Cientista que primeiro detectou zika no Brasil sofre com falta de verba

Redação PH

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Cientista que primeiro detectou zika no Brasil sofre com falta de verba

Em abril de 2015, o virologista Gubio Soares Santos descobriu – ao lado da também virologista Silvia Inês Sardi e com a colaboração do infectologista Antonio Bandeira – que o vírus da zika tinha chegado ao Brasil. Pesquisadores do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), eles sofrem hoje com a falta de recursos para prosseguir as pesquisas sobre o vírus que tem sido cada vez mais fortemente associado à microcefalia e à síndrome de Guillain-Barré.

“Não tem dinheiro para pesquisa. Nem para consertar um freezer de 80ºC negativos, que queimou depois de uma queda de energia no laboratório, temos recurso”, diz Santos.

Ele critica o fato de, mesmo em uma situação de emergência em saúde pública como a que o país enfrenta, não haver um canal direto para solicitar recursos para pesquisa sobre o tema no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “O governo não está investindo recursos e não temos a quem recorrer.”

Uma das linhas de pesquisa que seu grupo gostaria de seguir diz respeito ao vetor da zika. “Estamos acusando o Aedes aegypti porque zika e dengue são da mesma família, mas ainda faltam provas científicas no Brasil”, diz.

Outra seria estudar outras formas de transmissão, como a sexual e a possibilidade de infecção pela saliva. “Podemos encontrar o vírus em secreções, mas não significa que é possível contaminar dessa forma, é preciso investigar.”

O estudo da resposta imune do indivíduo contra o vírus e o desenvolvimento de testes mais eficazes para diagnóstico também são áreas de interesse da equipe.

Governo federal prepara pacote de financiamento

Em resposta à crítica, o MCTI afirmou, em nota enviada ao G1, que está em elaboração pelo governo federal "um pacote de iniciativas voltadas para pesquisas sobre o vírus zika e demais doenças transmitidas pelo mosquitoAedes aegypti". O projeto é uma parceria do MCTI, do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, da Casa Civil e de agências de financiamento. Segundo a pasta, o pacote deverá ser anunciado pelo governo federal nas próximas semanas.

"Na visão do MCTI, o governo federal não medirá esforços para preservar os investimentos para pesquisas na área, uma vez que a mobilização de combate ao vírus zika e aoAedes aegyptié uma prioridade nacional."

Pesquisa de zika no exterior

A preocupação de Santos é que as principais descobertas relacionadas ao vírus da zika acabem sendo feitas no exterior. “Fora do Brasil, os pesquisadores estão trabalhando nas mesmas pesquisas, mas é como se eles estivessem andando de Ferrari e nós estivéssemos andando de carroça. Estamos caminhando enquanto eles estão correndo.”

Uma das alternativas que vislumbra contra a falta de verbas seria fechar parcerias com organizações estrangeiras. “Estamos esperando o resultado de uma parceria com a Europa, cujo resultado vai sair em abril e, se der certo, vão transferir recursos para comprarmos material e equipamento”, conta.

Ele lembra que um novo pico de infecções pelo vírus da zika deve ocorrer em breve nos estados do Nordeste e que a demora na obtenção de recursos pode atrasar a obtenção de resultados que possam ter impacto importante na saúde pública.

NOTA DE ESCLARECIMENTO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

O Ministério da Saúde considera contraditórias as falas de representantes do Instituto Butantan sobre o não repasse de verbas da pasta para o projeto de desenvolvimento de soro contra o vírus Zika, uma vez que o laboratório não entregou documento obrigatório para a liberação de recursos. Desde a assinatura do contrato (22/2) até a manhã desta quarta-feira (9/3), o Ministério da Saúde não recebeu o relatório de atividades que fundamentaria o início do repasse dos R$ 8,5 milhões previstos.

Pela cláusula 6.1.1 do contrato (veja aqui), os repasses de recursos estão condicionados a entrega deste documento por parte do Instituto Butantan. Mesmo estando dentro dos prazos previstos para início das transferências (até 30 dias após sua assinatura), o Ministério da Saúde fica impedido de destinar os valores diante desta pendência.

Sobre o contrato referente ao valor de R$ 100 milhões para a terceira fase clínica da vacina da dengue, o Ministério da Saúde esclarece que os documentos exigidos para a liberação de recursos somente foram entregues pelo Instituto Butantan para análise da pasta nesta terça-feira, 8 de março, após as declarações do diretor do laboratório na imprensa. Segundo a cláusula 6.1.1 deste contrato (veja aqui), também assinado no dia 22/2, o Instituto Butantan deve apresentar os relatórios de estudo clínico da fase II, o plano detalhado do estudo de fase III e o plano de aplicação de recursos.

O Ministério da Saúde reforça ainda que os gestores públicos devem unir esforços no combate ao Aedes aegypti e às doenças transmitidas pelo vetor diante da situação de emergência em saúde. A pasta trata como prioridade as novas tecnologias relacionadas ao tema, já tendo firmado importantes parcerias nacionais e internacionais. O Brasil tem sido protagonista e o Ministério da Saúde reafirma que não poupará recursos para que seja possível desvendar a atuação do vírus Zika e combater, de forma efetiva, seu alcance.

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