Vigilante apontado como serial killer pega 26 anos por morte de estudante

Redação PH

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Vigilante apontado como serial killer pega 26 anos por morte de estudante

O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 28 anos, foi condenado, nesta segunda-feira (23), a 26 anos de prisão pela morte da estudante Ana Lídia Gomes, de 14 anos, assassinada em agosto de 2014. O júri popular considerou que ele cometeu homicídio qualificado, por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. A defesa recorreu da sentença, mas a acusação não.

Essa foi a 9º condenação por homicídio contra Tiago Henrique, que responde por mais de 30 assassinatos. Preso desde outubro de 2014, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, ele também já cumpre pena por roubo e porte ilegal de arma.

O julgamento ocorreu no 1º Tribunal do Júri. Presidido pelo juiz Eduardo Pio Mascarenhas, o júri foi composto por seis mulheres e um homem.

“Cada caso e cada julgamento é analisado de forma individualizada. Nesse caso, a pena foi maior devido ao alto grau de reprobabilidade da ação do réu. Em casos anteriores, as vítimas foram mortas com um disparo, mas nesse Tiago disparou quatro vezes contra a vítima, o que aumenta sua culpabilidade”, explicou Mascarenhas ao G1.

Ana Lídia foi morta em 2 de agosto de 2014 em um ponto de ônibus do Setor Conjunto Morada Nova. Ela esperava condução para se encontrar com a mãe na Feira da Lua, no Setor Oeste. Dois dos tiros atingiram o peito da menina, que morreu na hora. Após o crime, o suspeito fugiu sem levar nenhum pertence da vítima.

O promotor de Justiça Maurício de Camargos, responsável pela acusação, não recorreu da sentença. “Avalio com alegria essa sentença por perceber que o júri entendeu a mensagem que estamos passando. Eu acredito que essa pena de 26 anos foi mais pela situação da vítima, que era adolescente e estava indo ajudar a mãe no trabalho. Acredito que essa é a pena ideal devido ao que ele cometeu”, comentou.

Vigilante Tiago Henrique não compareceu ao 9º júri popular (Foto: Vitor Santana/G1)

O advogado que defende Tiago Henrique, Hérick Pereira de Sousa,discordou da decisão do júri. “Hoje um dos jurados votou pela absolvição imprópria, que é absolver impropriamente, já que Tiago deve ser levado a um manicômio. Isso mostra que os jurados estão entendendo a dúvida e as contradições que mostramos. As penas têm sido tão altas porque o réu é pobre, não tem um profissional que se disponha a fazer os exames para ajudar nesse caso”, afirmou.

Julgamento

O júri começou por volta das 8h30. Tiago Henrique não compareceu ao julgamento a pedido da defesa. Segundo o advogado, a ausência se deve a “questões de segurança”. “Achamos mais prudente que ele não estivesse, ainda por causa da agressão que ele sofreu em um júri passado”, disse Sousa.

Inicialmente foram escolhidos os sete jurados. Em seguida, prestou depoimento o motorista José Luiz Jacinto, que mora a cerca de 20 metros do ponto de ônibus onde Ana Lídia foi morta. Ele estava saindo de casa quando o crime ocorreu e viu o autor dos disparos. "Pelas características, porte físico, quem eu vi no dia do crime é idêntico ao Tiago que vi na TV", disse.

Em seguida, prestou depoimento o avô de Ana Lídia, Aloísio Gomes. Ele se emocionou ao falar sobre a neta e o dia do crime.

“Ela era alegre, sorridente, estudiosa. Sempre alimentou a esperança de viver em alegria. No dia do crime ela estava indo para a feira. Ela sempre ia com alguém de carro, aquele dia foi uma exceção, quando ela foi de ônibus. Eu não estava com ela quando isso aconteceu. Fiquei sabendo quando me ligaram falando que tinha acontecido um desastre perto da minha casa”, lamentou.

Depois de prestar depoimento, o avô de Ana Lídia saiu do plenário muito abalado e teve de ser amparado pelos familiares. O idoso deixou o fórum sem falar com a imprensa.

