Evolução da formação escolar em MT é tema de reportagem especial

Redação PH

Redação PH

piso salarial dos professores tem reajuste de 6,81%

Evolução da formação escolar em MT é tema de reportagem especial

A educação é o pilar de toda e qualquer civilização. Mato Grosso, sendo um estado no centro do Brasil, em seus primórdios, passou por lentos, porém importantes processos de criação e desenvolvimento da educação, desde o ensino fundamental e secundarista, até o ápice da mudança educacional, com a criação da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1970.

Mas, para falar do presente e do futuro, é preciso começar de um pouco antes e falar de como ocorreu o desenrolar de tudo isso por aqui.

O dia 3 de dezembro de 1879 marcou Mato Grosso com a criação, por meio da lei provincial n°536, do Liceu Cuiabano, da primeira instituição de ensino no Estado.

À época, a educação ainda era facultativa, até que, em 1880, o Barão de Maracaju, Rufino Enéas Gustavo Galvão, apresentou o Regulamento Orgânico da Instrução Pública em Mato Grosso, onde foi estabelecido que o ensino primário fosse obrigatório e que, também, seria criado o primeiro estabelecimento público de ensino secundário da província.

Em 7 de março de 1880, o Liceu Cuiabano foi instalado no prédio onde hoje funciona o Ganha Tempo, sua primeira sede. Posteriormente a escola foi para o prédio dos Correios, no final do século XIX; para o Palácio da Instrução, em 1914 e, finalmente, em 1944, depois de muitas mudanças de nome e instalações, o colégio obteve sede própria na Avenida Getúlio Vargas, onde permanece até os dias atuais.

Naquele período, podia-se dizer que Mato Grosso estava entre o Brasil já parcialmente desenvolvido, e o Brasil quase que inteiramente desconhecido, o que certamente constituiu dificuldades para o acesso à educação.

Em 1910 houve a Reforma da Instrução Primária instituindo a escola graduada em Mato Grosso e os grupos escolares. Foram contratados dois jovens professores normalistas do Estado de São Paulo: Leowegildo Martins de Mello e Gustavo Kullman.

Para a coordenadora do grupo de Pesquisa, História da Educação e Memória, da UFMT, Profª. Dra. Elizabeth Figueiredo Sá, os dois normalistas tiveram um choque, ao encontrar em Cuiabá uma cidade à frente do que esperavam.

“Eles achavam que Mato Grosso era muito atrasado e estava aquém do que acontecia no país, mas não era bem assim. Naquela época já se via a força das mulheres. Por exemplo, com a criação da Sociedade Júlia Lopes, formada por mulheres normalistas, que publicaram a Revista Violeta, onde eram tratados assuntos como voto e trabalho feminino”.

Leowegildo Mello criou um grupo escolar, que era o curso primário, seriado em quatro classes distintas para ambos os sexos, mudando a realidade do ensino até então.

Apesar de os dois jovens terem subestimado a educação em Mato Grosso, a especialista da UFMT, denota que a vinda dos normalistas paulistanos foi um divisor de águas, com o início da escola seriada. “Até então, os professores tinham cerca de 60 alunos, de todas as idades e diferentes conhecimentos, em uma só sala de aula”, pontua a doutora.

Em 1927 foi a vez da implantação do regulamento que reestruturou o ensino em primário e secundário e classificou as escolas em grupos escolares: escolas isoladas e escolas reunidas. Modelo esse que funcionou até 1970, quando a educação passou a ser legislada pela Lei 5692/71, que fixou as bases e diretrizes para o ensino de 1° e 2º graus.

Em 1930 o presidente Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação e Saúde, com foco na reforma pedagógica. O ensino secundário passou a ser dividido em: primeiro ciclo ginasial com cinco anos, de formação humanística, e o segundo ciclo ginasial, com dois anos e com o objetivo de preparar o aluno para o ensino superior.

