O tempero da tecnologia Indiana

O tempero da tecnologia Indiana

O tempero da tecnologia Indiana

A Índia é um local difícil de digerir. Não só pela sua comida, com tempero e “picância” exótica para o paladar ocidental, mas pelo sucesso que vem conseguindo trilhar em meio a tantas dificuldades. Esta constatação veio após a minha participação na delegação da terceira missão técnica do programa AgriHub, realizada nas últimas semanas.

Nós brasileiros conhecemos pouco da Índia. Além de uma fração da sua cultura e monumentos, como o magnifico Taj Mahal, uma das coisas que geralmente conhecemos são as estatísticas de população, atualmente com quase 1,3 Bilhão de habitantes, número que deve colocar o país em breve na posição de mais populoso do mundo, ultrapassando a China – que tem 100 milhões de habitantes a mais, ou seja, quase meio Brasil a mais.

Se muita gente já não fosse algo difícil de um governo administrar, a diversidade de línguas complica muito mais a coisa. Além do inglês, resultado da colonização inglesa, o país tem oficialmente o Hindi e outras 21 línguas, sendo que na verdade estas línguas são desdobradas em mais de 400 idiomas e dialetos, onde não só a fala, mas as escritas variam bastante.

Mesmo neste contexto, com os avanços tecnológicos da revolução verde e o estabelecimento de um sistema de extensão rural muito forte e eficaz, em meados da década de 90, a Índia conseguiu superar as dificuldades e se tornar um exportador líquido de alimentos.

A Índia não teve um papel de protagonista no desenvolvimento das tecnologias desta revolução que iniciou pós segunda guerra mundial se expandindo fortemente para os países em desenvolvimento no final da década de 60, sendo considerado o americano Norman Borlaug, o pai desta revolução, laureado com o prêmio Nobel da Paz por seus serviços prestados há humanidade.

Mesmo tendo superado o desafio do volume de produção, prova da falta de protagonismo da Índia está em seus grandes desafios, como o nutricional. Como praticamente metade da população é vegetariana, por questões religiosas, a demanda por alimentos que possam suprir a carência de proteínas, como feijão e pulses, é enorme e pode trazer boas perspectivas de negócios e diversificação da produção aqui no Brasil.

Apesar disso, o papel da Índia na revolução tecnológica vivida atualmente – que chamamos de “Era da Agro Inteligência” – é de protagonista. Por isso, o foco da missão internacional foi visitar e desenvolver relacionamento com incubadoras, aceleradoras e agências de fomento de Startup’s, nome dado as empresas de tecnologias com alto potencial de crescimento.

Mesmo representando cerca de 5% do volume de empresas do tipo, o país já tem em ação mais de 350 Startup’s dedicadas ao Agronegócio, um número equivalente ao do Brasil, onde o Agronegócio tem uma influência maior sobre a economia.

Quando questionamos quais seriam os segredos do sucesso dos nossos anfitriões, a repostas apontaram para três pilares: – Infraestrutura tecnológica do país (internet, servidores, bancos de dados e etc); – Capacidade e baixo custo da força de trabalho; – Incentivos governamentais.

A dor de cotovelo foi grande, pois não escutamos ninguém reclamar do governo, ao contrário, foram frequentes os elogios. Um país que não só oferece recursos e facilita a vida dessas empresas em fase de desenvolvimento, como estimula fortemente o empreendedorismo.

Prova maior disso é a criação de uma lei que autoriza professores de universidades públicas a serem sócios destas Startup’s, estimulando, no berço da pesquisa, a inovação com foco em soluções para os problemas do mercado, algo que somaria muito ao modelo do tripé ensino, pesquisa e extensão americano.

Em meio a uma dinâmica social caótica, com fortes contrastes entre riqueza e pobreza, os resultados aparecem. Assim como vimos em Israel, os desafios impostos pelo meio em que os empreendedores parecem mais ajudar do que atrapalhar, transformando fraquezas e ameaças em forças e oportunidades.

Na era da inovação aberta, esta e outras lições são importantíssimas para trilhar o caminho do sucesso sem sofrer pelas mesmas causas. As oportunidades geradas por esta e outras missões realizadas na onda da tecnologia representam o plantio de um novo modelo de produção e seguiremos trabalhando para que o nosso produtor seja o primeiro a colher.

* Otávio Celidonio é superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT)

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