavac e admitiu que, se não houver recursos oficiais, o instituto vai procurar financiamento alternativo.

— Estamos com a vacina em fase final de desenvolvimento. Logo ela estará disponível. É preciso enfatizar: esta vacina é produzida no Butantan, com selo do Butantan — registrou Covas.

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