A partir desse período, Vargas nomeia interventores para os estados e Júlio Müller se torna governador de Mato Grosso, vindo assim a realizar mudanças drásticas nos hábitos e educação do Estado, entre as quais estão as obras chamadas oficiais, que se estendem por todo o entorno da Avenida Getúlio Vargas, como o Cine Teatro Cuiabá, o Grande Hotel e a Residência dos Governadores, tornando a Avenida Getúlio Vargas uma referência, onde já se destacava o suntuoso Palácio da Instrução.

“De onde você estivesse você via o Palácio da Instrução, aquele prédio enorme, ao lado da igreja Matriz. Então você via a igreja e o Estado Laico, lado a lado”, observa a especialista da UFMT.

Em pesquisa intitulada "Memória da Cultura Escolar Mato-grossense”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa, Alfabetização e Letramento Escolar da UFMT, Marijane Silveira da Silva fala sobre algumas das escolas mais antigas de três cidades do sul de Mato Grosso, sendo elas: Guiratinga e Poxoréu (Grupo escolar Cel. Júlio Müller), e Rondonópolis (Grupo Escolar Major Otávio Pitaluga).

“A Escola Estadual Cel. Júlio Müller, em Guiratinga, foi criada em setembro de 1937, como Escolas Reunidas de Lageado, posteriormente transformada em Grupo Escolar Bel. Júlio Müller. Sediada à rua Três Lagoas nº 562, centro na cidade de Guiratinga, a escola foi extinta em 2001 e, atualmente, no prédio criado para abrigar o grupo, funciona a Escola Estadual Estevão de Mendonça”.

De acordo com a pesquisa, a Escola Cel. Júlio Müller foi criada na cidade de Poxoréu com o nome de Escolas Reunidas Coronel Júlio Müller em 24/08/1927 e o primeiro Grupo Escolar, Major Otávio Pitaluga, foi criado em Rondonópolis no dia 19 de abril de 1950.

A especialista em história do Brasil, professora do Liceu Cuiabano e ex-aluna da mesma instituição, Claudia Noemia Sousa, relembra a importância da criação da escola nesse período. “Por aqui passaram renomados mestres e daqui saíram profissionais cheios de mérito”.

Ela conta que estudou na escola entre os anos de 1973 e 1977, gestão do diretor Rafael Rueda. “Naquela época o ensino era rígido e tradicional. Todo mundo cantava o hino nacional no pátio, a gente andava devagar pelos corredores e tínhamos aulas de francês onde não podíamos falar nenhuma palavra em português”, lembra Claudia, revelando ainda, que até hoje seu francês é fluente por conta da educação que recebeu. A educadora dá aulas no Liceu Cuiabano há 17 anos e afirma que ainda o faz por prazer, tendo em vista que já poderia estar aposentada.

O atual diretor do Liceu Cuiabano, Alceu Trentin, fala sobre sua admiração pelo colégio onde leciona matemática há 25 anos. “O Liceu é um grande monumento, com arquitetura majestosa admirada por todos que por aqui passam. Criado para a elite, só estudava aqui quem poderia dar seguimento aos seus estudos nas cidades de São Paulo ou Rio de Janeiro. Ou seja, uma pequena parcela da população. Para se ter uma ideia, no começo, havia apenas oito alunos de Várzea Grande, dadas as dificuldades para atravessar o rio Cuiabá”.

O prédio, inaugurado em 1944, abriga hoje 1.539 alunos e comporta até 465 pessoas sentadas em seu anfiteatro.

Elizabeth Sá analisa que, hoje, a educação melhorou e avançou. “Hoje temos professores formados e competentes na educação pública, o que é algo recente. Temos muitos profissionais voltados para a educação continuada, então podemos dizer que avançamos muito”.

Ela destaca outro grande feito, que marcou a história da educação, economia, desenvolvimento e história de Mato Grosso: a criação da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1970.

Um dos maiores celeiros de pesquisa e produção de conhecimento, a UFMT foi criada em 10 de dezembro de 1970.

