Empresa de Miami é suspeita de pagamento de subornos em esquema de corrupção

Redação PH

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Empresa de Miami é suspeita de pagamento de subornos em esquema de corrupção

Uma afiliada em Miami da gigante espanhola de mídia Imagina é uma das empresas de marketing esportivo indiciadas pelos Estados Unidos, mas não identificadas, sob suspeita de pagamento de suborno em um esquema de corrupção no futebol mundial.

A empresa citada é a Media World, uma subsidiária da Imagina US, de acordo com duas fontes familiarizadas com o assunto, que falaram sob condição de anonimato. A Imagina US é uma filial do grupo Imagina, com sede em Barcelona.

A acusação não diz que a empresa –identificada apenas como “Empresa de Marketing Esportivo C"- pagou suborno, mas diz que concordou em fazê-lo e estava procurando uma maneira de efetuar o pagamento a um funcionário do alto escalão do futebol nas Américas.

A Media World, que compra e vende os direitos de transmissão de campeonatos de futebol e opera canais de TV voltados para o mercado hispânico dos EUA, não foi acusada de delito.

Em processos judiciais norte-americanos, os promotores às vezes apontam potenciais irregularidades cometidas por pessoas ou entidades, mesmo que não estejam prestes a acusá-las de um crime. Às vezes, a pessoa ou corporação nunca é formalmente acusada ou até mesmo citada pelos procuradores.

Um porta-voz da promotoria federal no Brooklyn, em Nova York, não quis comentar o caso.

Em 27 de maio, os promotores norte-americanos detalharam um esquema de mais de 150 milhões de dólares em supostos subornos pagos ao longo de mais de duas décadas, levando à prisão de alguns dirigentes do futebol, incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin, e executivos, mergulhando em crise a federação mundial que coordena o esporte, a Fifa.

A acusação diz que a "Empresa de Marketing Esportivo C" acertou com a Traffic USA, empresa de marketing esportivo subsidiária da brasileira Traffic e arrolada na acusação dos EUA, dividir igualmente um suborno no valor de 3 milhões de dólares para Jeffrey Webb, na época dirigente da confederação regional de futebol, a Concacaf.

O suborno foi negociado para permitir que as empresas explorassem conjuntamente os meios de comunicação e direitos de marketing das eliminatórias da União Caribenha de Futebol para as Copas do Mundo de 2018 e 2022, diz o documento do tribunal.

Os direitos de transmissão e de marketing são uma enorme fonte de receita para o futebol. A acusação alega que empresas de marketing esportivo dos Estados Unidos e dirigentes corruptos do futebol comandavam uma ação criminosa internacional, trabalhando lado a lado para lucrar pessoalmente com os jogos.

Os promotores dizem que as empresas às vezes agiam em coordenação e, em outras ocasiões, competiam ferozmente pelos contratos lucrativos.

O brasileiro José Hawilla, o fundador da Traffic, secretamente se declarou culpado em dezembro de conspiração para extorsão, conspiração para fraude eletrônica, conspiração para lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA. Hawilla também concordou em entregar mais de 151 milhões de dólares. Sua sentença está marcada para setembro, de acordo com registros do tribunal.

Entenda o caso

Investigações conduzidas pelo FBI, nos EUA, culminaram na prisão de sete dirigentes de peso no futebol em Zurique, na Suíça. Reunidos para a eleição do próximo presidente da entidade, os cartolas foram detidos pela polícia suíça no hotel Baur au Lac. Entre eles, está o ex-presidente da CBF entre 2012 e 2015 e atual vice da entidade, José Maria Marin, que permanece detido na Suíça.

No total, a investigação chegou a 14 nomes. Além dos sete dirigentes que já foram presos, sete foram indiciados. O brasileiro José Lázaro Marguiles, que seria um intermediário nas operações ilegais, é um deles. Outras quatro pessoas, incluindo o empresário José Hawilla, do grupo Traffic, são réus confessos no esquema. Dessas 18 pessoas, 11, entre elas Marin, foram banidas pela Fifa de quaisquer atividades ligadas ao futebol.

As acusações são de extorsão, fraude, conspiração e lavagem de dinheiro para acordos em torneios como as Eliminatórias, Copa América, Libertadores e Copa do Brasil. O esquema dura, pelo menos, 20 anos e movimentou mais de US$ 150 milhões (R$ 476 milhões) até agora. O valor pode ser muito maior.

Com a prisão dos cartolas e as notícias sobre o andamento das investigações, a pressão sobre a Fifa só aumentou. Diante deste cenário, Joseph Blatter, presidente que havia sido reeleito ao seu quinto mandato no dia 29 de maio, renunciou ao cargo. O secretário-geral da entidade e braço-direito do suíço, Jérôme Valcke também está em situação delicada pela suspeita de participar de pagamento de propina.

O escândalo respingou até mesmo no ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que deixou o comando da confederação em 2012. No Brasil, a Polícia Federal pediu o indiciamento do cartola por quatro crimes (lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos público). Entre 2009 e 2012, Teixeira teria movimentado R$ 464,5 milhões de suas contas bancárias, o que chamou a atenção das autoridades.

Como funcionava o esquema

Empresas de marketing esportivo subornavam dirigentes para ganhar apoio e colocar sua marca nos eventos da Fifa, Conmebol, CBF e outras entidades. Foi assim que Marin recebeu cerca de R$ 2 milhões por ano da empresa Traffic, por direitos de transmissão da Copa do Brasil, como propina, de acordo com as investigações. Marin também está envolvido em acusações de suborno de edições da Copa América até 2023.

Nem o contrato da CBF com a Nike escapou do FBI. A acusação é de pagamento de suborno em relação ao contrato da principal patrocinadora da Seleção Brasileira, que vem desde 1996. “O futebol é um belo jogo. Mas foi sequestrado. A vítima é o futebol. Essas pessoas conseguiram muito dinheiro graças ao amor que esse esporte desperta”, disse o diretor do FBI, James Comey. “Estamos dando um cartão vermelho para a Fifa”, completou Richard Webber, da Receita Federal americana.

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