Audiência pública discute a importância da neurociência para educação de autistas

Audiência pública discute a importância da neurociência para educação de autistas
Helder Faria /ALMT

Audiência pública discute a importância da neurociência para educação de autistas

A importância da neurociência na educação foi tema de audiência pública realizada na tarde desta segunda-feira (26) pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. O evento integra a programação da “I Jornada sobre o Autismo – Em Busca de uma Educação Inclusiva”, idealizada pelo deputado estadual Wilson Santos (PSDB).

A audiência pública contou com a presença da especialista em neurociência Marta Relvas, do terapeuta ocupacional e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Otávio Motta Pompeu, do professor e pós-doutor em educação Kapitango-a-Samba, e da psicóloga e mestre em educação Jane Cassia Barbosa.

Na ocasião, foi debatida a relevância da formação de professores e educadores, de familiares e também da sociedade com um todo para lidar com crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), de forma a estimular o desenvolvimento de suas habilidades.

O terapeuta ocupacional José Otávio Motta Pompeu, que é autista, relatou as dificuldades enfrentadas durante sua vida, principalmente na infância e período escolar, e apresentou algumas estratégias que podem ser colocadas em prática para auxiliar o aprendizado de crianças e adolescentes autistas.

O primeiro passo, segundo ele, é identificar os dons e habilidades que a criança com autismo possui e utilizar isso como estratégia para o seu aprendizado. “As crianças com autismo têm vários dons. Precisamos identificar o dom de cada criança e estimular esse dom. Assim, podemos conseguir que elas se desenvolvam e tenham um papel na sociedade”, afirmou.

O professor também destacou o afeto dos familiares e educadores como um item essencial para o desenvolvimento e educação dos autistas, bem como a importância fornecer informações corretas para essas pessoas acerca desse tipo de transtorno. “Crianças autistas não fazem birra. Crianças autistas têm crises e essas crises têm origens emocionais. Professores, pais, avós de crianças autistas: não desistam”, clamou.

Para auxiliar a educação de crianças e adolescentes autistas em Mato Grosso José Otávio defendeu a criação de um programa estadual de educação inclusiva. Outra sugestão apresentada por ele foi a criação de salas especiais de descompressão nas escolas, com estrutura adequada para receber os autistas durante os intervalos das aulas, períodos considerados difíceis para pessoas com esse tipo de transtorno.

O professor e pós-doutor em educação Kapitango-a-Samba reforçou a necessidade de repensar a formação dos professores, com o objetivo de prepará-los para lidar com crianças e adolescentes com transtornos de neurodesenvolvimento, e destacou a importância da neurociência nesse processo.

“É possível que uma pessoa com transtorno de neurodesenvolvimento se desenvolva intelectualmente. Para isso, precisamos ajudar o estudante, conhecendo suas necessidades e mediando seu aprendizado. O conhecimento em neurociência ajuda o professor a conhecer o estudante e, então, traçar estratégias para fazer essa mediação”, explicou.

A implantação de salas de recursos, segundo o professor, poderia auxiliar nesse processo, no entanto a ausência de professores com formação adequada e também de recursos financeiros foi citada por ele como fator que dificulta a adoção da medida.

Kapitango-a-Samba participa, juntamente com neuropsicopedagogos e psicólogos, de um projeto que será implementado de forma experimental no campus de Barra do Bugres da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). “Esse projeto visa à identificação, avaliação e acompanhamento de estudantes com transtorno de neurodesenvolvimento para desenvolvimento de programas de intervenção pedagógica de acordo com suas necessidades”, disse.

Aline Beduschi, professora e coordenadora escolar, relatou a dificuldade de integração entre educação e saúde e os prejuízos disso para a educação de pessoas que apresentam condições especiais. “O transtorno é identificado na escola, mas a escola não tem a quem recorrer. Nossa grande angústia hoje é por políticas públicas que realmente atendam as demandas das salas de aula”, disse.

Muito emocionado, Júlio Cézar Palhano relatou as dificuldades que enfrenta para educar seu filho, que é autista. Ele afirmou que as escolas não possuem projetos pedagógicos para estudantes autistas e reivindicou suporte do Poder Público para garantir a educação de estudantes com esse tipo de transtorno.

Parlamento estadual

O deputado estadual Wilson Santos defendeu a implantação, em Cuiabá, de um Centro de Diagnóstico para identificar distúrbios de aprendizagem. “Essa seria uma grande vitória para 2019. Já fizemos várias indicações ao governador, a secretária de estado de educação já nos recebeu, mas até agora nada saiu do papel. Vamos continuar cobrando isso”, frisou.

O presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura e Desporto, deputado Thiago Silva, reforçou o compromisso de trabalhar pela melhoria da educação especial em Mato Grosso. “Não vamos ficar só nas palavras. Entendemos que há varias leis já existentes, tanto em Mato Grosso quanto em nível nacional, e agora nossa missão é trabalhar para que nosso estado seja referência na área da educação inclusiva, diagnóstico, formação e capacitação. Nosso objetivo é criar uma agenda nos municípios polos para aprofundar o debate a criar uma política estadual de educação inclusiva”, salientou.

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