Samuel Henrique, o Samuka, ficou conhecido e viralizou nesta semana quando Terry Crews compartilhou um vídeo em que ele aparece dançando e fazendo uma performance impressionante de break no reality show America’s Got Talent. O dançarino brasileiro, de 26 anos de idade – 27 na próxima semana – conversou com a Quem e contou os detalhes de sua participação no programa de TV norte americano e sobre como usou a dança para superar as dificuldades da adolescência, que incluíram a amputação de sua perna aos 13 anos de idade após um tratamento de câncer.

Nascido em Brasília, ‘Samuka’ atualmente mora na França, onde integra o elenco de uma grande companhia de dança. Com a carreira já consolidada, ele contou com orgulho que há dois meses foi campeão mundial de Break em um campeonato internacional que aconteceu no Japão.

Apesar de já estar há mais de 10 anos na estrada se profissionalizando na dança, Samuka nunca pensou em participar de um programa de TV de audiência internacional como o America’s Got Talent. “Sempre achei legal, e recebi o convite. Eu já ia para a Califórnia para participar de um campeonato, e a princípio não tinha pensado em aparecer em programa de TV. Mas então vi a estrutura, é uma coisa de outro mundo. Eu já acompanhava o programa, já gostava, mas não tinha noção que era tão grande”, contou ele.

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— Terry Crews (@terrycrews) June 12, 2024

Com a repercussão de sua apresentação, Samuka confessou que ainda está tentando entender e se adaptar com a fama repentina, e que foi um pouco difícil encarar os jurados do reality show, especialmente Simon Cowell, que é conhecido por ser rígido em suas avaliações.

“Me fizeram essa pergunta, se eu queria impressionar o Simon. Eu falei que não, não queria impressionar ninguém. Só queria dar o meu melhor. Mas foi um pouco difícil, confesso. Era muita gente. Fiquei muito nervoso na hora. Mas já tem bastante tempo que faço isso, faz treze anos que danço Break. Então acabei me sentindo preparado na hora, mesmo nervoso para caramba”.

Samuka deverá voltar aos Estados Unidos em agosto para a semifinal do programa, já que está bem ranqueado em comparação aos outros concorrentes. “Falei para um amigo meu holandês para me coreografar. Quero estar mais preparado ainda, e apresentar uma coisa ainda mais elaborada”, disse, animado.

Passado com dificuldades

Atualmente Samuka consegue auxiliar a sua mãe financeiramente com a consolidação de sua carreira na dança. No passado, no entanto, a família passou por muitas dificuldades financeiras, desde que perdeu o pai em 2005 em um acidente de carro.

Três anos depois, em 2008, ele foi diagnosticado com um câncer na perna no mesmo período em que seu irmão mais novo estava sofrendo com insuficiência renal. “Foi uma parte bem difícil da nossa vida, assim mesmo. A gente passou várias dificuldades financeiras. Até porque era só minha mãe, solteira, com três crianças”.

Samuel ficou em tratamento contra o câncer por outros três anos, e apesar disso a doença voltou um tempo depois. “A galera sempre pergunta, ‘como você superou?’, mas a pessoa que segurou a onda realmente foi a minha mãe. Ela é quem foi meu pilar, saca? Tratei 3 anos com quimioterapia, radioterapia. Tinha sumido, mas depois ele voltou do nada, se alastrando pela perna. Foi quando os médicos falaram que se não amputasse a perna, a doença subiria para o tórax e aí seria a minha vida”, contou, se rasgando em elogios à mãe e contando que por conta da nova profissão ele conseguiu fazer o jogo virar.

“Ela é quem foi o anjo da guarda, segurou as pontas. Era uma semana comigo no hospital fazendo tratamento de quimioterapia, e um mês com o meu irmão também lá no hospital com as crises que ele tinha na época. Foi difícil essa parte da nossa vida. Mas quando comecei a dançar o Break, vi que era algo que eu fazia por diversão, mas que poderia fazer acontecer. Com o passar dos anos isso virou uma profissão. Então comecei a ajudar a minha mãe, virou nossa fonte de renda”.

Vida na dança

Samuka jogava bola na infância, mas sempre gostou de hip hop. Ele teve contato com um projeto social chamado Expressação em 2010, um ano antes de passar pela amputação de sua perna. “Na primeira vez que vi um cara dançando Break, girando, eu vi que queria fazer aquilo. Comecei a dançar, mas naquela época meu negócio era jogar futebol, então não dei tanta atenção ali”, explicou.

Depois que passou pela amputação, decidiu voltar os olhares para a dança. “Eu me perguntei ‘E agora? O que eu vou fazer da minha vida?’. Eu estava no início da adolescência, fiquei bem perdidão. Então, assim que saí do hospital, passei dois meses em casa esperando o ponto melhorar e sarar. Nestes dois meses eu passei todo o santo dia da minha vida assistindo vídeos de Break. Acordava de manhã e passava o dia no computador. Pesquisei ‘bboy com uma perna’ e vi um cara no Japão dançando com uma perna só. Foi ali que vi que era possível”.

O dançarino começou a fazer alguns passos sozinho em casa, e depois recebeu ajuda dos amigos do Break que conheceu antes da cirurgia. Em 2017 ele recebeu a primeira oportunidade de sair do país para dançar profissionalmente em um campeonato na Alemanha. “De lá para cá foi só decolando”.

Em 2021 Samuka foi convidado para integrar uma companhia de dança contemporânea na França, a Ill Abilities, a qual ele continua atendendo. Inicialmente ele fez idas e vindas à Europa, e desde o ano passado ele efetivamente passou a morar lá.

Com o sucesso, Samuel não pretende – pelo menos por enquanto – voltar a morar no Brasil. No entanto, continua com a sua missão de seguir ajudando a sua mãe, mesmo que à distância.

“Ela se desdobrou na época para dar de comer para a gente, a gente passou várias dificuldades. Hoje eu só sinto o dever de retribuir. Meu sonho é dar uma casa nova pra ela, até agora eu consegui reformar a casa que a gente tinha. Guardei dinheiro e reformei. Não deixo faltar nada para ela, ajudo sempre”, concluiu.