Encontro discute racismo, segregação e genocídio de negros e indígenas

Lucas Perrone

Lucas Perrone

Encontro discute racismo, segregação e genocídio de negros e indígenas

Pela primeira vez em Rondonópolis será realizado um encontro para discutir a constituição do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB). Essa diálogo será feito com participantes de um encontro na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em um clima de conversa, incialmente, pretende-se conhecer pessoas que se preocupem com as questões étnico-raciais, especialmente as que atingem diretamente à população negra e povos indígenas; e também conhecer com mais profundidade a realidade desses setores sociais no município. Aqueles que se identificarem com o campo de estudos poderão integrar o grupo de pesquisadores que desejam transformar seus saberes, vivências e descobertas em publicações que combatam qualquer forma de racismo e desigualdades sociais.

O esforço em trazer o NEAB para a cidade consiste em colocar a sociedade para pensar sobre ideias e situações que ao longo da história foram sendo consideradas normais e, por isso, pouco discutidas. Por exemplo, quantos governantes, artistas, juízes de direito ou, então, médicos negros ou indígenas você conhece? Por que a maioria dos moradores dos bairros periféricos são negros ou indígenas? Quando você imagina uma pessoa bonita quais características físicas ela possui? É branca e tem cabelos lisos? Apesar de haver negros indígenas em posições de destaque na sociedade, ainda são poucos ou raros. Para a professora doutora e organizadora do evento, Priscila de Oliveira Xavier Scudder, esse é uma das consequências do racismo que penetrou historicamente o território brasileiro pela escravidão e deixou consequências até hoje. “Precisamos garantir o direito de viver dessas pessoas. Quando lutamos por uma sociedade mais justa para nós, todos sem exceção, negros, indígenas, brancos, saem ganhando. Nossa luta é para garantir o direito de existir de toda forma de vida”, explicou.

A defesa da vida e dos direitos de negros e indígenas é o objetivo principal das pesquisas a serem realizadas pelos membros do NEAB. Todos, principalmente professores e estudantes de todos os níveis de ensino públicos ou privados, estão convidados a participar da reunião que desenvolverá as diretrizes para a implementação do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros. O próximo passo é filiar os novos pesquisadores do NEAB junto a Associação Nacional de Pesquisadores (as) Negros (as) (ABPN). Para isso a participação popular é fundamental, porque o tema mexe as garantias constitucionais básicas, como inserir nos conteúdos escolares a importância de combater o racismo, desde xingamentos e outras violências até a falta de oportunidades de educação, saúde, moradia e trabalho para que negros e indígenas saiam da vulnerabilidade. “Não se trata de ‘mimimi’, a palavra vitimismo está sempre evocada pela boca de opressores. O NEAB pode ser também um espaço para exercermos o cuidado de si e o cuidado do outro; para cuidarmos de nossa saúde, afinal o racismo adoece” acrescenta Scudder.

O evento é realizado pelo grupo de estudos “Coletivo Negro: racismo, segregação, encarceramento e genocídio no Brasil” em parceria com o Movimento Negro de Rondonópolis. A comunidade acadêmica e em geral terá oportunidade de discutir uma temática que apesar das leis 19.639 de 2003 e 11.645 de 2008 obrigarem sua inclusão nos currículos oficiais de toda rede de ensino brasileira, ela ainda é pouco trabalhada. “Não se trata de obter um ganho fácil para si mesmo; estar no NEAB é se instrumentalizar para a luta e o combate às desigualdades sociais”, conclui.

Como participar:

O encontro que debaterá a instalação do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) será nessa segunda-feira, 14/10/2019, às 19:30, no anfiteatro do campus da UFR de Rondonópolis. A entrada é de graça.

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