Seu primeiro reitor, Gabriel Novis Neves, foi também um dos grandes entusiastas da Universidade. “Mato Grosso, em 1970, era atrasado, dominado pelas oligarquias, era Estado curral. Nossa intenção era a transformação. Nós acreditávamos que esta Universidade teria que ser também um centro de desenvolvimento. Foi em cima desse modelo que acreditamos na ocupação racional, respeitando a região Amazônica, o meio ambiente, daí a Universidade da Selva – como era chamada-, nosso cartão de visitas”, diz Novis Neves.

Ele explica ainda que a criação da UFMT foi fruto de esforços anteriores e, sobretudo, da movimentação da sociedade civil mato-grossense, cuiabana de maneira especial, que ao longo de mais de uma década já vinha propondo a instalação, pelo governo central, de uma Universidade Federal em território mato-grossense. “Até que aqui chegou Pedro Pedrossian e aí foi um marco na história de Mato Grosso, porque ele teve a coragem de entrar para governar um estado curral e não lotear o curral, nem fazer a redistribuição do gado, e o gado de maior qualidade são os jovens”, disse ele, que foi secretário de educação do governo Pedro Pedrossian, em 1968.

“Numa arrancada incomparável, o chefe do Executivo mato-grossense criou duas cidades universitárias, uma em Cuiabá e outra em Campo Grande. Para os que diziam que Mato Grosso não tinha condições para uma só universidade, ele desafiou a história e criou mais uma, a estadual, na Cidade Morena, juntamente com a decisão do governo federal em instalar nesta capital a Universidade Federal. Isto fazendo, o governador Pedro Pedrossian consagrou-se para a história, tornando-se a figura mais importante do ensino superior em Mato Grosso, impedindo que os jovens mato-grossenses fossem para São Paulo ou Rio de Janeiro”, pontuava o editorial do Jornal O Estado de Mato Grosso, em Edição Histórica que comemorava o 10º

Aniversário da Universidade Federal de Mato Grosso, em 1980, em reprodução de artigo editorial publicado logo depois da criação da UFMT.

Em seu primeiro discurso enquanto governador de Mato Grosso, em 1966, Pedrossian já se atenta para a importância de olhar verdadeiramente para a educação afirmando que o processo educativo é lento e exige implantação de condições que possibilitem que a educação deixe de ser privilégio de poucos e passe a ser acessível para todos, citando então, desde aquele momento, a criação de uma universidade em Cuiabá e outra em Campo Grande. “Não tenho dúvida que serão essas universidades que constituirão o cadinho onde serão forjadas as ideias que consolidarão a mudança da mentalidade, não mais permitindo o regresso ao modelo tradicional”.

Em sua autobiografia, publicada em 2006, Pedrossian cita memórias sobre a importância da criação da universidade, para uma efetiva mudança no centro do Brasil. “Via perplexo que para essa juventude restavam somente duas opções: a completa acomodação e triste resignação do não saber ou a busca de novas fronteiras de conhecimento, fora do Estado. Bem à minha frente tinha o destino de um Estado e de todos os seus jovens. Estava em nossas mãos escolher entre condená-los à eterna alienação e ao atraso permanente, ou, destinar-lhes um futuro de oportunidades edificantes”.

Passaram-se 138 anos da criação da primeira escola em Mato Grosso e 47 anos da criação do primeiro campus de uma Universidade Federal no Estado. Hoje, Mato Grosso possui 759 escolas e 400 mil estudantes espalhados pelos 141 municípios.Há cincounidades voltadas à Educação Especial, 69 escolas indígenas, cinco escolas quilombolas, 144 escolas rurais e 23 Centros de Educação para Jovens e Adultos (Cejas) e mais 100 escolas que oferecem a modalidade de ensino EJA.Além disso, há ainda 13 campi da Universidade do Estado de Mato Grosso.

A gestão do governador Pedro Taques traz, desde o seu programa de governo, a educação como prioridade e para isso está investindo R$ 360 milhões, entre 2017 e 2018, na pasta.

