Ministério da Saúde aplica novo tratamento para Hanseníase e profissionais questionam a eficácia

SES-MT

Ministério da Saúde aplica novo tratamento para Hanseníase e profissionais questionam a eficácia

O Ministério da Saúde realizou vídeo conferência na sala do Telessaude do Hospital Universitário Júlio Muller, para profissionais da saúde pública dos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e do Distrito Federal, para apresentar o novo tratamento para a hanseníase, que será adotado neste ano em todo o país.

A medida foi anunciada no último dia 17, quinta-feira. A partir de agora o ministério unifica a quantidade de dose em seis e o tempo do tratamento em até nove meses para todos os tipos de doentes: o paucibacilar e para o multibacilar, e entre crianças e adultos, independente do grau de evolução da doença.

É o chamado método MDT – U, ou esquema único de tratamento, que foi objeto de pesquisas na China, Índia, Bangladesh e aqui no Brasil, que em 2017 no Ceará pesquisou resultados do novo método em 613 pacientes com alta carga bacilar, ao longo de cinco anos.

Todas as pesquisas realizadas até o momento apresentaram um resultado de alta eficácia do novo método de tratamento, destacou Carmelita Ribeiro Filha, coordenadora-geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação do Ministério da Saúde.

O Brasil será o primeiro país a adotar a forma MDT – U e já formalizou essa decisão para a OPAS – Organização PanAmericana da Saúde. A Organização Mundial de Saúde mantém a recomendação de continuar com o tratamento atual em todo o mundo.

Pelo método atual de tratamento, o doente paucibacilar deve tomar seis doses em até nove meses e o doente multibacilar deve tomar doze doses em até dezoito meses. Historicamente o Brasil vem reduzindo a quantidade de doses ao longo das últimas três décadas. Na década de 80 utilizava-se 24 doses de medicamentos, depois baixou para doze doses e agora deve baixar e unificar em seis doses de medicamentos.

De acordo com a coordenadora-geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação do Ministério da Saúde Carmelita Ribeiro Filha o novo tratamento foi debatido com o Comitê Técnico Assessor do próprio Ministério em dezembro do ano passado e em abril deste ano e ainda será tema de esclarecimento em um encontro macrorregional que o Ministério da Saúde vai realizar no mês de julho, em Cuiabá.

Carmelita Filha explicou que será definido um protocolo nacional do MDT –U  no qual, de maneira flexível , possibilite ao médico avaliar a necessidade ou não de aumentar a quantidade de doses de medicamentos ao longo do tratamento, até a obtenção da cura do paciente, explicou a representante do Ministério da Saúde.

Preocupações dos profissionais da saúde pública de MT

Os profissionais da área da saúde pública estadual e municipal do Estado demonstram preocupação com essa série histórica de redução de doses de medicamento; acreditam que essas mudanças causem insegurança e desconfiança ao paciente quanto à eficácia do tratamento. Outro aspecto é a resistência por parte dos próprios profissionais ao novo método, além da ausência de fortalecimento da estrutura de laboratórios qualificado de patologia clínica para a certificação da eficácia do tratamento.

“Nos causa estranheza o fato do Ministério da Saúde mudar a forma de tratamento da doença pouco tempo após considerar que a hanseníase é uma doença negligenciada no país (subnotificada)”, manifestou Cícero Fraga Melo, Coordenador Programa Estadual de Controle da Hanseníase.

O Brasil ainda é o segundo país no mundo com maior registro de pessoas com hanseníase. Em 2017 foram notificado 26.750 casos novos o que representou um aumento 1.550 casos em um ano comparando-se aos dados de 2016.

“Há um clima de apreensão entre os profissionais da saúde pública de Mato Grosso, onde o registro da doença é o maior do país, com 3.400 novos casos em 2017. O Estado tem características peculiares e um alto índice bacilar e nem sempre, nesses casos, as seis doses são suficientes, algumas vezes nem doze doses são o suficiente para a cura do paciente”, destacou Rejane Conde Finotti, Técnica do Programa Estadual de Controle da Hanseníase da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MT).

Mato Grosso registra a maior taxa de detecção de novos casos da doença, resultado da Política Estadual de Enfrentamento da Hanseníase adotada pelo atual governo e que vem sendo executada em parceria com os municípios.

O Plano Estadual reformulado foi publicado em janeiro deste ano e prevê o fortalecimento da rede básica de saúde nos municípios. De acordo com informação do Ministério da Saúde, 70% dos casos novos da doença são diagnosticados nos municípios.

Abaixo assinado

A Rede Universitária Nacional de Combate à Hanseníase – REUNA realizou um abaixo assinado com assinaturas de profissionais da saúde de 18 Estados e do Distrito Federal, no qual reivindica basicamente que “Que a adoção do MDT U em nível nacional não aconteça enquanto não se acumularem evidências cientificas da eficácia do esquema proposto em mais estudos clínicos, dentro do rigor e princípios da pesquisa, bem como da discussão amplificada entre os atores que participam nas estratégias de controle da endemia, incluindo profissionais de saúde, gestores, pesquisadores, usuários e sociedade civil organizada, tendo como objetivo final a melhor e mais integral atenção à pessoa com hanseníase e seus familiares, e que haja uma discussão mais ampla. Defendemos que a implantação do MDT U constitui uma medida precoce, que pode agravar a situação da Hanseníase no Brasil”.

O documento foi protocolado no Ministério da Saúde e foi apresentado aos técnicos da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MT).

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