Cunha rejeita impeachment, mas critica Dilma

Redação PH

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Cunha rejeita impeachment, mas critica Dilma

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), classificou nesta segunda-feira (16) de "ilegalidade" e "golpismo" a discussão sobre um eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas criticou a gestão da petista no início do segundo mandato.

Cunha, que como presidente da Câmara tem a prerrogativa de admitir ou arquivar pedidos de impeachment do presidente da República, fez as declarações em entrevista ao jornalista Mário Sérgio Conti no programa “Diálogos”, da Globo News.

“Discussão de processo de impeachment neste momento, com as circunstâncias que estão colocadas, beira a ilegalidade, a inconstitucionalidade, para não dizer o golpismo. Ela foi eleita legitimamente. Não há o que contestar. Se aqueles que votaram nela se arrependeram do voto, vão ter esperar quatro anos para consertar. Ela tem todo o direito de governar”, disse.
Apesar de defender o direito de Dilma de cumprir o segundo mandato até o fim, Cunha disse que a presidente não soube perceber que não obteve “hegemonia” na disputa pela reeleição.

Para o presidente da Câmara, a petista achou que conseguiria resolver a divisão no país com distribuição de cargos a aliados e falhou ao fazer ajustes fiscais sem antes dialogar com a sociedade.

“Ela saiu desse processo eleitoral e não teve a percepção de que não teve hegemonia política. Não teve hegemonia eleitoral. Teve vitória eleitoral. Começou o segundo mandato em crise política achando que a simples nomeação para cargos públicos seria suficiente. Sabia que tinha que fazer ajuste fiscal, começou a propor, mas sem discutir antes as medidas, não só com aqueles que compõem a sua base, mas com a sociedade como um todo”, criticou Cunha.

O peemedebista comparou a postura de Dilma no segundo mandato com a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Para Cunha, FHC teve mais “habilidade” que a petista no enfrentamento de crises após a reeleição.

“O Fernando Henrique, na reeleição, foi ao Fundo Monetário Internacional fazer empréstimo, fez correção cambial, teve uma crise política, uma CPI, presidente do Banco Central preso, mas ele teve mais habilidade política para conduzir o processo naquele momento. E tinha uma base aliada mais sólida”, avaliou Eduardo Cunha, na entrevista à GloboNews.

Manifestações

Na entrevista, Cunha classificou de como um “desastre” a resposta do governo às manifestações que tomaram as ruas do país neste domingo (15).

“Achei que ontem a participação dos ministros depois do processo nas ruas foi um desastre. Um veio falar de reforma política, achando que as ruas estavam pedindo fim de financiamento privado de campanha”, afirmou em referência à entrevista coletiva, na noite de domingo, dos ministros Eduardo Cardozo (Justiça) e Eduardo Braga (Minas e Energia).
Apesar das críticas ao governo, Cunha negou que se comporte como “oposição” no Congresso. “Me comporto com independência. Não há da nossa parte nenhum gesto que ataca a governabilidade. Não há nenhum gesto oposicionista.”
O presidente da Câmara também foi perguntado sobre os rumores de que teria uma relação pessoal ruim com a presidente Dilma. “Existe muito folclore em relação a isso. Ela sempre me tratou com cordialidade. Obviamente que temos divergências.”

Lava Jato

Cunha voltou ainda a criticar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu a abertura de inquérito para investigar se o peemedebista tem envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Para o presidente da Câmara, a lista de 48 políticos a serem investigados pelo Supremo foi decidida de forma “política” por Janot.

“Foi uma escolha política com objetivo de constranger um chefe de um poder”, disse. Na opinião do presidente da Câmara, a intenção de incluí-lo entre os investigados foi transferir a crise do Planalto para o Congresso Nacional.

“Quis dividir o ônus para que as ruas do dia 15 ficassem entre o Congresso e o Planalto. A corrupção está no poder Executivo. Não é o Poder Legislativo que assumiu contratação de sonda, que fez indicação para a Petrobras, que fez cartel. Dizer que a crise é do poder Legislativo? Ela é do Poder Executivo.”

Após atacar o procurador, Eduardo Cunha defendeu “resguardar” as empreiteiras investigadas por suspeita de pagamento de propina em contratos da Petrobras. Para o presidente da Câmara, as construtoras não devem ser impedidas de firmar contratos com o governo federal.

O peemedebista defendeu, porém, que qualquer projeto pago com dinheiro público só possa ser licitado quando após elaboração de projeto executivo. Segundo ele, atualmente as contratações são feitas com base em anteprojetos que posteriormente são modificados, com ampliação da previsão de gastos.

“Acho que [as empreiteiras suspeitas] devem continuar fazendo obra pública com projeto executivo. Você quer punir os corruptos ou as empresas? É uma discussão que tem que ser feita. As empresas geram emprego e tem capacidade técnica de fazer a obra. Vai vir empresa de fora para fazer obra sem projeto executivo?”, questionou.

'Roda Viva'

A partir das 22h, Eduardo Cunha participou, ao vivo, do programa "Roda Viva", da TV Cultura, no qual foi entrevistado por uma bancada de jornalistas convidados.

No programa, Cunha negou que seja adversário do PT, mas disse que o partido o escolheu como adversário. “O PT me escolheu como adversário, não fui eu que escolhi o PT como adversário. Também não escolhi a presidente Dilma como adversária. Estamos no meio de uma crise política e temos que resolver uma crise política”, afirmou.

De acordo com o presidente da Câmara, é necessário que a presidente Dilma Rousseff reveja o atual tipo de coalizão feita com os demais partidos para que manter a governabilidade.

“É preciso que ela retome agenda do país e retome a coalizão. Eu falei coalizão, e não cooptação, mostrando para a sociedade o que precisa fazer no ajuste fiscal, o que tem hoje que vai trazer de benefícios depois”, disse.

Segundo Cunha, seu partido, o PMDB quer espaço na coalizão e participar da tomada de decisões, mas não faz pedido de cargos nem de ter comando de ministérios.

O presidente da Câmara disse, ainda, ser favorável a que o ex-presidente Lula participe de reuniões com Dilma Rousseff para “cooperar” com o governo.

"O Lula é que é o grande líder do processo político que colocou o PT no poder. O Lula é um animal político de envergadura, de visão extraordinária. Eu não vejo nada demais [que ele mantenha reuniões com Dilma]. Acho até que ele poderia ter ajudado mais”, declarou.

Ele também defendeu o fim do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para bacharéis de direito – atualmente, é necessário passar na prova para exercer a profissão de advogado.

“Acho que ter o exame para classificar as universidades, tudo bem, mas ter um exame que impede o estudante a exercer sua profissão é uma injustiça. Só se tivesse para todas as profissões. Qual a importância a mais que a profissão de advogado tem em relação a outras profissões, para que haja o exame?”, questionou cunha.
Na entrevista, Cunha reforçou ainda que é “radicalmente” contra o aborto e disse que as “minorias” não podem impor seus interesses à “maioria”. “Esses direitos da minoria a sociedade os protege. Mas não posso fazer com que eles imponham à maioria a pauta que lhes interessa. A minoria tem que se submeter à posição de minoria”, disse.
O presidente da Câmara disse considerar o aborto um “crime hediondo”, porque, segundo ele, é um atentado contra a vida de quem não pode se defender.

“Uma coisa é atentar contra a vida de quem pode se defender, outra coisa é atentar contra a vida de quem não pode. Se você não tem tipificação, você tem estímulo à prática. Tudo na vida tem que ter tipificação. Acho que médico que pratica aborto tem que ir para a cadeia. A tipificação tem que existir”, afirmou.

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