‘Guerra econômica’ pode derrotar o Estado Islâmico, dizem especialistas

Redação PH

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‘Guerra econômica’ pode derrotar o Estado Islâmico, dizem especialistas

O Estado Islâmico, facção radical que já vinha chamando a atenção do mundo com seus vídeos de decapitações, assumiu a responsabilidade pelos atentados em Paris, que deixaram mais de cem mortos na França. O grupo já controla boa parte da Síria e Iraque e, antes mesmo do atentado, era combatido por uma coalizão formada por 60 países, centrada no poderio militar dos Estados Unidos.

Mas alguns pesquisadores já apontavam que, para derrotar o grupo extremista, não bastaria uma incursão militar, e sim, atingir alguns alvos com o uso da inteligência, sem armas. Isso porque o EI não prega apenas o terrorismo, como fazia a Al-Qaeda de onde ele surgiu, mas tem o poder de cooptar membros de todo o mundo em nome da utopia de um novo estado.

Dinheiro

A fortuna do EI é estimada em US$ 2,2 bilhões pelo Centro de Análise de Terrorismo da França. Sua principal fonte de recursos é o petróleo, provindo de campos tomados durante seu avanço na guerra da Síria.

O grupo se apropriou de campos de produção e vende, segundo a organização Council on Foreign Relations (CFR), 48 mil barris por dia – 44 mil dos campos sírios e 4 mil dos iraquianos. A venda do combustível rende US$ 1 a 3 milhões por dia.

Ainda de acordo com o CFR, o regime do ditador Bashar al-Assad, os turcos e os curdos iraquianos – todos conhecidos inimigos do EI – são alguns dos clientes.

Outras fontes de renda são a pilhagem, extorsão e cobrança de impostos nas regiões controladas pelo grupo. Por isso, uma das formas de minar o grupo seria cortar seu financiamento.

“Teria que se impedir a venda e contrabando do petróleo. Uma das saídas seria tentar asfixia-los evitando que eles tomem outras cidades, roubando bancos, por exemplo. Sem dinheiro, não conseguem fazer nada”, afirma Leonardo Paz, coordenador de Estudos e Debates do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).

Recrutamento

O Estado Islâmico oferece benefícios a seus membros, aproveitando-se da falta de emprego e da dificuldade de muitos sírios para sustentar suas famílias em um país devastado pela guerra. Há relatos de sírios que aceitaram desempenhar diversas tarefas em nome do EI, como pedreiros e até médicos, que são pagos em dólares.

O EI também se utiliza das redes sociais para recrutar seus membros em outros países, além de uma propaganda maciça por meio de vídeos, revistas e sites. Uma das plataformas usadas é o aplicativo de mensagens criptografadas Telegram.

Charlie Winter, pesquisador sênior da Fundação Quilliam, em Londres, contou à BBC que se surpreendeu com a quantidade de propaganda do EI espalhada pela internet. Segundo sua pesquisa, em apenas 30 dias, foram 1.146 peças de propaganda do EI em diversos meios, em até seis idiomas.

Segundo ele, a propaganda é feita em grande quantidade e não se trata apenas de vídeos de decapitações e apedrejamentos. Grande parte do conteúdo mostra um mundo de utopia, que busca atrair cada vez mais jovens, inclusive os muçulmanos estrangeiros que não se sentem acolhidos em seus países na Europa.

Em entrevista ao jornal The Guardian, ele alerta que o EI possui uma estratégia, por isso, encerrar esse monopólio de informação seria uma maneira de enfraquecer o grupo nas regiões por eles dominadas. Assim como impedir o acesso a esse conteúdo em outros países.

Os serviços de inteligência dos EUA calculam que o Estado Islâmico conta com um número de combatentes que varia de 20 mil a 32 mil. Além dos jovens, o Observatório Sírio de Direitos Humanos documentou pelo menos mil crianças que aderiram ao EI na Síria.

“Eles estão muito eficientes na comunicação via internet. Bloquear o máximo possível a iniciativa online de propaganda vai fazer com que tenham cada vez menos soldados para suprir suas fileiras”, diz Paz. Segundo ele, é preciso engajar lideranças no Oriente Médio e Europa, porque é onde está o grande nicho de jovens homens que se sentem alienados e vão para a luta”, avalia.

Fim do estigma

Ainda segundo Winter, um dos objetivos do EI é causar a polarização e aumentar o ódio aos muçulmanos em todo o mundo, incluindo os refugiados. Quanto mais excluídos eles se sentirem, menos saídas terão a não ser se juntarem ao Estado Islâmico. Assim, combater o estigma de que todos os árabes são terroristas, assim como engajar os muçulmanos a dizer não aos terroristas, seria outra saída para combater o EI.

“É preciso um engajamento com lideranças árabes e muçulmanas para que eles se sintam incluídos nessa estratégia. O que acontece é que o árabe é visto como um potencial terrorista. Temos que colocá-los como parte da solução, e não do problema”, avalia Paz.

Em sua opinião, o engajamento de lideranças mundiais nesse sentido é mais difícil, porque requer uma grande conversa entre os principais atores.

O presidente da França, François Hollande, disse na quarta-feira (18) que o país manterá sua política de acolhimento a refugiados e receberá 30 mil pessoas nos próximos anos, além de pedir apoio dos prefeitos para reforçar as medidas de segurança. Mas 26 estados dos EUA se recusaram a receber refugiados sírios após os atentados, ao que Barack Obama classificou de decisão vergonhosa.

“Alguém tem que passar essa ideia, porque a prática não acompanha o discurso. Tem que ter uma liderança forte do ponto de vista político. Evitando criar preconceitos contra refugiados. O jovem que não consegue fugir do EI, se radicaliza. A retórica dos países não pode corroborar essa exclusão”, afirma.

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