Santa Casa de Cuiabá volta a ser pauta de discussão em audiência na ALMT

Santa Casa de Cuiabá volta a ser pauta de discussão em audiência na ALMT
Marcos Lopes/ALMT

Santa Casa de Cuiabá volta a ser pauta de discussão em audiência na ALMT

A precariedade que levou ao fechamento da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá foi o foco dos debates feitos hoje (25), em uma audiência pública proposta pelo deputado Lúdio Cabral (PT) e que reuniu todos os segmentos envolvidos. “Temos que traçar um plano estratégico para a Santa Casa. Nosso objetivo é encontrar um caminho, pois não se pode abrir mão de toda a sua estrutura e queremos, também, ouvir os trabalhadores”, disse o parlamentar. Lúdio sugeriu uma intervenção com uma equipe que faça a gestão da crise e um planejamento para uma reabertura o mais breve possível da unidade. Ainda, vai sugerir ao presidente da Assembleia Legislativa que chame o governo e a prefeitura para discutirem a possibilidade de uma ajuda adicional emergencial à Santa Casa. O hospital é filantrópico, oferta 30 leitos de UTIs (10 adulto, 10 infantil e 10 neonatal), além de dez centros cirúrgicos, e foi responsável por 70 mil procedimentos e 7 mil cirurgias só no ano de 2017, no entanto, está com seis meses de atraso salarial e de portas fechadas.

O servidor Marcelo de Souza também acredita que a saída é uma intervenção. Ele foi aplaudido pelos colegas ao expor que se sente envergonhado de não ter como dizer para seus filhos quando irão ao supermercado, revelou que os filhos só estão indo à escola porque conta com a ajuda do pai e do sogro e informou que uma técnica de enfermagem, servidora do Pronto-Socorro de Cuiabá, se suicidou neste último final de semana por não suportar os problemas vivenciados pela categoria. Da mesma forma, Kleberson Silva (voluntário da Santa Casa) e Merci Maria de Carvalho (esposa de paciente que só conseguiu fazer cirurgia após três mandados na justiça) fizeram um apelo às autoridades. “Quem sofre com o fechamento da Santa Casa somos nós que dependemos do SUS, que não é de graça porque pagamos impostos”, resumiu Merci.

O secretário de Estado de Saúde, Gilberto de Figueiredo, informou que no último dia 14 esteve em Brasília com o ministro da Saúde para solicitar apoio à Santa Casa. Em resposta, o ministro assegurou que há disposição do ministério em contribuir com uma solução, mas que ela seja definitiva. Por isso, solicitou um plano de ação estratégica que tenha dois aspectos: primeiro de como tratar o passivo (as dívidas) e, segundo, como dar perenidade às ações da unidade, para que ela não volte a fechar as portas. “Agora é sentar o município de Cuiabá, o estado de Mato Grosso e a Santa Casa de Misericórdia para fazer esse plano”, pontuou. Sobre o plano, o diretor-presidente da Santa Casa, Carlos Coutinho, afiançou que já foram tomadas as primeiras providências, que dois profissionais, sendo um especialista em administração e outro em crise, foram contratados. Mesmo questionado, Coutinho não revelou os nomes dos profissionais nem quanto vai custar o projeto, e sobre prazo disse que será “no menor tempo possível”.

O deputado estadual Ulysses Moraes (DC) já apresentou, na Assembleia Legislativa, indicação de formação de um comitê multidisciplinar para tratar a situação. A proposta é que a prefeitura de Cuiabá, Legislativos de Cuiabá e do estado, Executivo, Ministério Público e diretoria, servidores e voluntários da Santa Casa integrem esse comitê. Wilson Santos (PSDB), João Batista (Pros) e Dr. João José (MDB) defenderam que, assim que haja entrada de dinheiro, o pagamento do servidor seja priorizado. Este último sugeriu um termo de ajuste com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para pagar os servidores. Já o deputado Paulo Araújo (PP) foi além e disse que “não adianta repassar recursos com o modelo de gestão atual, precisa de uma nova gestão hospitalar para reerguer a Santa Casa. Já Carlos Avalone foi sugestivo: “é reunir esforços e fazer um plano que resolva os problemas da Santa Casa e de seus servidores o mais urgente possível”.

O deputado federal Dr. Leonardo falou da qualidade no atendimento da Santa Casa, lamentou que os servidores estejam há seis meses sem receber. Para ele, quem tem que fazer esse plano é a diretoria da Santa Casa. Ele defendeu a união entre estado e município de Cuiabá para uma solução emergencial. “Essa queda de braço do estado e do município não vai levar a nada, vamos pensar na população. Quem está sofrendo é o cidadão sem atendimento e o servidor sem salário”, ponderou. Ele lembrou que o problema das Santas Casas é global no Brasil, e é necessário uma mudança em todas as unidades,  em todo o Brasil, por isso entrou na Frente das Santas Casas na Câmara Federal.

As oscilações na oferta dos serviços pela Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá são recorrentes. Por diversas vezes, ao longo dos anos, os mesmos problemas são vivenciados. Na última grande crise, em agosto de 2018, para evitar o fechamento da unidade, foi feita uma pactuação entre estado e município. De acordo com o secretário estadual de Saúde,  naquela ocasião eram necessários R$ 7 milhões emergencialmente e houve um aporte de  R$ 6 milhões, sendo R$ 3 milhões do estado e R$ 3 milhões do município, e adiantaram outros R$ 468 mil, chegando perto dos R$ 7 milhões, evitando o fechamento do hospital. Antes disso, em 2017 uma crise levou à repactuação de dívidas em 120 parcelas, o que leva a Santa Casa a pagar, atualmente, um milhão mensal em parcela.  Para se ter uma ideia do que isso representa, segundo a prefeitura, houve um mês em que o recurso destinado à Santa Casa era de um milhão e cinquenta mil reais; com o desconto da parcela, o hospital recebeu 50 mil reais naquele mês.

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