Ministério do Trabalho resgata 21 operários em Goiás

Redação PH

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Ministério do Trabalho resgata 21 operários em Goiás

Auditores fiscais do Trabalho flagraram 21 trabalhadores sendo submetidos a condições análogas às de escravo num canteiro de obras onde estão sendo construídas 263 unidades habitacionais, em Guapó (GO). A operação de fiscalização teve início em 31 de março, dia em que os trabalhadores foram resgatados. Neste momento, a operação prossegue com os auditores analisando documentos e lavrando autos de infração.

O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, disse que a operação mostra que o país não admite o trabalho escravo. “Precisamos erradicar de vez esse mal, que reduz seres humanos a objetos. Não compactuaremos nunca com a redução da dignidade do trabalhador”, afirmou.

Os trabalhadores haviam sido recrutados em cidades do entorno de Goiânia e estavam alojados de forma extremamente precária em cinco barracos nas proximidades do canteiro, seus salários estavam atrasados, alguns em mais de dois meses, e, conforme relataram, para não passarem fome pediam pelancas de carnes nos açougues, cestas básicas nas igrejas e comida aos vizinhos.

“Eles estavam dormindo no chão, sobre pedaços de espumas velhas e alguns sequer tinham colchões. Os alojamentos estavam bastante sujos e também não dispunham de chuveiros, mobília e utensílios de cozinha. Dois alojamentos estavam com fornecimento de água e energia cortado por falta de pagamento”, relatou o coordenador da operação, auditor fiscal Roberto Mendes.

Os auditores fiscais constataram que as atividades laborais estavam sendo realizadas sem as mínimas medidas de proteção coletiva e individuais, configurando grave e iminente risco à vida e integridade física dos trabalhadores, fato que levou ao Embargo Total da Obra em 31 de março.

Além das irregularidades que resultaram no resgate dos trabalhadores e no embargo da obra, foram constatadas dezenas de outras infrações trabalhistas na obra: a maioria dos operários estava sem registro e não tinha suas CTPS (Carteiras de Trabalho e Previdência Social) assinadas; os trabalhadores acidentados não recebiam nenhuma assistência médica e alguns estavam sendo submetidos a jornadas exaustivas, chegando a trabalhar por até 14 horas por dia durante os 30 dias do mês; na demissão, não recebiam as verbas rescisórias, sendo que alguns sequer recebiam pelos dias trabalhados corretamente; não havia controle de jornada de trabalho e a maioria não recebia as horas extras trabalhadas e as ferramentas usadas na obra eram descontadas dos salários dos empregados, entre várias outras infrações.

A operação do Ministério do Trabalho, com o apoio da Polícia Federal, iniciou-se em Nova Crixás (GO), onde as mesmas empresas de construção envolvidas mantêm duas outras obras. Segundo as denúncias encaminhadas pelo Ministério Público Estadual, as condições de trabalho em Nova Crixás eram semelhantes àquelas encontradas em Guapó.

No entanto, em decorrência de um possível vazamento da operação, quando a equipe de fiscalização chegou à Nova Crixás, no dia 27, os trabalhadores já haviam sido retirados do trabalho e dos alojamentos e levados para suas cidades de origem, sem sequer receberem pelos dias trabalhados. Já em nova inspeção, realizada nos dias 15 e 17 de abril, em Nova Crixás, outros trabalhadores foram encontrados nas referidas obras, ocasião em que uma delas foi também embargada pela Auditoria Fiscal do Trabalho.

Essa foi a segunda vez, em 2017, que a Auditoria Fiscal do Trabalho flagrou operários sendo submetidos a condições análogas às de escravo em obras habitacionais. A primeira ocasião foi em Aparecida de Goiânia, onde foram resgatados 20 operários no mês passado.

Segundo Mendes, a análise das condições encontradas pelo Ministério do Trabalho nessas obras leva à conclusão de que existe uma rede organizada de pessoas explorando trabalhadores e, com isso, obtendo vultosos lucros com a apropriação do dinheiro que deveria ser destinado ao pagamento dos operários. “Sob o pretexto de estarem contribuindo para que famílias de baixa renda adquiram casa própria, essas pessoas, através de associações e empresas de construção civil, têm se valido da exploração de trabalhadores na construção de vários conjuntos habitacionais em Goiás e possivelmente em todo o país”, diz Mendes.

Em todas as obras até agora fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho foram encontradas graves violações aos direitos fundamentos dos trabalhadores, seja por parte das Entidades Organizadoras (Associações), seja por parte das construtoras e subempreiteiros. No caso da obra de Guapó, os 21 trabalhadores resgatados receberam suas verbas rescisórias, no montante de R$ 68.000,00. Além disso, o Ministério do Trabalho liberará, para todos, o Seguro-Desemprego de Trabalhador Resgatado, em três parcelas mensais no valor de um salário mínimo cada (R$ 937,00).

As empresas envolvidas serão autuadas e poderão ser incluídas na lista de empregadores que submetem empregados a condições análogas às de escravo, a chamada “Lista Suja” do Ministério do Trabalho. Além disso, os responsáveis poderão responder pelo crime previsto no art. 149 do Código Penal (Redução a condição análoga à de escravo).

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