As forças de segurança húngaras detiveram pelo menos 45 refugiados nesta terça-feira (15) após a entrada em vigor da nova legislação que impõe penas de prisão a quem cruzar a fronteira ilegalmente. Os números variam na imprensa internacional. Segundo a BBC foram 45 presos, já a Associated Press e a France Presse mencionam 60.
Migrantes detidos são levados em van da polícia húngara após cruzarem a fronteira da Sérvia, em Asttohatolom, na Hungria (Foto: Dado Ruvic/Reuters)
Eles são acusados de "danificar" a cerca na fronteira com a Sérvia, um delito que pode ser punido com pena de até cinco anos de prisão, de acordo com a nova legislação em vigor, segundo a France Presse.
Além disso, o país decretou "estado de crise" em duas províncias meridionais fronteiriças com a Sérvia pela chegada de milhares de refugiados nas passadas semanas.
O estado de crise durará meio ano (com a possibilidade de prologá-lo) e nesses seis meses o governo pode intensificar os controles fronteiriços, e a polícia e o Exército assumir as tarefas de registrar os solicitantes de asilo.
O país criou duas zonas de trânsito para lidar com os pedidos de asilo de imigrantes ao longo de sua fronteira com a Sérvia, segundo a Reuters. Os migrantes podem apresentar o pedido de asilo das 6h às 10h a cada dia em estruturas que se assemelham aos controles montados no sistema aeroportuário. Quem não apresentar pedido de asilo ou não conseguir o novo status terá que retornar à Sérvia imediatamente.
Ainda de acordo com a Reuters, centenas de migrantes pressionavam uma barreira de metal erguida por polícia húngara frente a principal rodovia que liga a Hungria à Sérvia. Eles gritavam “Abram a fronteira, abram a fronteira”, segundo a Reuters.
Na tarde desta segunda-feira (14), a Hungria fechou a principal passagem fronteiriça com a Sérvia, na localidade de Roszke, através da qual milhares de migrantes entram no país. Policiais bloquearam a via de trem por onde milhares de migrantes tentam todos os dias entrar no país, enquanto outros agentes estendiam arame farpado para bloquear a passagem.
Nova rota
Os refugiados que buscam asilo na União Europeia podem ter que procurar uma nova rota agora que a Hungria está reprimindo a entrada no país, declarou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Melissa Fleming, porta-voz do Acnur, disse que a agência está discutindo essa probabilidade com vários países, embora não os tenha nomeado nem sugerido qualquer possível rota.
“Com certeza estamos em contato com diferentes países a respeito dessas contingências, e o Acnur está pronto para agir e auxiliar esses diferentes países da melhor maneira possível”, afirmou. “Será uma luta, tanto quanto tem sido para Macedônia e Grécia”.
Devido ao grande fluxo de migrantes na Europa, Alemanhax, Áustria e Eslováquia anunciaram entre domingo e esta segunda controles mais rígidos nas suas fronteiras.
A Eslováquia começou a reforçar nesta segunda a vigilância de suas fronteiras com a Áustria e a Hungria, uma reação à decisão tomada pela Alemanha de restabelecer os controles em suas divisas devido à chegada em massa dos refugiados, informou o Ministério do Interior do país.
A Hungria recebeu mais de 200.778 mil migrantes desde o início do ano, em sua grande maioria pela fronteira com a Sérvia. Em quase todos os casos, as pessoas seguiram viagem para o oeste da Europa, segundo a agência France Presse.
Na segunda-feira, o país registrou o recorde de entradas em 24 horas, com 9.380 migrantes, antes do governo de Budapeste fechar a principal passagem na fronteira com a Sérvia.
Sérvia
A Sérvia advertiu nesta terça que não aceitará os refugiados que a Hungria tentar devolver "à força", depois de Budapeste decidir que o vizinho do sul é um país seguro para onde os litigantes de asilo podem retornar.
"Não pararemos ninguém à força em nosso território e por isso também não permitiremos que nenhum país devolva a ninguém à força para nosso território", declarou o ministro do Trabalho, Aleksandar Vulin.
"Eles (os refugiados) estão no território da Hungria e esperamos que o Estado húngaro os trate como é devido", disse Vulin à agência de notícias "Tanjug".
O ministro assinalou que os refugiados que fracassam na tentativa de entrar na Hungria poderão permanecer na Sérvia e retornar aos centros de amparo.
Nova cerca
O chanceler húngaro, Peter Szijjarto, informou que o país já começou os preparativos para construir uma nova barreira em sua fronteira com a Romênia para impedir a entrada de migrantes. Uma cerca já foi construída na fronteira com a Sérvia.
"O governo decidiu iniciar os preparativos para a construção de uma barreira na fronteira entre a Hungria e a Romênia, se estendendo do ponto de junção entre as fronteiras sérvia, húngara e romena em uma distância razoável", informou Szijjarto.
Migrantes esperam para embarcar em um trem para a Sérvia nesta terça-feira (15) (Foto: Ognen Teofilovski/ Reuters)