Após crescimento de 0,7% em fevereiro (maior alta do ano), indústria brasileira enfrenta novos declínios em decorrência de crises anteriores como a dos semicondutores. A situação, contudo, se deve também a outros fatores e as quedas atingem inclusive a indústria global. Entenda
Embora registre alguns picos de mudança positiva, o que deixa o setor bastante entusiasmado, a indústria brasileira sofre desde 2014 com diversas crises que afetam sua produtividade e a economia nacional.
Após alta de 0,7%, em fevereiro deste ano, o setor registrou taxa de 0,3% (queda de -0,4% com relação ao mês anterior) no mês de março, seguido de 0,1% em abril e 0,3% em maio.
No acumulado de 12 meses (maio 2021 a maio 2022), a queda no período foi de -2,8%. Desde maio de 2011, a indústria não apresenta um crescimento recorde, quando registrou então taxa de 17,9%.
E desde 2017, o setor não apresenta crescimento de mais de 1% ao mês.
A indústria automotiva, por exemplo, foi uma das mais prejudicadas, mas desde a produção de eletrodomésticos, passando por consoles até indústria de aço e chapa perfurada, cada setor enfrenta suas dificuldades ano a ano.
O que prejudica tanto a indústria no Brasil?
São vários os fatores. Comecemos pelo mercado interno.
A indústria brasileira, por exemplo, é pouco competitiva, visto que o mercado nacional não exporta para uma grande quantidade de países.
Existem ainda muitas dificuldades na importação de insumos, cuja taxa de câmbio é muito depreciada e então, o Brasil encarece esses insumos na hora de comercializar seus bens.
A economia nacional, por sua vez, cresce pouco, com renda real em queda e uma taxa de juros (Taxa Selic) a 13,75% ao ano.
A par disso, entram as crises externas, como a provocada pela pandemia da Covid 19, que paralisou o mundo com um lockdown em todas as nações.
Com essa crise, indústrias interrompem ou quebram, enquanto matérias primas importantes são redirecionadas para outros setores para tentar um reaquecimento.
Em meio a este cenário, surge então a crise mundial dos semicondutores (condutores de correntes elétricas) e que, segundo relatório da KMPG, deve durar até 2023.
A “crise dos chips”, como é chamada, impacta o mercado não apenas no Brasil (indústria automotiva, eletrônica e etc) como também em vários países.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – Abinee, por causa desta crise, 12% dos fabricantes nacionais interromperam suas produções em 2021.
Isto porque os semicondutores são parte de uma economia global integrada e sem os mesmos, indústrias de automóveis, smartphones, computadores e outros eletrônicos simplesmente param de funcionar.
A crise na indústria não atinge só ao Brasil
Uma vez que a produção tecnológica e industrial nos próprios países desenvolvidos foi atingida, por conta das crises citadas acima, a economia no mundo sofre uma contração, sobretudo no setor industrial.
Fábricas da Ásia, dos Estados e da Europa, por exemplo, tentam a todo custo manter os níveis de produção, ao passo que a China tenta manter o contágio da Covid sob controle, a fim de retomar boa parte de suas produções industriais que estão paralisadas.
Com isso, toda cadeia global sofre com a falta de produtos, insumos e uma queda na economia.
Claro, os impactos no Brasil são piores, dada a falta de estrutura no país e outros gargalos, o que implica nos quadros vividos pela indústria nacional, com as quedas e a redução da participação do pib de 15% para 11%.
Fatores positivos
Apesar de todo cenário desgastante, um fator bastante positivo é a queda da taxa de desemprego, que segundo relatório do PNAD, atingiu em agosto 8,7% contra 12,1% no mesmo mês de 2021.
A queda da taxa de desemprego é comemorada por empreendedores, investidores e economistas, porque reacende as esperanças de uma retomada do crescimento.
Embora com o poder de compra reduzido, os brasileiros retornando ao mercado de trabalho, podem ter de volta alguns hábitos de consumo, à medida que o mercado retome também as suas atividades e a economia der sinais de recuperação – mesmo que pequenos – em 2023.