Após as oitivas das testemunhas, o promotor Maurício de Camargos começou a expor as teses da acusação. Como o réu não compareceu ao julgamento, ele exibiu um vídeo do depoimento de Tiago Henrique durante uma audiência de instrução para mostrar que ele "sempre se recusa a explicar os fatos e a responder perguntas".

O promotor destacou que o exame de balística confirmou que a arma apreendida com o vigilante foi a mesma usada na morte de Ana Lídia. Ele defende que a vítima foi morta por motivo torpe e não teve chance de se defender.

"Motivo torpe é algo imoral. É um cidadão sair matando quem ele nem conhece por mero prazer não é algo imoral? Já com relação à chance de defesa, a pobre moça estava sentada no ponto de ônibus para ir para a feira. Ai para um cidadão chamado Tiago Henrique na frente dela e dá quatro tiros. Que chance de defesa ela teve?", ressaltou Camargos.

Após quase 1h30 de acusação, foi a vez da defesa apresentar sua tese. O advogado Hérick Pereira de Sousa, que defende o vigilante, falou ao G1 sobre qual seria sua estratégia. "Não tem como negar que o Tiago Henrique não matou a Ana Lídia, as provas são claras. Mas o que a defesa vai tentar explicar é o que leva o Tiago a cometer esses atos. E mostrar que ainda há falhas nos exames para determinar se ele é ou não um psicopata", disse o defensor.

Ele sustentou o argumento de que existem falhas e contradições no processo contra o vigilante. "Estudos dizem que o serial killer tem uma característica que é a ausência de motivo para os crimes. Nos processos, eles colocam vários motivos para o crime, como ódio ou prazer. Isso tudo é contraditório. Se não se sabe o motivo, não tem motivo, então não pode ser julgado como motivo torpe", ressaltou.

Ainda falando sobre as qualificadoras, o advogado argumentou que não houve impossibilidade de defesa. "Tinha que ser um ataque sorrateiro, de surpresa. Nesse caso, o Tiago chegou frente a frente, parou a moto, exibiu a arma. Ela sabia o que podia acontecer. Nas fotos mostradas pelo promotor, dá para ver um ferimento escuro na mão da vítima. Isso mostra que o Tiago ainda se aproximou, que ela tentou se defender. Então, não existe a qualificadora de agressão repentina", defendeu.

"Se há dúvida, não condenem, absolvam. Se isso acontecer, o juiz terá que determinar uma medida de segurança, que poderia ser colocá-lo [Tiago Henrique] em um manicômio por tempo indeterminado. Se vossas excelências o condenarem, ele pode cumprir sua pena e poderá continuar matando, dentro e até fora da cadeia", argumentou o advogado.

Logo depois, a acusação pediu o direito à réplica."A defesa diz que a Ana Lídia deveria se defender, que ela não foi apanhada de surpresa porque viu o Tiago chegando e, por isso, não tinha que ter qualificadora. Essa argumentação é do mesmo nível que falar que ele é um pobre coitado e que há uma teoria da conspiração contra ele. As qualificadoras não são por capricho ou só vontade de aumentar a pena. As qualificadoras estão lá no processo e foram provadas. E, além disso, acatadas pelo juiz", declarou o promotor Maurício de Camargos.

Na tréplica, Hérick Pereira de Sousa reforçou a tese de que as qualificadoras devem ser desconsideradas. "A vítima viu o Tiago chegar. Ela não é obrigada a fazer nada, mas ela teve a chance de se defender. Então, para configurar essa qualificadora, tem que ficar comprovado que ela não esperava e não teve nem chance de fazer nada. Nesse caso, ela teve. Ela chegou até a colocar a mão na frente", disse o afvogado.

Condenações

Até a tarde desta segunda-feira (23), o vigilante apontado como o serial killer foi condenado por nove homicídios. Preso desde outubro de 2014, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, ele já cumpre pena por roubo e porte ilegal de arma e é acusado por mais de 30 mortes.

Familiares acompanharam emocionados o julgamento (Foto: Vitor Santana/G1)

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