Considerado um gesto de solidariedade e amor, a doação de leite materno ajuda milhares de recém-nascidos nos primeiros dias de vida.
Indispensável para o bom desenvolvimento e proteção do bebê, o alimento ajudou Wenry Maxwell, que nasceu prematuro, e mostrou para a mãe Raquel da Silva Severo, moradora de Brasília, a importância de compartilhar com as outras pessoas.
Sem os órgãos formados, com 32 semanas, 38 centímetros e 1,5 quilo, Wenry teve parada respiratória e cardíaca logo após nascer.
Levado para uma unidade de terapia intensiva (UTI), foi entubado, sedado e teve que se alimentar por sonda, com leite materno doado ao banco de leite. “Se não tivesse o banco de leite, meu filho não ia ter o desenvolvimento que teve”, afirmou.
Rico em água, vitamina, proteínas e nutrientes, o leite humano é o mais indicado para a saúde dos pequenos nos primeiros meses de vida.
Outros leites, nesta fase inicial da vida e com diversos problemas de formação, costumam dar reação negativa ao bebê.
O aleitamento materno diminui a ocorrência de diarreia, infecções respiratórias e alergias em recém-nascidos, além de reduzir o risco de desenvolver hipertensão, colesterol alto, diabetes, sobrepeso e obesidade na vida adulta.
“Esses fatores corroboram com a estatística que diz que o aleitamento materno sozinho pode reduzir em até 13% a mortalidade infantil”, ponderou a coordenadora do Banco de leite Humano do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), Graça Cruz.
“Amor ao próximo e à vida”
Em sua primeira gestação, aos 39 anos, a professora Adriana Carneiro passou uma situação semelhante. Durante a gravidez, teve uma infecção bacteriana extensa da pele, e, com isso, teve que tomar diversos remédios que causaram complicações ao Pedro Paulo, que nasceu aos oito meses.
Com problemas respiratórios, o recém-nascido foi direto para a UTI, onde ficou por 21 dias. Nesse período, o leite que o alimentava era do banco de leite.
Hoje, Pedro Paulo tem 8 anos e nenhum problema de saúde. Emocionada ao lembrar da história, Adriana é só gratidão.
“Para mim, essa doação se transforma em gesto de amor, amor ao próximo e amor à vida”, ressaltou. Com pouco mais de um ano do nascimento do Pedro, Adriana teve o segundo filho, sem complicações. Dessa vez, com bastante leite, conseguiu amamentar os dois.
Referência mundial
O Brasil tem a maior e mais completa rede de bancos de leite do mundo, com 221 unidades e 186 postos de coleta, de acordo com o Ministério da Saúde.
Desenvolvido no Brasil há 32 anos, o programa já beneficiou, entre os anos de 2009 e 2016, mais de 1,8 milhão de recém-nascidos. No período, contou com o apoio de mais de 1,3 milhão de mulheres doadoras, com aproximadamente, 1,4 milhão de litros de leite coletados.
De acordo com a coordenadora dos bancos de leite do Distrito Federal e membro da Comissão Nacional de Banco de Leite Humano, Miriam Oliveira dos Santos, graças a solidariedade das mães doadoras, a unidade brasiliense consegue atender toda a rede neonatal da capital.
“Quando sobra leite em algum banco, a gente encaminha para outros que estão precisando”, explicou.
No Distrito Federal, a parceria com o Corpo de Bombeiros ajuda na coleta do alimento há 30 anos. Em média, a unidade da capital federal recebe 1,5 mil litros por mês.
“Tem muitas mulheres que ganham bebê na rede privada, mas doam para rede pública porque sabem que a maior parte das crianças estão exatamente na rede pública”, afirmou.