As formas de prevenção, de diagnóstico e as alternativas de tratamento para pessoas vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) foram debatidas durante audiência pública realizada nesta quinta-feira (26), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
A audiência foi requerida pelo deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB), com o objetivo de promover a conscientização sobre a doença, que é uma das maiores causas de morte e incapacidade do mundo, e de debater o projeto de lei nº 410/2017, de sua autoria, que institui o Dia Estadual de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral (AVC).
“Assim como no Brasil e em todo o mundo, em Mato Grosso também temos índices elevados de AVC. Essa é uma doença silenciosa, que mata muitas pessoas, por isso precisamos falar sobre as formas de prevenção e cobrar mais investimentos por parte do Poder Público para garantir atendimento adequado às vítimas e o tratamento necessário para sua reabilitação”, declarou o parlamentar.
O presidente da Associação Acidente Vascular Cerebral de Cuiabá (AAVCC), Orlando Serafim de Oliveira Filho, agradeceu ao deputado pela iniciativa e reivindicou a criação de um Centro de Tratamento de AVC em Cuiabá.
“A Associação foi criada em 2011 e desde então temos caminhado sozinhos, sem apoio nenhum do Poder Público. Agradeço muito ao deputado Guilherme Maluf, que nos ouviu e abraçou a nossa causa. Estamos muito felizes em saber que contamos com a sua parceria e será muito importante a criação de um dia para debater o assunto no estado. Muito importante também é a criação de um Centro de Tratamento para as pessoas vítimas de AVC, pois hoje enfrentamos uma dificuldade enorme para fazer exames e conseguir tratamento pelo SUS. Essa é a nossa maior luta”, relatou, emocionado.
Tratamento – A agilidade no diagnóstico e a realização de um tratamento adequado podem salvar vidas e reduzir muito as sequelas causadas pelo AVC, segundo o presidente da Sociedade Mato-Grossense de Neurologia, Wilson Novais.
“Um atendimento hospitalar rápido e eficiente é fundamental para o tratamento do AVC e vale a pena investir nisso, pois um paciente não tratado pode ter sequelas graves, gerando ainda mais gastos aos cofres públicos”, observou.
Segundo o especialista, a deficiência estrutural da rede pública de saúde, no que se refere ao tratamento do AVC, agravou-se ainda mais após o fechamento da sala de hemodinâmica do Hospital São Benedito. O procedimento consiste na desobstrução das artérias para retirada do coágulo e é fundamental para a preservação da vida dos pacientes.
“O Hospital São Benedito possui o equipamento de hemodinâmica mais moderno de Mato Grosso, mas há 10 meses ele está parado. A sala de hemodinâmica da unidade precisa ser reativada o mais rápido possível”, frisou.
Dados apresentados por Wilson Novais apontam que a cada minuto uma pessoa sofre um AVC no Brasil. A doença é a terceira maior causa de mortes no mundo e o tratamento das vítimas consome 3% do orçamento da saúde pública mundial.
Parceria -A reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Myrian Serra, fez um relato sobre o AVC que sofreu em dezembro de 2016 e destacou a importância do tratamento rápido e eficiente que, no seu caso, possibilitou a total reabilitação. Myrian também colocou a universidade à disposição para eventuais parcerias visando o atendimento de pessoas vítimas da doença.
“Acho que eu posso contribuir instigando a nossa faculdade de medicina e o nosso hospital, para que possamos constituir no nosso hospital uma competência em neurocirurgia e também possamos receber a população com atendimento adequado. Nesse momento o hospital ainda não tem uma competência instalada, mas nós temos o capital humano e acredito que será possível sim, em um tempo breve, talvez junto com vocês, realizarmos atendimentos de situações de emergência ou de neurocirurgia. Estou disposta a contribuir com o que for possível”, declarou.
Capacitação de agentes públicos – Levantamentos apresentados pelo médico especialista em saúde da família Cleo Borges apontam que o Brasil está muito aquém de outros países, no que se refere ao atendimento básico de saúde.
Com base nesses levantamentos, segundo ele, é possível afirmar que mesmo com 100% de cobertura em Atenção Primária à Saúde (APS) de alguns municípios, não será possível detectar os sinais do início da doença devido à sobrecarga das equipes de saúde. “As unidades públicas de saúde estão lotadas, então nós nunca vamos conseguir atacar a doença no início dela”, ressaltou.
Diante do cenário apresentado, o deputado Guilherme Maluf convidou os presentes para o auxiliarem na realização de um evento político, visando à capacitação de prefeitos e vereadores sobre atenção básica de saúde.
“Vamos fazer um evento político para discutir a atenção básica do nosso estado. Cada prefeito trata a atenção básica de uma forma e isso, no meu ponto de vista, somado ao desfinanciamento do setor, leva ao caos da saúde em Mato Grosso. Entendo que é necessário capacitar esses agentes políticos antes de qualquer coisa”, afirmou.
Esperança -O debate promovido na Assembleia Legislativa e a possibilidade de aprovação do projeto de lei e de realização de ações voltadas ao tratamento do AVC representam uma esperança para o aposentado Valter da Silva Aguiar. Com 68 anos, ele sofreu quatro AVC’s e carrega sequelas da doença, agravadas pela falta de atendimento adequado.
“Eu não tinha informação sobre o AVC. Hoje sei que posso prevenir e mudei muitos hábitos em minha rotina. É muito bom ver que estão tentando levar informações para mais pessoas e também melhorar o atendimento do AVC”, disse.