Humanização contribui para a recuperação e reinserção social de pacientes com transtornos mentais

Sandra Carvalho - SES/MT

Humanização contribui para a recuperação e reinserção social de pacientes com transtornos mentais

O dia 18 de maio marca, no Brasil, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial que inaugurou uma nova trajetória da proposta de Reforma Psiquiátrica Brasileira. Em Cuiabá, o Centro Integrado de Assistência Psicossocial (CIAPS) Adauto Botelho lembrou a data com oficina de artes, música e momento de interação entre pacientes, familiares, profissionais e a comunidade local no Parque Zé Bolo Flô.

A humanização da assistência ao paciente com transtorno mental é uma das principais propostas da Luta Antimanicomial. No Adauto Botelho, os profissionais trabalham permanentemente em busca deste objetivo. O resultado deste empenho pode ser conferido na manhã desta sexta-feira (18.05) no Parque Zé Bolo Flô.

Aprovado para o curso de Psicologia em uma faculdade do estado do Piauí, considerada uma das melhores do país, S.R.M.J, de 30 anos, natural de Cuiabá, faz tratamento de transtorno bipolar e pela segunda vez está internado no Ciaps Adauto Botelho. Nesta sexta-feira, atuou como monitor de uma oficina de artes durante a comemoração do Dia da Luta Antimanicomial.

O universitário também defende a humanização do tratamento das pessoas acometidas por transtornos mentais, porém observa que não basta acabar com os manicômios. “A sociedade precisa saber como lidar com essas pessoas. Somos muito agredidos. Desde um apelido a outras formas de agressão. Nós merecemos respeito”, afirmou.

Rosemeire Camelo da Silva também faz tratamento de bipolaridade. Foram mais de 17 anos de crises e internações. Ela descobriu o problema aos 14 anos e hoje, aos 36 anos, comemora quatro anos sem dar entrada no Adauto Botelho. A dona de casa fez questão de participar do Dia da Luta Antimanicomial ao lado dos profissionais da unidade e dos pacientes.

“Eu sempre fui muito bem tratada pela equipe do hospital. Hoje recebo acompanhamento clínico na Policlínica do Planalto, faço uso de medicamento e não tenho mais crises como antes”, contou Rosemeire, que é mãe de cinco filhos, sendo que dois deles moram com ela, dois com a ex-sogra e um foi para a adoção e nunca mais viu. “Eu assinei os papéis da adoção porque eu nem sabia o que estava fazendo. Hoje faço o possível para buscar o autocontrole”, frisou.

A servidora e psicóloga Veline Simione, doutoranda que atua na rede pública estadual de saúde, explica que a Luta Antimanicomial propõe não só mudanças no cenário da Atenção à Saúde Mental, mas, principalmente, questiona as relações de estigma e exclusão que social e culturalmente se estabeleceram para as pessoas que vivem e convivem com os transtornos mentais.

“Há quase quarenta anos esse movimento se iniciou no Brasil devido às péssimas condições dos hospitais psiquiátricos, principalmente no final da década 60, e os próprios trabalhadores da saúde mental começaram a se unir e lutar por melhores condições de atendimento”, contou.

Na época, relata a psicóloga, havia grandes depósitos de pessoas que eram amontoadas nos hospitais psiquiátricos e sofriam uma intensa violência institucional. “Com esse movimento dos trabalhadores da saúde mental, aliado aos próprios usuários, aos familiares, e às universidades, iniciou-se um questionamento da sociedade brasileira com relação ao tratamento que era oferecido às pessoas com sofrimento psíquico grave”, acrescentou.

O questionamento e toda essa mobilização social conseguiu atingir o Legislativo e foi criada a Lei 10.216 que preconiza os direitos do portador de transtorno mental.

“Não só isso, como também começaram a funcionar alguns serviços alternativos ao hospital psiquiátrico e que provocou o surgimento dos Centros de Atenção Psicossocial que são os serviços de saúde mental abertos, onde não há regime de internação, iniciativas que foram dando certo, porque observou-se que tratar a pessoa com ela inserida no meio social, sem afastá-la dos laços familiares e afetivos, produz saúde ao invés de produzir doenças”, observou a psicóloga.

Veline Simione reconhece que ainda hoje no Brasil não se conseguiu superar o modelo hospitalar. “Mas, não estamos acomodados com isso. Os profissionais da saúde mental continuam fazendo essa luta diária que é acolher e tratar quem sofre, sempre nessa perspectiva de que ela esteja inserida nessa sua radical diferença no meio social e possa conviver e compartilhar das dores e delícias de ser o que é”, completou.

O superintendente do Adauto Botelho, Gilmar Fonseca, participou do ato. “O secretário Luiz Soares, enquanto gestor da saúde do município de Cuiabá, liderou a Luta Antimanicomial criando os Caps e as residências terapêuticas. E ele segue tendo o Programa de Saúde Mental como prioridade na SES”, destacou.

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