Para isso, muitos projetos já estão em andamento e outros ainda serão realizados, como o Pró-Escolas, que é o maior programa de ações e investimentos da história da educação pública de Mato Grosso. “O Pró-Escolas é o resultado do esforço e do sacrifício de todo o Governo do Estado, que entende ser a Educação prioridade máxima – além de um compromisso firmado em nosso Plano de Governo, que agora se concretiza. É nosso compromisso seguir firme no propósito de oferecer à população de Mato Grosso uma Educação de qualidade – através de investimentos robustos, gestão eficiente e ações transparentes”, salientou Pedro Taques.

O programa atuará sobre quatro eixos: Ensino, Inovação, Infraestrutura e Esportes e Lazer, culminando na melhoria da aprendizagem nas salas de aula. “Estabelecemos metas ousadas, tanto de melhora do nível geral dos índices educacionais, quanto de obras de construção, reforma e reconstrução de escolas, passando pela formação e valorização profissional. Implementar este programa, que já começou a sair do papel, vai requerer a dedicação de todos os gestores e trabalhadores da Educação de Mato Grosso. Temos um trabalho árduo, mas muito nobre pela frente, que é dar às próximas gerações de mato-grossenses a oportunidade de ter um futuro digno de dar, a cada um deles, a chance de escrever a própria história. A Educação é a principal fonte de transformação social”, disse o Secretário de Estado de Educação, Marco Marrafon.

O programa tem como objetivo principal universalizar o atendimento, melhorar a qualidade da educação básica, reduzir o analfabetismo e reduzir a evasão escolar.

A partir disso, a ideia é melhorar os resultados do Estado noIDEB; diminuir o analfabetismo da população com 15 anos de idade ou mais para 6,9% em 2017; construir 50 novas escolas e 15 Centros Integrados Escola Comunidade, os CIECS, por meio de parcerias com os municípios, com a iniciativa privada e com recursos próprios; capacitar professores com foco na proficiência em matemática e português; criar processos de gestão padronizados e capacitar os gestores escolares; criar métodos de correção de fluxos; diminuir a evasão escolar no Estado; formar parcerias para desenvolver projetos educacionais; criar métodos de monitoramento e controle e produzir indicadores de desempenho da gestão para resultados e aumentar de 15 para 40 o número de escolas de ensino médio em tempo integral até 2018, as Escolas Plenas.

O programa terá ainda atendimento nas escolas das zonas rurais, quilombolas e indígenas com infraestrutura adequada e, no caso das escolas indígenas, arquitetura característica também.

“É um projeto do Consórcio Brasil Central, para atender a comunidade indígena. Já fizemos o pedido para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, para que o governo federal nos libere pelo menos a construção de 22 dessas escolas. Se não liberarem tentaremos avançar com recursos próprios”, afirmou Marrafon, reiterando que tudo isso muda a vida das pessoas e as prepara para o futuro.

“A escola vai formar cidadãos de forma humanística, mas com aprendizagem. É um absurdo o estudante sair da escola sem interpretar texto. Se ele não tiver as habilidades cognitivas básicas como interpretação de texto e lógica matemática ele não consegue as superiores. Então a busca do foco na aprendizagem, sem perder de vista a formação humanística, com um ponto de vista radicalmente comprometido com essa nova geração é a grande busca do Pró-Escolas”.

Marrafon lembra que o Governo de Mato Grosso pretende investir ainda mais nas escolas vocacionadas, como é o caso da recém-inaugurada José Fragelli, que faz parte do projeto Arena da Educação, onde há hoje dez modalidades esportivas.

“Quero fazer mais cinco escolas vocacionadas de esportes, vamos buscar os equipamentos públicos existentes para fazer cinco escolas de artes divididas em música, dança e dramaturgia; cinco escolas de tecnologia, com estudos em robótica e três escolas de turismo”, finaliza Marrafon.

+ Acessados

Veja Também