Falso inglês

Falso inglês

Em meio às minhas pesquisas para a confecção do meu próximo livro (a edição revisada e ampliada do Inglês de Fachada, de 2007, com previsão de lançamento para o início de setembro), como esperado, eu vi, li, reli e anotei uma considerável variedade de palavras da língua inglesa nas fachadas das empresas da cidade, em especial daquelas localizadas no quadrilátero central da cidade, entre as avenidas Dom Wunibaldo e Presidente Kennedy e as ruas Dom Pedro II e Floriano Peixoto.

Durante o período da coleta dos dados, consumado em diversas manhãs, tardes e noites em que eu me obriguei a estar disponível (e disposto) para realizar tal tarefa, eu elenquei o máximo do que vi também nas vitrines, nos cartazes, nos adesivos e demais adereços que fazem parte da ‘cara’ das pequenas, médias e grandes empresas da cidade, sem exceção. Ocorre que nem todas as palavras coligidas são realmente English words, mas, dependendo do nível de proficiência de quem as vê, elas deixam a nítida impressão de serem o que não são. Se você não entendeu, eu explico: elas fazem parte de um punhado de vocábulos criados (ou copiados) seguindo algumas características elementares da língua inglesa, como a tendência de serem curtas, terminarem em consoante e terem uma sonoridade, digamos, ‘diferente’.

É o caso, por exemplo, de log que, segundo o Longman Dicionário Escolar (LDE), como substantivo, é uma ‘tora’ ou um ‘diário de bordo’ e, como verbo, que dizer ‘registrar’. Além disso, nas expressões verbais (phrasal verbs) log in e log out, tem-se as traduções ‘conectar-se à’ e ‘desconectar-se da’ rede/Internet, respectivamente. Acontece, porém, que a acepção da palavra é advinda da Portuguese word ‘logística’, que equivale a ‘logistics’ em inglês, que não significa ‘tora’, nem ‘diário de bordo’ e muito menos ‘registrar’! Entendeu agora?

Outro exemplo interessante é vest. Segundo o mesmíssimo LDE, essa palavra, como substantivo, significa ‘colete’ ou ‘camiseta’ (no inglês britânico, ressalve-se), não havendo nenhuma ocorrência dessa palavra como verbo, embora ele exista: to vest (vested e vested, no passado simples e particípio passado, respectivamente) quer dizer ‘dar poder ou direito a alguém; investir’, como ocorre na frase “They are vested with the authority to police the park.” (obtida nomacmillandictionary.com), ou seja, “Eles estão investidos da autoridade para policiar o parque.” (segundo o nem sempre confiável Google Translator). Ocorre que o vest em questão é a forma abreviada de ‘vestibular’ (university entrance exam, em inglês), dear reader!

O caso de vet, por outro lado, é interessante porque ele realmente existe na língua inglesa, indicando, como substantivo, tanto o veterinário (veterinarian, em inglês) quanto o ex-combatente ou veterano de guerra (veteran, em inglês americano). Além disso, como verbo, esse mesmo vet pode significar ‘averiguar’, ‘investigar’ e ‘revisar’. Pode conferir, pois está tudo lá no LDE, que, embora seja um dos melhores no seu segmento no mercado (em especial na sua versão digital, que conta com pronúncia, inclusive), ainda assim deixa muito a desejar, na minha humble opinião.

Como se vê, no campo da linguagem e na vida, nem tudo é o que parece ser. E na lista mencionada ainda figuram vocábulos como peg, vent, clin, med, roon e seg, dentre outras preciosidades. Mas, as a matter of fact, a minha word preferida foi rooper, que, segundo o Aluízio, o próprio proprietário da loja, com quem eu conversei por telefone, disse tratar-se da “Rondonópolis Peças com Entrega Rápida”!

É por essas e por tantas outras razões que eu adoro ser professor de língua inglesa e escritor. Porque a gente se surpreende e aprende algo novo todo santo dia. Every single day, como diria Shakespeare, caso ele conseguisse sobreviver nessa loucura que são esses ‘tempus mudernus’.

-Mestre em Estudos de Linguagem (UFMT), presidente da Associação Livre de Cultura Anglo-Americana (ALCAA), membro-fundador da ARL (Academia Rondonopolitana de Letras), associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis e autor da biografia Lamartine da Nóbrega – Uma História Como Nenhuma Outra

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