O Brasil vai sediar a Copa do Mundo Feminina em 2027 e Cuiabá será uma das sub sedes. Esta pauta é oportuna para falarmos sobre a saúde das atletas diante de competições de alto nível, a diferença entre o condicionamento do homem e da mulher atleta e destacar a importância do mundial como fonte de inspiração para o público feminino local.
Vamos começar sobre as particularidades relacionadas a uma mulher atleta, que envolvem muitas variáveis e independente da competição, a exemplo do planejamento do ciclo menstrual com anticoncepcional ou não, de acordo com o calendário competitivo e planejamento de gestação no momento que ela julgar mais oportuno caso seja desejo dela ser mãe.
Também envolve cuidados com o assoalho pélvico para que questões relacionadas a perda de urina não reflitam na queda de performance, adequar sutiã esportivo individual de acordo com cada mama para que não tenha dor durante o esforço, investigar patologias que possam trazer incômodos como ovários policísticos, endometriose, miomas, entre outros. Enfim, são muitos aspectos a serem ajustados.
Mas, existem diferenças entre um homem e uma mulher atletas do futebol? Sim. Existem, de fato, diferenças não só físicas, mas também fisiológicas entre o corpo de um homem e o corpo de uma mulher.
Por exemplo, a mulher tem a densidade corporal menor que o homem e isso significa pulmões menores, coração menor, menos quantidade de sangue, menor massa óssea, menos músculos, e tudo isso é levado em consideração quando se vai periodizar o treino de uma mulher atleta, não só de futebol mas de todas as modalidades, refletindo na intensidades, frequência, duração, carga e volume de treino, seja individualizado, seja para uma modalidade esportiva de grupo como é o futebol.
Mas o mais importante é deixar claro que isso não significa que para mulher atleta a periodização ou planejamento de treino vai ser menor ou menos que a de um homem atleta.
Saúde mental
A saúde mental tem o poder tanto de ser determinante numa vitória quanto por causa de uma derrota. Já é muito bem estabelecido a importância da psicologia esportiva no alto rendimento. Não podemos esquecer que as jogadoras também são mães, filhas, irmãs, primas, tias, madrinhas, namoradas, esposas… a carreira da jogadora envolve certas privações, em um momento de Copa do Mundo existe uma pressão muito grande por resultado. Enfim, diria que o cuidado com a saúde mental é obrigatório.
Fonte de inspiração
Em uma outra vertente, destacamos aqui a importância dessa Copa do Mundo especificamente para o público feminino do estado de Mato Grosso e Cuiabá. Sabemos que estatisticamente no Brasil e no mundo, as mulheres são menos fisicamente ativas que os homens, portanto são justamente essas oportunidades que podemos mudar o cenário para que cada vez mais mulheres possam usufruir do exercício físico e do esporte e todos os seus benefícios.
As jogadoras que vão disputar a copa aqui com certeza vão inspirar várias meninas a procurar o mundo do futebol. E sabemos que o esporte muda vidas! O esporte é uma das ferramentas sociais mais importantes que existe, na formação da pessoa e desenvolvimento como cidadã. Infelizmente o esporte no nosso país ainda é muito desvalorizado, então devemos aproveitar ao máximo uma Copa do Mundo feminina para mudar essa realidade!
E para que tenhamos uma jogadora do estado de Mato Grosso na seleção em uma Copa do Mundo é preciso incentivar o futebol feminino, com uma rede de suporte e investimento para que se tenha condições de competir em alto rendimento.
A partir do momento que existe uma limitação de investimento, é muito difícil em termos de performance competir com quem tem investimento e estruturação. Diria que estamos dando os passos iniciais aqui na região com a ascensão de divisão do time feminino do Mixto recentemente, e agora com a possibilidade de ascensão do time feminino do Ação.
Não custa sonhar que um dia teremos toda estrutura e suporte possível para que uma atleta não só do futebol, mas também de outras modalidades esportivas possam vislumbrar uma carreira sólida aqui na nossa região.
Dr. João Lombardi é médico do exercício e do esporte pela Unifesp, Pós em fisiologia do exercício e metabolismo pela USP de Ribeirão Preto, mestrando pela UFMT, diretor do Instituto Lombardi, médico do Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio, médico assistente do Comitê Paralímpico Brasileiro.