Mercado editorial brasileiro sofre com retrações históricas. Setor percebe profundas alterações

Mercado editorial brasileiro sofre com retrações históricas. Setor percebe profundas alterações

Diferentemente do jornal ou do disco de vinil, o livro é um objeto prático e confortável, que agrada todos os consumidores da categoria: os leitores. As desgostosas alterações no cenário literário brasileiro, entretanto, não são resultantes de desinteresses culturais ou de fatores tecnológicos, mas sim das próprias livrarias.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen, em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), as vendas de livros cresceram 3,6% neste ano (até outubro) em comparação direta com o mesmo período de 2018 — em valor, o acréscimo é de 5,4%. De fato, a anunciada crise não é por falta de demanda.

O real motivo, já sucedido em outros países, afetou recentemente o Brasil. Sem visão de mercado, consumidores e tendências, as grandes companhias arruinaram os próprios negócios.

Antes de esclarecer razões, vamos explicar como ocorre o processo de compra e vendas de livros físicos: as livrarias encomendam determinada quantidade de uma obra por consignação, ou seja, só pagam as editoras após a vazão do produto — de 60 a 90 dias depois. Os exemplares que não foram vendidos são devolvidos a custo zero. Além disso, a margem de lucro sobre cada livro é de 40% a 50%.

Apesar de ter essas e outras vantagens, grandes empresas literárias entraram em crise nos últimos semestres, declarando falência. Mas como isso aconteceu?

A culpa não é do e-book

A inserção do livro digital não exerceu influência alguma sobre os rumos do mercado. Essa alternativa não foi compreendida como uma maneira de oxigenar o setor, aliviar a pressão no meio físico e atingir um equilíbrio — como ocorreu nos Estados Unidos. Entretanto, seja para o bem ou para o mal, o e-book não mudou nada.

O que configurou o desmanche organizacional das livrarias foi que elas, incoerentemente, deixaram de vender os produtos mais visados nesse comércio: os livros.

O modelo megastore, introduzido no cenário brasileiro pela Saraiva, inspirado na francesa FNAC, oferece, nos moldes do varejo, uma variedade de produtos que

possuem maior valor comercial. Aparelhos eletrônicos, jogos, CDs e DVDs são, por exemplo, as maiores frentes.

A França, entretanto, em meios comparativos, aprovou normas e leis que limitam promoções e descontos de lojas on-line, visando a proteção sobre a venda de livros em estabelecimentos.

O fator crucial, porém, foi a extinção da demanda por mídias físicas, substituídas plenamente pelo formato digital. Ninguém mais compra o CD de sua banda favorita ou um DVD daquele filme inesquecível. O livro, por sua vez, não teve alteração de concepção, uma vez que grande parte dos leitores ainda prefere o papel.

Produtos eletrônicos ficaram, assim, responsáveis por segurar a maior percentagem dos ganhos. Porém, apesar desses itens apresentarem preços mais altos, a margem de lucro é bem menor. Aqui, tudo desandou…

Aquilo que era considerado um ótimo negócio, inovador até certo ponto, em um curto período de tempo, quebrou. Empreendimentos enormes, de dois ou três andares, ficaram fadados à venda de itens que saíam bem pouco, ou, simplesmente, não saíam.

Os números da crise

O ano de 2018 foi marcado como o quinto ano da redução do setor editorial. Ano passado, o encolhimento foi de 4,5% em valores reais — 0,9% de retração nos valores nominais. O faturamento anotado bateu R$ 5,1 bilhões.

Já nas vendas para o mercado, a receita caiu para R$ 3,7 bilhões, com 202 milhões de exemplares vendidos. Nas transações diretas entre livrarias e clientes, a variação nominal foi de 20,8%, negativa — rendimento de R$ 1,9 bilhão.

Os dados são do estudo Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o levantamento foi realizado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e CBL (Câmara Brasileira do Livro).

Livros didáticos e CTPs (Científico, Técnico e Profissional) também apresentaram quedas de 9,1% e 20,3%, respectivamente. A única categoria que pode comemorar é a de livros religiosos, que obteve um crescimento de 1,1%.

Os dados, apurados pela FIPE, juntamente à CBL e ao SNEL, expõem números do ano passado, entretanto, a conjuntura de 2019 não é muito melhor.

Nos três primeiros meses já houve um recuo de 25% nas vendas, enquanto a quantidade de exemplares diminuiu em 30%, representando 1,2 milhão de livros a menos nas prateleiras.

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