Notícias de padrastos estupradores surgem todos os dias. Homens, sempre com a esfarrapada desculpa de que não conseguem se controlar, violentam jovens e crianças com as quais convivem por conta de seus relacionamentos afetivos com as mães das vítimas. Mas o pesadelo de sofrer uma agressão sexual cometida por alguém que deveria ser de sua confiança ganha contornos macabros quando a mãe, em vez de defender a cria, fica do lado do companheiro. Já comentei aqui sobre as mães coniventes com os estupros cometidos por seus amantes e namorados contra os filhos, atitude muitas vezes motivada por carência ou medo de morrer.

Mas a notícia de hoje embrulha ainda mais o estômago. O caso da garota de 15 anos que gravou um vídeo sendo estuprada pelo padrasto, depois de já ter denunciado o homem para a família e não ter sido ouvida, é apavorante quando se revela que a mãe não só defendeu o agressor, como botou a culpa na menina.

Com base no vídeo, a polícia foi até a casa da família, onde prendeu Odair José Eulálio, de 38 anos,. Ele foi preso no último domingo (19) por estuprar a menina de 15 anos, em Campo Limpo Paulista (SP), de acordo com a reportagem do Cidade Alerta. A mãe dela, no entanto, contesta a acusação de estupro. Para Cristina, a filha provocava o homem e andava pelada pela casa. O agressor usou do mesmo argumento para se defender.

— Eu fui obrigado a fazer, ela me assediou. Esperou minha esposa sair de casa e saiu pelada do quarto dizendo que me denunciaria se eu não fizesse nada com ela.

Ou seja: a guria foi violentada várias vezes, pelo padrasto, pela mãe, pela família, e a culpa, senhores, é da sociedade toda, que fecha os olhos para a cultura do estupro, que legitima a agressão sexual e joga sobre a vítima toda a responsabilidade.

A atitude da mãe neste caso é lastimável, mas infelizmente é um retrato de como as pessoas, ela inclusive, enxergam a violência sexual como resultado das atitudes da mulher, ainda que se trate da sua filha de 15 anos.

Foi estuprada? A culpa é sua. Andava pelada. Usava roupa curta. Bebeu na balada. Estava sozinha na rua. As desculpas para justificar o injustificável são inúmeras. Prestem atenção: só existe um culpado pelo crime de estupro: o estuprador. Mais ninguém.