Economista apresenta raio X da crise econômica no país e as consequências para Rondonópolis

Redação PH

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crise econômica pode trazer oportunidades de investimento, avalia especialista

Economista apresenta raio X da crise econômica no país e as consequências para Rondonópolis

Até quando vai a crise financeira do Brasil? Essa é uma pergunta que empresários, funcionários públicos, autônomos e donas de casa fazem todos os dias.

Para esclarecer dúvidas e explicar de forma didática o que vem ocorrendo no país, o Primeira Hora conversou com professor universitário e economista Alexsandro Silva.

O especialista apresentou um raio X do atual momento do país e das consequências para Mato Grosso e Rondonópolis.

PH: A inflação e juros altos já foram sentidos nos grandes centros. E é Mato Grosso, qual é o panorama?

Alexsandro: O centro da meta da inflação determinado pelo COPOM (Comitê de Políticas Monetárias), é de 4,5% a.a. admitindo uma variação de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, ou seja, o teto da inflação aceita no Brasil é de 6,5% a.a. e já não sabemos o que é estar no controle há um bom tempo. Se pegarmos o acumulado dos últimos 12 meses (Março de 2014 a Fevereiro de 2015) teremos um índice de 7,70%, isso é terrível para a economia.

A SELIC, que é a taxa básica de juros, já atingiu os 12,75% a.a., extremamente elevada para os padrões de países que desejam crescer. Com os juros altos os investidores se sentem desestimulados a aplicar seu dinheiro nas empresas, principalmente diante de tamanhas incertezas. O consumidor, por sua vez, também apresenta suas limitações, já que na falta de dinheiro para comprar à vista a alternativa seria comprar a prazo, e essa modalidade fica muitas vezes inviável diante da quantidade de juro que é pago em um compra parcelada.

Tirando o poder de compra da população, aumentando o desemprego, desestimulando os investimentos, quer dizer, a economia entra num círculo vicioso, produzindo grandes perdas para a Nação.

Este cenário pode ser observado em todo o país, porém, como Mato Grosso ainda depende mais do agronegócio do que da indústria, os impactos da crise acabam sendo amortecidos diante da nossa realidade.

Mas isso não quer dizer que o nível de atividade econômica aqui não tenha diminuído. A proporção foi menor do que a observada em Estados como SP, RJ e MG, por exemplo, que tem na indústria um de seus principais propulsores econômicos.

PH: Quais os setores mais afetados?

Alexsandro: Quando falamos de economia estamos nos referindo à um sistema econômico, portanto, não dá para dizer que um setor vai se prejudicar e outros sairão imunes aos efeitos da crise. Naturalmente setores que oferecem produtos e serviços tidos como secundários, como viagens a passeio, salões de beleza, cinema, por exemplo, acabam sendo diminuídos ou até mesmo eliminados da cesta de consumo de muita gente que os demandava antes da crise. Enquanto que bens e serviços de primeira necessidade, como alimentação e saúde, não permitem postergar, no máximo mudar alguns hábitos alimentares.

PH: Famílias que ganham até quatros salários são as mais prejudicadas? Por quê?

Alexsandro: Sem dúvida nenhuma. Essa classe econômica vive numa zona muito sensível de renda, ela pode estar bem diante das finanças domésticas e de repente se ver em uma situação de aperto. Basta uma pequena variação na inflação e/ou taxa de juro para desequilibrar o orçamento. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em sua última pesquisa apontou que o salário mínimo necessário para atender as necessidades básicas de uma família no Brasil, seria de R$ 2.519,97, isso mesmo, dois mil quinhentos e dezenove reais e noventa e sete centavos, representa mais de 3 salários mínimos atuais. Então uma família que ganha menos de quatro salários já vive no limite, ou até mesmo, em muitos casos em condições precárias, diante de uma crise isso tende a se agravar.

PH :A valorização do dólar frente ao real pode ajudar Mato Grosso e manter a economia local aquecida?

Alexsandro: Levando em conta que Mato Grosso é um dos principais responsáveis pela geração de superávit na balança comercial, ou seja, exportamos muito mais do que importamos, pode-se afirmar que a desvalorização da nossa moeda frente ao dólar americano representa benefícios para nossa economia. Visto que para cada 1 dólar exportado teremos mais de 3 reais após a conversão para a moeda local. Mesmo considerando que grande parte dos insumos de produção é importada, ainda teríamos um bom resultado, já que o processo de plantio e colheita oferece uma agregação de valor ao produto, no caso da agricultura, a semente. De todo modo não podemos afirmar que isso seria suficiente para manter aquecido o mercado local. Isso só será verdadeiro se o lucro da safra for reinvestido no Estado. Além disso, com a inflação fora do controle e a taxa de juro elevada, não dá para ser muito otimista.

PH: Mesmo diante de um ano conturbado, os investimentos seguem em Rondonópolis.

Alexsandro: Trata-se de investimentos que já vinham sendo negociados para Rondonópolis antes mesmo do governo começar a lançar os pacotes de medidas contracionistas para a economia. Embora já se esperava um 2015 conturbado. Importa saber que havendo investimentos o impacto dessas medidas acaba sendo menos doloroso, embora não deixe de existir. O que diferencia a cidade que continua investido daquelas que deixaram de o fazer, é o pós recessão. Esse momento de dificuldades vai passar, e diferente do que aconteceu com o período de crise que enfrentamos do final dos anos 70 até meados dos anos 90, essa não deve durar muito tempo. Portanto quando tudo retomar aos eixos precisaremos de empresas sólidas e profissionais qualificados para dar um salto de crescimento e superar esses tempos difíceis.

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