Laudo do IML aponta que jovem morto em festa tinha doença cardíaca

Redação PH

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Laudo do IML aponta que jovem morto em festa tinha doença cardíaca

Um laudo do Instituto Médico Legal de Bauru (SP) emitido nesta terça-feira (3) apontou que o estudante Humberto Moura Fonseca, que morreu no último sábado (28) após participar de uma competição de resistência à bebida em uma festa universitária, sofria de cardiopatia. Segundo o laudo, os problemas no coração podem ter sido potencializados pelo consumo exagerado de álcool. O jovem morreu vítima de infarto, como havia apontado o exame inicial.

Segundo o diretor do IML, Roberto Carlos Echeverria, Humberto apresentava uma cardiopatia dilatada – o coração dele era maior do que o normal – e também um estreitamento das coronárias, que causa uma redução da quantidade de sangue levada à musculatura e favorece o infarto no miocárdio, justamente o músculo do coração.

Ainda de acordo com o diretor, o legista responsável pelo laudo encontrou vestígios, espécies de cicatrizes no coração, que sugerem que o estudante sofreu pequenos e imperceptíveis infartos ao longo da vida. “É muito provável que a ingestão da quantidade tão grande de álcool tenha potencializado a doença pré-existente”, afirma.

De acordo com o cardiologista Roberto Berber, o consumo do álcool pode agravar problemas de saúde já existentes, especialmente no caso de cardiopatia. "O álcool é agressor do coração em qualquer situação, mas, no caso de uma doença pré-existente, o órgão é mais sensível, então ele tem muito mais chances de desenvolver um problema e realmente agravar a situação no caso de ingestão excessiva do que uma pessoa saudável", explica.
O irmão de Humberto, Henrique Moura Fonseca, disse em entrevista ao TEM Notícias que o jovem era saúdável e praticava esportes. Mas, ainda de acordo com o especialista, é possível que a pessoa apresente um problema no coração sem que ela perceba até passar por um situação de risco. "Os sintomas costumam se desenvolver lentamente e de forma progressiva, por isso, é bem frequente que a pessoa não se dê conta deles, ache que é um cansaço diário e acabe descobrindo em uma situação mais avançada ou de risco", completa.

A mãe do jovem, Josely Pinto de Moura, afirma que ele nunca apresentou nenhum problema de coração e contestou o laudo emitido pelo IML. "Não é verdade, ele infartou em função do acontecido, mas ele não tinha nenhuma cardiopatia e nem tem laudo disso", afirma.

Investigações

Independente do resultado final do laudo do IML, a Polícia Civil continua as investigações do caso e não descarta a possibilidade dos responsáveis pela organização do evento responderem por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, uma vez que eles não tinham alvará para comercializar bebidas alcoólicas e a festa não apresentava estrutura adequada para atender as pessoas que tivessem algum mal estar.

As investigações também apontam que havia disputas que incentivavam o consumo de bebida alcoólica. Além disso, um vídeo divulgado em redes sociais mostra o momento em que Humberto participava da competição. Vários estudantes estão sentados em uma grande mesa, com copos plásticos que são abastecidos com vodca, em meio a um clima de festa. "É um shot por minuto", diz um rapaz, em referência à regra da disputa: tomar uma dose de vodca a cada 60 segundos.

Outras três pessoas foram internadas também por ingestão excessiva de álcool. Duas delas já tiveram alta do hospital. Matheus Pierri Carvalho, estudante de engenharia elétrica, teve alta na segunda-feira (2). A estudante de Sorocaba (SP), Juliana Tiburcio Gomes, de 19 anos, que também entrou em coma alcoólico na festa, deixou o hospital na terça-feira (3).

Já Gabriela Alves Correa, de 23 anos, continua internada no Hospital Estadual, no quarto, e o estado dela é considerada estável, mas não há previsão de alta hospitalar.

Segredo de Justiça

As investigações sobre a morte do jovem passaram a correr em segredo de Justiça a partir desta terça-feira (3), decretado pelo delegado Kleber Granja, responsável pelo caso. Segundo Granja, as investigações são muito complexas. “A Polícia Civil foi transparente em todas as informações úteis para a sociedade”, explica.

A polícia solicitou um exame toxicológico para comprovar se Fonseca não ingeriu outra substância além de álcool. Foi pedido também exame dos estudantes que foram internados e um dos resultados já saiu, mas, com o sigilo decretado, somente no final do inquérito a polícia passará mais detalhes das investigações. A polícia também aguarda a análise do conteúdo das garrafas de vodca apreendidas no local da festa.

Responsabilidade

Dois estudantes do quarto ano de engenharia, responsáveis pela organização do evento, chegaram a ser presos no sábado (28), mas tiveram liberdade provisória decretada no dia seguinte. De acordo com a polícia, eles não tinham alvará da prefeitura e nem autorização para vender bebida alcoólica. Além disso, as investigações apontam que havia disputas que incentivavam o consumo de bebida alcoólica.

No entanto, a defesa dos organizadores nega que eles tinham conhecimento ou tivessem patrocinado qualquer competição envolvendo bebidas. “Um grupo resolveu, entre eles, competir quem bebia mais, sem qualquer conhecimento ou patrocínio dos organizadores”, explicou o advogado de defesa Luiz Celso de Barros.

Porém, o folder da festa já anunciava as disputas. Segundo o delegado seccional, Ricardo Luís Martines, a negação dos responsáveis em depoimentos sobre o planejamento das competições de bebida é rebatido com documentos que contradizem o advogado. “Comprovado por meio de documentação anexada ao inquérito, folder da festa, divulgação em redes sociais, por meio do vídeo que mostra claramente a competição, inclusive com o som do apito que identifica o início da competição”, completa.

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