Os reféns libertados nos últimos quatro dias pelo Hamas ficaram 50 dias sem tomar banho e dividiram remédio para dormir. A pouca comida disponível no cativeiro do grupo terrorista palestino, na Faixa de Gaza, fez com que todos eles perdessem peso. Alguns chegaram a emagrecer mais de 10 quilos.
Os relatos foram compartilhados com profissionais de saúde, que analisaram as condições de saúde dos reféns logo após a chegada deles a Israel. A médica Margarita, responsável pelo departamento que recebeu essas pessoas no Centro Médico Wolfson, ficou abalada com as histórias que ouviu. Após terem sido levados pelos terroristas e separados de suas famílias de forma traumática, os prisioneiros passaram a viver em condições insalubres em túneis subterrâneos.
“Uma refém idosa contou que eles não tomaram banho por 50 dias. Não tinham água suficiente. Triste, triste ouvir isso”, afirmou Margarita em entrevista ao jornal israelense Yedioth Ahronoth.
“Nos primeiros dias, era difícil para eles conseguirem dormir à noite por causa do estresse e do medo, e isso é compreensível. E então os terroristas do Hamas deram a eles um medicamento para dormir, e eles dividiram a pílula em quatro pedaços para permitir que o maior número de pessoas pudesse descansar. A qualidade do sono não era boa. Eles dormiam em camas próximas uma da outra, e era apertado”, acrescentou.
A refém contou que os prisioneiros não foram maltratados nem sofreram privações graves. Apesar disso, recebiam o mínimo para se manterem vivos e em condições razoáveis de saúde. A comida era principalmente arroz, conserva de homus e feijão. Em raras vezes, os terroristas ofereciam também pão e queijo, mas não mais que isso. Sem frutas, sem legumes, sem ovos. A prisioneira idosa que conversou com Margarita chegou a perder 12 quilos.
“Pelo que eu entendi da conversa, ela e todos os outros tentaram evitar comer muito, porque o feijão e o homus causavam prisão de ventre. Eles tinham medo de complicar as coisas e de não conseguir se cuidar, e não queriam que lhes dessem comprimidos para dores de estômago. Então, eles se certificaram de beber muito. Eles tinham água”, disse a médica.
Merav Raviv, que teve três parentes libertados pelo Hamas na sexta-feira (24), revelou à agência de notícias AP (Associated Press) que sua prima e sua tia, Keren e Ruth Munder, perderam cerca de 7 quilos cada uma ao longo dos 50 dias em que estiveram no cativeiro. A essa mesma agência, a refém Yocheved Lipschitz, de 85 anos, contou que os prisioneiros faziam uma refeição diária. A neta de Yocheved, Adva Adar, afirmou que a avó perdeu peso e está visivelmente mais magra.
A maioria dos reféns libertados parecia estar em boas condições físicas, capaz de andar e falar normalmente. Mas ao menos dois precisavam de cuidados médicos mais sérios. Alma Avraham, de 84 anos, libertada no domingo (26), foi levada às pressas, em estado crítico, para o Centro Médico Soroka de Israel, na cidade de Be’er Sheva, no sul do país. O diretor do hospital disse que ela tinha uma doença preexistente que não havia sido tratada adequadamente em cativeiro. Outra refém teve que ser conduzida para fora do cativeiro com o uso de muletas. A condição de saúde dela não ficou clara.
Dias intermináveis e escuridão
Dentro dos túneis, era difícil saber quando era dia e quando era noite. Segundo a doutora Margarita, os reféns relataram que passavam a maior parte do dia no escuro, com uma brecha de duas horas diárias para um banho de sol. A falta de noção sobre o tempo fazia os dias parecerem intermináveis. Mas esse não foi o único problema.
Segundo a AP, houve indicações iniciais de que os reféns recentemente libertados estavam sendo mantidos em subsolo até que se adaptassem novamente à luz do sol. Eyal Nouri, sobrinho de Adina Moshe, de 72 anos, revelou que a tia andava com os olhos baixos. Os médicos temiam que a claridade repentina pudesse causar danos à visão dela.
“Ela andava com os olhos abaixados, porque estava em túnel. Ela não estava acostumada com a luz do dia. Durante o cativeiro, ela esteve desconectada de todo o mundo exterior”, afirmou Nouri.
Para além dos raros momentos em que tomavam banho de sol, os reféns passavam as horas conversando entre si. Essa era a única atividade que lhes restava. Eles não podiam assistir à televisão, ler, nem mesmo escrever em um pedaço de papel. Os terroristas temiam que eles usassem lápis e canetas para escrever alguma informação que pudesse comprometê-los.
“O poder deles [dos reféns] vinha do fato de que estavam juntos e cuidavam uns dos outros. Uma delas contou que, no primeiro dia, eles se sentaram e compartilharam as terríveis experiências que tiveram. Cada um contribuiu com o que podia”, disse Margarita.
“Por exemplo, havia um que conhecia muito bem a história de Israel, então eles se sentaram por duas ou três horas por dia, e ele deu uma palestra interessante sobre a história do país. Havia aqueles que cozinhavam e cuidavam da comida. Uma delas abordou os terroristas em árabe e disse a eles ‘nos traga óleo’, para lidar com a prisão de ventre. Essa preocupação mútua os manteve juntos”, acrescentou.