Cuidar de nossa memória é manter a cidade viva

Cuidar de nossa memória é manter a cidade viva

Já dizia o grande compositor Pescuma, em seu clássico “Tipos Populares”, que “a cidade vive dos que vivem nela”. E vou além, digo que ela se tornou o que é hoje porque pessoas dedicaram seu tempo, energia e recursos nesse intento. Neste aniversário de 301 anos de Cuiabá, um tanto atípico, por conta da pandemia da Covid-19, quero convidar todos a fazerem uma homenagem diferente. Que tal cuidarmos da memória daqueles que ajudaram a construir sua história e que se encontram tão vulneráveis?

Falo dos idosos, os guardiões de nosso passado. Na nossa Unimed Cuiabá, essa é uma preocupação demonstrada já faz um bom tempo. Já se vão aí dois anos que criamos a campanha Terapia de Lembranças, que na primeira edição convidou os idosos a registrarem suas memórias em um livro, diante de fotos antigas da Capital. A repercussão foi grande e muita gente fez questão de receber a obra para ingressar naquela verdadeira viagem no tempo.

No ano passado, na segunda edição, o caminho foi outro. Pegamos de surpresa o nosso saudoso Bolinha e o fizemos lembrar dos bons e velhos [com o perdão da palavra!] tempos da banda Jacildo e Seus Rapazes, que se tornou a grande sensação dos bailes na Capital com seu estilo Jovem Guarda. Foi, ao mesmo tempo, uma homenagem à Cuiabá e também ao grande músico que tornou sua história bem mais interessante com a música que fazia. Para quem acredita em destino, parecia que algo nos dizia que era preciso fazer esse resgate. Pouco tempo depois receberíamos a notícia de que ele não mais poderia nos encantar com seu sax.

Isso serviu para nos conscientizarmos de que o caminho era esse mesmo. Precisamos preservar as lembranças, estimular a memória dos mais idosos, pois eles carregam uma história da cidade que não está nos livros, nas músicas, nas fotos. Estimulá-los, além de ser uma forma de manter as mentes deles saudáveis, é manter viva a história.

Mais do que nunca, hoje, quando estamos às voltas com uma ameaça global à nossa saúde e, principalmente, à dos idosos [por uma série de questões que vêm sendo largamente divulgadas pelas autoridades de saúde], precisamos cuidar deles. Em nossa nova campanha, a ideia é manter esses guardiões da memória vivos e bem de saúde. O isolamento é primordial nesse sentido. Precisamos mantê-los em casa, seguros, até que esse momento difícil passe. E tenham fé, ele vai passar. Até antes do que esperamos. Basta que haja um esforço nosso para isso.

Mas lembrem-se, isolamento ou distanciamento não devem significar esquecimento, falta de atenção. Vivemos em um mundo repleto de tecnologia e ferramentas que possibilitam contato constante com as pessoas, sejam em que lugar do mundo elas estiverem. Mantenham, portanto, um vínculo, mesmo que virtual, procurando saber como os idosos que você conhece estão. Procure fazer com que exercitem a memória e enriqueçam suas mentes com suas lembranças. Tenho certeza de que serão momentos de grande prazer, para ambos.

Cuidar é sempre a melhor atitude.

Rubens Carlos de Oliveira Júnior é médico patologista, presidente da Unimed Cuiabá e Federação das Unimeds do Estado do Mato Grosso

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