Filhote de águia de espécie rara que ficou sem ‘casa’ após floresta ser desmatada em MT é resgatada

Ave se prepara para voltar à natureza — Foto: Reprodução

Filhote de águia de espécie rara que ficou sem ‘casa’ após floresta ser desmatada em MT é resgatada

Um gavião-real foi resgatado em Colniza, a 1.065 km de Cuiabá, depois de ter sido domesticada por trabalhadores rurais que a encontraram quando ainda era filhote. Considerada a maior águia do mundo e de espécie rara, a ave – também conhecida como harpia – vivia em uma floresta que foi desmatada. A castanheira onde havia sido construído o ninho foi derrubada e ela ficou sem ‘casa’.

Apesar do resgate ser bem-sucedido, o professor de engenharia florestal da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), campus Alta Floresta, Éverton Miranda, destacou a gravidade do problema, que, segundo ele, vai muito além por conta do contexto em que o animal se encontrava.

Ele faz parte de um projeto de proteção à espécie, que fez o resgate a pedido da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT).

Pesquisador resgatou animal e acompanhará o processo de retorno ao habitat — Foto: Reprodução

Pesquisador resgatou animal e acompanhará o processo de retorno ao habitat — Foto: Reprodução

A ave estava em uma área de desmate ilegal, onde cerca de 500 hectares haviam sido desmatados para formação de pastagens para pecuária, principal causa de desmatamento na Amazônia. “Poder resgatar o filhote de lá é uma gota num oceano em pensar em tudo que foi perdido naquela área em termos de biodiversidade”, lamenta o professor.

Em um vídeo gravado pela equipe de resgate, um trabalhador rural que a encontrou conta que já estava há três meses com o animal e que procurava alguém que pudesse devolvê-lo à natureza. “Nosso receio era de que, por ele ter se acostumado com pessoas, se tornasse um alvo fácil para caçadores”, disse.

O trabalhador procurou o secretário de Agricultura de Colniza, Hélio Mendes de Souza. Ele, por sua vez, entrou em contato com a Sema.

O filhote será levado para Cotriguaçu, onde fica uma unidade de reabilitação do projeto denominado “Construindo uma estratégia para a conservação da harpia na Amazônia”, coordenado pelo professor.

A ave deve ser preparada para voltar à natureza. O professor participará do processo de reabilitação e soltura.

Em nota, a Sema diz que a orientação de que cidadãos não tentem criar animais de vida livre como pet – domesticados – para segurança humana e bem-estar animal e se coloca à disposição da sociedade, reiterando ainda seu compromisso com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável de Mato Grosso.

Professor diz que recompensa para quem encontrar ninho é uma forma de preservar o local onde a ave está vivendo — Foto: Arquivo pessoal

Professor diz que recompensa para quem encontrar ninho é uma forma de preservar o local onde a ave está vivendo — Foto: Arquivo pessoal

Busca por novos ninhos

Ao longo dos três anos de pesquisa, Éverton constatou que os ninhos são relativamente fáceis de achar, e afirmou ainda que é oferecida a quantia de R$ 500 a quem encontrar e indicar a localização de um ninho de harpia, além de uma porcentagem do valor do turismo ao dono da terra.

“Nossos principais parceiros são os coletores de castanha daqui do norte do estado. Eles frequentemente encontram os ninhos de harpia na região, os reportam ao projeto e recebem a recompensa financeira”, explicou.

Também conhecida no Brasil como gavião-real, a harpia é encontrada no norte de Mato Grosso e corre risco de extinção por conta do desmatamento da região – no estado foram desmatados 41 mil hectares nos últimos 15 anos, o que representa uma perda entre 12 e 24 ninhos de harpia.

Os abates desses animais ainda são muito frequentes na região norte do estado e principalmente por desconhecimento: “por verem o animal grande e bonito o matam para simplesmente ‘ver com as mãos’ ou para prevenir predação de animais domésticos pelas harpias, algo que realmente acontece, mas que está longe de ser um problema grave”, explica o professor.

Cerca de 30 ninhos são monitorados pelo projeto.

Éverton explica ainda que outra pessoa não poderia realizar o resgate pois é necessário amplo conhecimento da biologia da espécie. Ele destacou que, ainda que seja biólogo, não é recomendado que pessoas que têm pouco ou nenhum conhecimento desses bichos façam esse tipo de manejo.

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