MP pede pela 2ª vez internação de adolescente que atirou e matou Isabele em MT e se manifesta pela condenação

Isabele Guimarães Ramos foi morta aos 14 anos na casa da amiga — Foto: Instagram/Reprodução

MP pede pela 2ª vez internação de adolescente que atirou e matou Isabele em MT e se manifesta pela condenação

O Ministério Público Estadual pediu a internação imediata da adolescente que matou Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, em um condomínio de luxo, em Cuiabá, em julho deste ano. O pedido foi feito na segunda-feira (23) quando o MPE apresentou alegações finais e se manifestou pela condenação da adolescente de 15 anos por ato infracional análogo ao crime de homicídio doloso, quando há intenção ou assume o risco de matar.

O pedido de internação é pelo prazo de 6 meses, mas pode chegar a três anos. A cada seis meses são feitas as verificações da conveniência da continuidade ou baixa da medida socioeducativa de internação.

O processo tramita em sigilo por se tratar de menor de idade.

Já o habeas corpus concedido em setembro à adolescente, o que permitiu que ela deixasse a unidade socioeducativa em menos de 24 horas após a internação, está na pauta de julgamento da Terceira Câmara Criminal desta quarta-feira (25).

Os pais da adolescente que matou Isabele já são réus pelos crimes de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), posse ilegal de arma de fogo, entrega de arma de fogo a pessoa menor, fraude processual e corrupção de menores.

A morte de Isabele

Logo depois da morte, o ex-advogado da família da adolescente que efetuou o disparo explicou que o pai da autora do tiro acidental estava na parte inferior e pediu que a filha guardasse a arma no andar superior, onde estava Isabele.

Mas o resultado da investigação policial apontou, com base em laudos periciais, que o tiro não foi acidental.

A polícia concluiu que, no dia do crime, o namorado da adolescente levou duas armas na mochila para a casa da autora do disparo. Quando chegou na casa dela, ele tirou as munições delas e as armas circularam pelas mãos das pessoas que estavam no local, sem munição.

As armas continuaram no local, expostas, e estavam na mesa da sala para manutenção. “Havia visitas na casa, não eram só os filhos, e para nós causou perplexidade. Na casa também não havia cofres para guardar as armas”, disse.

Depois, o namorado pegou o carregador que estava na mochila e municiou uma das armas. Ele guardou as armas no case e deixou no sofá da sala.

Às 21h59, o adolescente saiu da casa.

A adolescente então pegou as armas e levou para o quarto dela.

No quarto dela, ela deixa uma das armas no case e pega a outra que estava municiada. Ela foi para o banheiro, onde a vítima estava fumando cigarro eletrônico. Elas ficam no banheiro 1 minuto e 18 segundos e nesse intervalo de tempo acontece o disparo.

Pela altura do disparo e pela distância, concluiu-se que as duas estavam em pé e próximas uma da outra.

A arma tinha sido municiada na cama, com golpe do ferrolho, e com isso ela tinha condições de disparar. Mas não se sabe o momento em que isso aconteceu.

As câmeras da casa são ativadas por movimento. Então, quando a porta abre, inicia a gravação com uma gritaria depois que o crime já tinha acontecido e pedidos de socorro.

O crime ocorre entre a saída do namorado e esse segundo momento, da gritaria na casa.

A adolescente alegou que o case caiu e quando ela foi pegar, a arma disparou acidentalmente. As análises da perícia identificaram marcas de sangue, por meio do luminol, reagente químico, sangue na arma, na roupa dela e no chão.

Pela forma que a vítima caiu, não teria como o tiro ter sido disparado do local onde a adolescente disse em depoimento à polícia, segundo a investigação. Ela havia alegado em depoimento que estava do lado de fora do banheiro.

Houve alterações no corpo para os primeiros socorros, mas continuou no mesmo lugar.

Durante a investigação, a polícia ouviu inúmeras testemunhas, analisou imagens das câmeras de segurança do condomínio e as perícias.

Cena alterada

Para a polícia, o empresário pai da adolescente teve uma conduta que pode ter atrapalhado a investigação.

“Quando a equipe do Samu chegou na casa, havia apetrechos de armas em cima da mesa e ele pediu para que a mulher guardasse. Isso não poderia ter sido alterado”, disse o delegado Wagner Bassi, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que conduziu a investigação.

A cápsula da bala que atingiu a adolescente na cabeça também foi movimentada depois do crime pelo filho dele, que é irmão gêmeo da adolescente que atirou, o que pode ter atrapalhado a investigação.

Quatro policiais, sendo um delegado, dois investigadores da Polícia Civil, e um policial militar que foram até a casa depois do crime são investigados por improbidade administrativa.

Praticante de tiro

As duas famílias, a da adolescente que disparou, e a do namorado dela, praticam tiro esportivo, de acordo com a investigação da polícia.A Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT) disse que a adolescente que matou a amiga é praticante de tiro esportivo há pelo menos três anos.

Segundo a federação, o pai e a menina participavam das aulas e de campeonatos há três anos. Os nomes deles constam nos grupos, chamados ‘squads’, que participavam das competições da FTMT. Outros membros da família também participavam desses grupos e praticam o esporte.

O advogado da família contestou a informação e afirmou que a adolescente praticava o esporte há apenas três meses.

Perícia

Laudo da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) apontou que a pessoa que matou Isabele estava com a arma apontada para o rosto da vítima, a uma distância que pode variar entre 20 e 30 cm, e a 1,44m de altura.

Perícia aponta manchas de sangue humano em blusa — Foto: Reprodução

Perícia aponta manchas de sangue humano em blusa — Foto: Reprodução

Conforme o documento da Politec, Isabele encontrava-se no banheiro da suíte que fica no andar superior da casa da amiga.

Ainda segundo a perícia, em dado momento o autor do disparo também entrou no banheiro, na parte esquerda, com a pistola apontada para a face da vítima, e efetuou disparo acionando o gatilho.

Outra perícia indicou que o tiro que matou a adolescente não foi disparado acidentalmente.

De acordo com o laudo da Politec, a arma de fogo utilizada não pode produzir tiro acidental.

Nas circunstâncias alegadas constantes do termo de declarações da adolescente, a arma de fogo, da forma como foi recebida pela perícia, somente se mostrou capaz de realizar disparo e produzir tiro estando carregada (cartucho de munição inserido na câmara de carregamento do cano), engatilhada, destravada e mediante o acionamento do gatilho.

Reconstituição

A reconstituição da morte de Isabele foi feita nos dias 18 e 19 de agosto, na casa da menina que atirou. O processo durou sete horas, e a adolescente não participou. A defesa alegou que ela não está em condições psicológicas de participar.

Foram reproduzidos todos os movimentos realizados pelos envolvidos no caso para apontar a compatibilidade das versões apresentadas na investigação. A simulação foi feita com três disparos.

A reprodução também contou com um grupo de 41 profissionais entre investigadores, escrivães, delegados e peritos.

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