Vendas de motos caem pelo 3º ano seguido

Redação PH

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vendas de motos caem pelo 3º ano seguido

Vendas de motos caem pelo 3º ano seguido

O mercado brasileiro de motocicletas engatou marcha à ré no ano passado. Este é o frio veredicto dos números divulgados recentemente pela associação dos fabricantes, a Abraciclo. Em 2014, saíram das linhas de montagem nacionais 1.517.662 unidades, o que representa uma queda na produção de 9,3% ante 2013, ano que já não tinha sido grande coisa para o setor.
As vendas de motos caem no Brasil continuamente desde 2011, último ano “gordo”, no qual, pela segunda vez na história da indústria motociclística brasileira, a expressiva marca de dois milhões de veículos havia sido superada. Na ocasião, exatas 2.136.891 motocicletas foram produzidas. Em 2008, o ano do recorde absoluto, a cifra foi ligeiramente maior: 2.140.907.
Os executivos das principais empresas do setor instaladas no Brasil não hesitam em apontar um grande vilão para explicar, ao menos em parte, essa progressiva retração que já dura três anos: conseguir crédito para comprar uma moto ficou mais difícil. Os bancos têm como justificativa o grande índice de inadimplência desse tipo de financiamento, em sua maioria destinado à compra de modelos de 100 a 150 cc, motos cujos valores vão de R$ 4 mil a R$ 9 mil e que representam o grosso da produção nacional.
O mercado encolhendo não é, porém, um fenômeno generalizado. No segmento de motocicletas grandes, com motores acima dos 450 cc e valor invariavelmente acima dos R$ 20 mil, o ano passado foi positivo, crescendo 10% em relação a 2013. Em parte, o que explica isso é o maior poder aquisitivo de muitos dos seus consumidores, que não precisam recorrer a financiamentos.
E a outra parte? A efervescência de novos modelos. A indústria não se fez de rogada em 2014, ano marcado por lançamentos significativos no “andar de cima” do mercado. A nova linha 500 da Honda (veja na foto abaixo o modelo CB 500F) comprova que a empresa, número 1 no Brasil (com 81,65% do bolo) e no mundo não ficou de braços cruzados vendo suas CG 125 e 150 sem compradores. A velocidade em propor a novidade é efeito, também, da entrada de novos “players” no mercado. No passado, a chegada de um lançamento mundial ao Brasil demorava anos, agora tal defasagem foi reduzida a meses e não se limitou às Honda 500. Também a Yamaha lançou aqui com brevidade inédita uma de suas grandes apostas mundiais, a moderna MT-09, uma 800 cc equipada com um atualíssimo motor tricilindro.
Os novos fabricantes que chegaram ao Brasil na última década, sem dúvida, qualificaram a nossa indústria. A maioria das novas marcas não atua no mercado das 125 ou 150 cc, mas sim no lucrativo mercado das motos médias e grandes. Exemplos? A também japonesa Kawasaki emplacou um modelo de sucesso com o qual nem Honda nem Yamaha conseguiram rivalizar, a esportiva Ninja 250 e 300.
As lendárias Harley-Davidson, grandes, pesadas e com tecnologia tradicional, se transformaram em objeto do desejo de muitos que nem sequer sabem andar de bicicleta, mas que, ao serem questionados sobre qual moto gostariam de ter, apontam a marca americana como sonho número 1. Com fábrica no Brasil há bom tempo, a Harley-Davidson não tem do que se queixar, tendo elevado sua produção em 50% de 2009 a 2014.
A crescente busca dos brasileiros por modelos maiores e mais sofisticados também faz a alegria da alemã BMW, das italianas Ducati e MV Agusta e da inglesa Triumph, todas elas com linhas de produção em Manaus, “surfando” na boa onda do nicho acima de 450 cc.
Apesar do sucesso das motos médias e grandes, o magro número de produção final de 2014 não deixa de ser alarmante, uma vez que o total de motocicletas acima de 450 cc produzidas no ano – pouco mais de 53 mil unidades – representa cerca de 3,5% do total da produção nacional. As principais fábricas de Manaus, projetadas para produzir milhões, desovaram “milhão”, no singular (e por três anos consecutivos!), e agora enfrentam o fantasma da ociosidade. E com ele podem vir os cortes de mão de obra e o temido retrocesso.
Falta vontade de moto no Brasil? Evidentemente não. Quem pode está comprando. Falta, sim, equacionar uma maneira de oferecer à massa dos “sem crédito” um meio de alcançar o seu objeto do desejo: a pequena motocicleta.
A região que mais deixou os fabricantes felizes antes da queda iniciada em 2012 foi a Nordeste. Lá, muito tempo atrás, dizia-se que o maior símbolo de status nos lugares mais humildes era ter geladeira. Pouco depois, o eletrodoméstico foi desbancado pela antena parabólica e, mais recentemente, pela motocicleta de 125 ou 150 cc (de preferência vermelha), substituta do jegue como meio de transporte e instrumento de trabalho.
No Brasil ainda carente de transportes, de estradas e de infraestrutura, a pequena moto é uma ferramenta democrática e de integração social. Como vimos, o veredicto da produção de 2014 indica que a parte mais abonada dos cidadãos brasileiros está de braços dados com a motocicleta. Falta agora encontrar a saída para devolver à porção menos favorecida o veículo que ela quer e tanto precisa.
*Fotos: Linha de montagem da Suzuki em Manaus (Rafael Miotto/G1); Yamaha YS 150 Fazer (Divulgação); Honda CB 500F (Caio Mattos / Divulgação); BMW F 800 GS (Divulgação).

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