“O próprio delegado me culpou”, diz menor que sofreu estupro coletivo

Redação PH

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“O próprio delegado me culpou”, diz menor que sofreu estupro coletivo

A adolescente de 16 anos que foi vítima de estupro em uma comunidade da Zona Oeste do Rio deu uma entrevista para o Fantástico que foi exibida neste domingo (29). A jovem contou que sofre ameaças e que se sentiu desrespeitada na delegacia onde prestou depoimento. “O próprio delegado me culpou”, afirmou, ressaltando que pediu para que o depoimento ao delegado-titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), Alessandro Thiers, fosse interrompido.

Ela dá detalhes sobre os motivos pelos quais considerou o ambiente no qual seu depoimento foi tomado como inadequado.

“Começando por ele, tinha três homens dentro de uma sala. A sala era de vidro, todo mundo que passava via. Ele colocou na mesa as fotos e o vídeo. Expôs e falou: ‘me conta aí’. Só falou isso. Não me perguntou se eu estava bem, se eu tinha proteção, como eu estava. Só falou: ‘me conta aí’”, relatou a adolescente.

A menor falou sobre outros motivos pelos quais considerou a conduta do delegado como inadequada.

“Ele perguntou se eu tinha o costume de fazer isso, se eu gostava de fazer isso [sexo com vários homens]”, detalhou a jovem, que conta que interrompeu o depoimento e disse que não ia mais responder as perguntas a partir daí. A adolescente deixa claro que se sentiu desrespeitada.

Questionado sobre a postura de Alessandro Thiers, o chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, afirmou que a conduta do delegado no caso será investigada, mas que a prioridade é definir a ordem dos fatos no caso.

Momentos de terror

Ela disse, ainda, que não pode sair de casa e relata detalhes sobre os momentos de horror que viveu. “Eu estou com medo. Bastante. Eu me sinto praticamente em cárcere privado. Eu não posso sair de casa para nada. Eu entrei no Facebook, quando eu entrei, tinham 900 mil mensagens. Tinha gente de Minas Gerais falando que ia me matar. Gente falando que se eu fosse em alguma comunidade eu ia morrer”, afirmou a menor.

A jovem conta que tinha ido outras vezes à comunidade onde o crime ocorreu, mas nunca tinha sofrido violência sexual. Ela revela qual foi a cena que viu quando acordou em uma casa desconhecida dentro da favela:

“Quando eu acordei, tinha um menino embaixo de mim, um menino em cima e dois me segurando. Eu comecei a chorar. Tinha muitos homens. Tinha fuzil, pistola. E a casa estava muito suja, relata a adolescente.

A menor conta ainda que sofreu ofensas verbais dos homens que a estupraram.

“Eles falavam que eu era piranha, vagabunda. Coisas assim”, explica a vítima de violência.

Ela nega que tenha usado qualquer tipo de droga na noite em que sofreu o estupro e acredita que foi dopada.

“Eu acho que sim [foi dopada]. Porque eu dormi por muito tempo. Não é possível que tinha todos estes homens e eu não tenha acordado, se eu não tivesse dopada”, afirmou a adolescente.

Redes sociais

Inicialmente, a menor relata que não pensou em denunciar o caso, pois ficou com muita vergonha do que tinha passado. Ela agradece todas as mulheres que se mobilizaram para denunciar o caso em redes sociais e para as autoridades.

“Eu agradeço muito. Porque elas não deixaram isso ficar oculto”, contou a adolescente.

A jovem revela que ainda sente revoltada por muitas pessoas não acreditarem em seu relato do estupro que sofreu.

“Eu fico um pouco [revoltada], porque tem pessoas que estão defendendo [a violência que sofreu], afirmando que eu estou mentindo, dizendo que a minha versão da história é mentirosa. Sendo que tem um vídeo para provar que eu estava desacordada no momento, nua e eles mexeram em mim. Tem fotos. No vídeo eles falando quantas pessoas tinham”, revelou a adolescente.

Vida normal

A vítima relatou que pretende voltar a ter uma vida normal.

“Eu pretendo esquecer essa história. E, depois, que tenha justiça. Mas eu quero esquecer aqueles momentos e seguir em frente”, disse a menor.

Questionada sobre o que deseja para seus estupradores, ela dá uma resposta simples: “Sinceramente? Uma filha mulher”.

Mudança nas investigações

Toda a coordenação da investigação do caso de estupro coletivo de uma adolescente na Zona Oeste do Rio passará para a ser conduzida pela Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), afirmou entrevista à TV Globo, na tarde deste domingo (29), o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso:

“Em razão desse elevado desgaste que o delegado [Alessandro Thiers, delegado titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI)] está tendo, a gente vai avaliar se houve falta de habilidade dele na questão do trato com a vítima, ou não. Até para tentar preservar o delegado e garantir a imparcialidade da investigação, para que a gente não tenha que enfrentar discussão sobre a investigação ser conduzida de forma imparcial”.

As investigações ficarão sob responsabilidade de Cristiana Onorato, delegada titular da DCAV, que já acompanhava as investigações: “Os autos estão indo para a mão dela. Estarão com ela ainda hoje [neste domingo (29)]. Já conversamos e ela vai se inteirar de todas as provas já colhidas e materializadas; e amanhã, a delegada irá se manifestar quanto à necessidade, ou não, de alguma medida cautelar, seja ela de prisão ou não. Mas pode ser se manifestar hoje ainda”.

Veloso confirmou a possibilidade de a prisão de alguns dos suspeitos ser pedida ainda neste domingo. “Alguma coisa ela [Cristiana] já tinha conhecimento. Se ela vislumbrar elementos suficientes para a representação de uma medida cautelar, seja de prisão ou até outra, nesse sentido ela o fará ainda hoje”, explicou o chefe da Polícia Civil.

Segundo Veloso, a questão suscitada pela até então advogada da vítima, Eloísa Samy, de que a menor teria ficado acuada durante depoimento ao delegado Thiers, foi levada em consideração.

Proteção de testemunhas

A menor de 16 anos de idade que teria sido vítima de um estupro coletivo em uma comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro entrou no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes ameaçados de Morte (PPCAM), executado pela Secretaria de Direitos Humanos do Estado do RJ. A adolescente já saiu de casa e está em um local que não foi divulgado, como informou a Globo News.

O programa de proteção foi criado em 2003 como uma das estratégias do governo federal para o enfrentamento dos casos de assassinato de crianças e adolescentes.

A delegada que assumiu a coordenação do caso a partir deste domingo (29), Cristina Bento, titular da Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente Vítima (DCAV) afirmou que está estudando o inquérito e que a medida foi necessária para garantir a segurança da jovem.

“É muito importante, para garantir a integridade física da vítima. Se houver alguma dúvida, vamos ter que requisitar a oitiva dela e ver uma forma de novamente ouví-la. Mas eu acredito que não será necessário. Mas eu preciso analisar cada termo de declaração tomado. Estou vendo parágrafo por parágrafo e vou dar uma resposta. Vocês podem confiar”, afirmou a delegada.

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