Elas estão entre os pequenos produtores rurais que fazem parte do programa “Nosso Leite” e, recentemente, foram beneficiadas com um resfriador pelo governo do Estado. Antes do equipamento, elas faziam a ordenha, colocavam o leite em latões e, após amarrar o recipiente na traseira de uma Honda Biz, enfrentavam a estrada de chão por 30 minutos para deixar no ponto de entrega.
Hoje, o produto vai para o resfriador e a cada dois dias, o laticínio vai ao local recolher, sem nenhum prejuízo a qualidade. “Eu e a Divina precisávamos nos equilibrar para o latão de 50 litros não cair. Nos dias de chuva, enfrentávamos água e lama. A moto deslizava na pista que parecia estar com sabão. Mas, com o resfriador, ganhamos tempo e não corremos o risco de perder o leite na estrada”.
Mãe e filha possuem na área 12 vacas e conseguem tirar 7 litros de cada uma delas, mas a expetativa é expandir. Elas aprenderam na parte teórica do programa sobre o controle de produção e, após analisarem as tabelas, perceberam que precisam mudar o rebanho para animais mais produtivos. “Temos amor pelos bichos, né. Elas todas têm nome. É malhada, baleia e mimosa. Mas, hoje entendemos que algumas estão velhas ou não são da espécie adequada e vamos trocar”.
Muitas mudanças já foram aplicadas na propriedade em menos de seis meses de curso. Entre elas a ordenha mecanizada e também a aplicação de boas práticas sanitárias para garantir a qualidade do leite. “Atualmente, dividimos o resfriador com o vizinho, mas estamos trabalhando para ter o nosso próprio porque o laticínio irá pagar uma porcentagem maior pela qualidade do produto, então não podemos perder a oportunidade misturando com o que vem de outra propriedade”.
Outra decisão tomada após receber a assistência técnica é montar piquetes para realizar o rodízio de pastagem. Elas já montaram o espaço de forma experimental, mas estão à espera do projeto para começar a execução da estrutura definitiva. “Nós usamos o trator que o governo deu para a comunidade. Os produtores estipularam uma taxa para o uso e o dono da terra tem que pagar também o óleo diesel. Mesmo assim, fica bem barato”.
Na comunidade Banco da Terra, existem cerca de 50 produtores e eles estabeleceram algumas regras para o uso do equipamento. Um delas é a cobrança de um valor, que é depositado em uma conta bancária e serve para fazer a manutenção do maquinário, bem como o conserto quando necessário.
Diversidade da produção – No mercado da cidade, as duas compram apenas arroz e sal. O restante dos produtos é colhido no quintal. Em roças pequenas, o feijão, a horta e as frutas estão garantidos. Existe ainda uma plantação de gueroba, dois pés de café e um farto bananal.
Com relação à mistura do dia a dia, também não há aperto. O galinheiro vai de “vento em popa” e no tanque, mais de mil peixes estão em fase de crescimento. “Eu fui ao médico e ele disse que eu preciso comer mais peixe. Mas comprar é difícil, então resolvemos produzir”.
Pela manhã, enquanto Valdivina vai ao campo buscar as vacas para ordenha, Geralda alimenta os animais e rega as plantas. Todo trabalho e cronometrado e por volta das 10 horas da manhã, tudo está concluído e é hora de trabalhar em outras frentes, como o roçado, a capina e a construção de cercas.
Por volta do meio dia, há uma parada para o almoço e um tempo livre, reservado para ‘madorna’. As atividades voltam a todo vapor no final da tarde, quando elas vão para mata em busca de sementes, que são vendidas para um projeto de reflorestamento, e ainda para as pesquisas em torno da apicultura, uma atividade que começa a ser desenvolvida.
Há cinco anos, as duas nem imaginavam que teriam um sítio. Geralda conta que foi para a cidade porque o marido estava doente e os filhos precisavam estudar. “Foi um período difícil e hoje eu percebo que tanto eu como o meu marido não gostávamos. Ele começou a fumar muito e devido a problemas de saúde, morreu. Para mim restou uma casa e depois de receber a herança do meu pai, que não era muito, saí em busca de um sítio”.
Além de querer voltar para área rural, Geralda tinha o sonho de trazer a filha para morar consigo. “Minha filha trabalhava em duas casas de família. Era muito difícil e às vezes ela nem recebia. Eu sempre pensei, vou conseguir uma terra e tirar minha filha desta vida de doméstica”.
Geralda descobriu que o sítio estava à venda por meio de um vendedor de melancias que estava na cidade. Ele informou a direção da área, orientação suficiente para ela contratar um mototáxi e ir atrás da área. “Quando chegamos aqui tinha só esta casinha e mais nada. Mas, eu fiquei apaixonada. Bem pertinho do rio e com área de pasto. Era meu sonho”.
A princípio, Valdivina não tinha como deixar o serviço e conciliava os dois trabalhos, como doméstica e com a terra. A alforria dela veio com as vacas. “Juntei um dinheiro e disse para ela, vamos comprar algumas vacas e o dinheiro vai ser suficiente para ficarmos só no sítio. E assim, foi feito”.
Aos poucos, elas foram comercializando produtos e investindo na terra. As tecnologias também foram aparecendo após os cursos feitos por Valdivina e atualmente, além da ordenha mecânica, elas instalaram placas fotovoltaicas e se preparam para o novo passo, a irrigação dos pastos.
Uma das convicções de Geralda é que nunca irá sair da terra. “Tudo que eu deixar para os meus filhos, é bem feito. Eles sempre trabalharam como gente grande. Desde crianças, acordavam cedo comigo para triturar mandioca para fazer a farinha até a hora de ir para escola. Quando voltavam na hora do almoço, comiam e, em seguida, voltavam para o serviço novamente. Eles merecem”.
Dados do governo – O governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar e Assuntos Fundiários (Seaf), já entregou 524 resfriadores de leite para pequenos produtores rurais, sendo que em Nova Xavantina foram 14 unidades.